As enchentes na Asa Norte não são nenhuma novidade em Brasília, e as alagações da sexta-feira, dia 9 de fevereiro, foram um lembrete da situação em que a capital se encontra. As redes de drenagem foram construídas há 60 anos, durante a construção da Asa Norte e acabaram finalizadas de acordo com as necessidades da época.
Segundo com o professor da Universidade de Brasília (UnB), Henrique Marinho, da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Engenharia Florestal (EFL), as mudanças climáticas são um dos fatores que auxiliam na formação das enchentes, devido ao aumento no volume de chuva. Além disso, a construção do estacionamentos no Estádio Nacional Mané Garrincha, também podem ser um fator.
As informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) são de que “em janeiro, a estação convencional de Brasília (DF) registrou o total de chuva de 389,7 milímetros (mm). O valor é 89% acima da Normal Climatológica (1991-2020), que é de 206 mm.
Em todo o mês, foram registrados 21 dias com chuva igual ou superior a 1,0 milímetro. O maior acumulado de chuva em 24h foi de 69,7 mm, no dia 3. As obras também contribuem, além de diminuir a capacidade da captação natural da água, ainda há o problema de detritos, que entopem as galerias.
“No Setor Bancário Norte, por exemplo, e em outras regiões da Asa Norte e Noroeste, que estão gerando uma grande quantidade de sedimento nesses canteiros de obras, a gente vê pela rua e isso também afeta, entope as galerias”, afirmou o professor.
Embora apelidada de Planalto Central, Brasília não é uma cidade nivelada, com base no mapa topográfico. Isso porque pode-se notar que a região perto do estádio é uma parte mais elevada da cidade, enquanto, em volta dele, a elevação é mais baixa.
Por esse motivo, as águas da chuva (quando em grande volume) se comportam como um “rio” e acabam nas regiões mais baixas da cidade, se acumulando em pontos baixos, que não tem escoamento de água suficiente para o volume.
Sobre as chuvas do dia 9 de fevereiro, o professor fez um cálculo chegando à UnB (em apenas uma pequena área) e concluiu que as águas que estavam sendo escoadas para a universidade chegavam na faixa de 2 mil litros por segundo.
“Um prédio da UnB foi 1 milhão de litros”, disse o especialista ao avaliar que, naquele dia, a chuva resultou no alagamento da universidade do DF.
Medidas
O Governo do Distrito Federal (GDF) começou o projeto Drenar DF, que é um programa de escoamento de águas pluviais. De acordo com a Terracap, o programa duplicará a capacidade de escoamento da região, sem modificar a rede existente.
Segundo o professor Henrique Marinho, é preciso realizar um estudo com a pluviosidade (volume de chuva) atualizada para que as novas necessidades de escoamento sejam identificadas. “Os projetos aqui são feitos com base em dados históricos passados”.
Entre as soluções temporárias, estão a caixa de detenção e o “piscinão”, que já existe em outras cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Ambos os métodos acumulam água e a escoam de maneira moderada ao longo do tempo. Os moradores do bairro são os que mais sofrem com as condições, então uma consulta pública poderia ser feita para definir as prioridades da população local.
À reportagem, a Secretaria de Obras e Infraestrutura do Distrito Federal (SODF) disse que: “A solução do problema, no entanto, já está em andamento. Trata-se do projeto Drenar DF desenvolvido e tocado pela Terracap.”
“A Novacap informa que realiza a limpeza das bocas de lobo e das bacias de detenção de drenagem ao longo de todo ano. É importante a participação da população na manutenção dos sistemas de drenagem, dentro das ações de monitoramento e informação à Novacap, em caso de mau funcionamento. Tais medidas são fundamentais na conservação dos dispositivos. Para isso, a comunidade deve evitar jogar lixo, material descartável e resto de obras nas ruas, pois os materiais são carreados para o sistema de drenagem, o que prejudica significativamente sua funcionalidade e pode ocasionar alagamentos, entre outros transtornos. Nesse sentido, reforçamos a responsabilidade da população na preservação, no monitoramento e aviso à Novacap em caso de alguma anomalia no funcionamento dos dispositivos de drenagem pluvial urbana, através da Central 162”.