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Manto da Padroeira e a mística no uniforme da seleção brasileira

A **Seleção Brasileira**, que este ano lutará pela conquista do **hexacampeonato mundial** nos gramados do Catar, tem uma relação **holística e transcendental** com seu uniforme, para o bem ou o mal. Há episódios antológicos, nos quais o traje, como se fosse mais um jogador, ganha forte identidade como protagonista ou vilão.

Uma dessas passagens ocorreu há 72 anos, na chamada “tragédia do Maracanã”, quando perdemos, de virada, a final da Copa do Mundo de 1950 para os uruguaios. Poucos se lembram, mas o goleiro Barbosa não foi o único responsabilizado pela derrota por parte da imprensa e a opinião pública.

A **camisa branca com golas azuis** também foi sumariamente condenada, sob a acusação de que não era “suficientemente nacionalista”. Expressando tal sentimento da torcida, o jornal carioca Correio da Manhã publicou editorial criticando-a pela “_falta de simbolismo moral e psicológico_”.

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Oito anos depois da frustração pela perda do título no Rio de Janeiro, nossa seleção, já com a **tradicional indumentária amarela**, ganhou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1958.

O traje da finalíssima, embora **improvisado**, foi um dos **protagonistas da vitória**: alguns dias antes da partida, houve um sorteio para decidir a cor da camisa dos times, pois os adversários, os donos da casa, também vestiam amarelo. Perdemos. Por isso, foi necessário **comprar às pressas** um lote de camisetas azuis para a decisão.

A mudança parecia **afetar os jogadores**, já acostumados a jogar com a jaqueta canarinho. Percebendo o risco dessa reação emocional, o chefe da delegação, Dr. Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, reuniu o elenco antes do jogo e enfatizou: “_Eu quis que vocês jogassem de azul porque é a **cor do manto de Nossa Senhora Aparecida**, que está conosco_”.

![Foto: Cortesia/FIFA](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/brasilcopadomundo1958fifa_729x486_7ac64dcae0.jpg)

O resultado todos conhecem! Sob as bênçãos da Padroeira, a seleção passeou no gramado do Estádio Rasunda, na cidade de Solna, batendo a Suécia por cinco a dois. Foram **dois de Pelé, dois de Vavá e um de Zagalo**. Desde então, o azul foi **oficializado** como segundo uniforme da seleção.

Transcorridos 64 anos da histórica conquista e às vésperas de tentarmos ganhar o sexto título mundial, é importante entender que, **mais do que nunca, o uniforme tem significativos efeitos no desempenho da seleção**.

Aliás, não apenas da nossa, mas de todas as que participarão da Copa do Catar, assim como da grande maioria dos times de futebol profissional e demais esportes. Agora, a influência não tem apenas fatores emocionais, psicológicos, supersticiosos ou religiosos. Estamos falando de **tecnologia**!

O notável avanço dos equipamentos industriais, materiais, fios, fibras, tecidos e confecção resultaram em trajes de competição que **reduzem a resistência do ar e da água** nas disputas do atletismo e da natação e nos jogos de futebol, basquete, vôlei e outras modalidades.

![Foto: Lucas Figueiredo/CBF](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/brasil_1_x_3_suecia_amistoso_feminino_c81f2291eb.jpg)

São **mais leves**, não retêm o suor, não irritam a pele, garantem plena ventilação, aumentam a microcirculação sanguínea, retardam a fadiga muscular e aceleram a recuperação, podendo até mesmo **monitorar eletronicamente a performance**.

Exemplo dessa evolução é o uniforme do futebol. Até o início dos anos 80, o material utilizado retia o suor. Um jogador perde de dois a três quilos durante o jogo. Metade disso ficava na camisa. Aí, veio outro tipo de fibra, utilizado pela primeira vez pela Seleção Brasileira na Copa do México, em 1986.

Porém, o suor permanecia retido, **agregando peso e esfriando o corpo** do atleta. A partir dos anos 90, surgiram novos materiais, fibras e tecnologias de acabamento e fabricação. Tecidos inteligentes absorvem o suor e propiciam **rápida evaporação**. Hoje, 24 anos depois do primeiro modelo desse tipo de camisa, a atual é 13% mais leve e tem passagem de ar 7% mais efetiva.

![Foto: Agência Brasil](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/cd09b08bc7da914b2e8835e06f331c9e_d82d941849.jpg)

A melhor notícia é que esses avanços também **beneficiam os consumidores**, pois são aplicados na produção regular do vestuário. Entretanto, os uniformes que vestirão as seleções no Catar, assim como as roupas de nosso dia a dia, não chegaram ao limite da evolução tecnológica.

Estão em curso a Manufatura Avançada e o desenvolvimento de novas fibras e acabamentos, e **o setor têxtil e de confecção brasileiro é um dos protagonistas** desses avanços.

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/torcidacanarinho_590x393_3e4bc60751.jpg)

Cabe, ainda, uma redentora reflexão. Em plena era do conhecimento, da informação e da tecnologia, é preciso, finalmente, fazer **justiça histórica**, inocentando o goleiro Barbosa e a camisa branca, que obviamente não podem ser condenados pela derrota de 1950.

Algo, contudo, permanece inabalável para milhões de brasileiros: **a fé em Nossa Senhora Aparecida**!

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/238_c19ba2d6d9.png)

*_Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)_

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