No Dia Mundial do Oceano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participou do Fórum Internacional em Mônaco com um discurso contundente em defesa dos mares e cobrou mais financiamento internacional para a preservação dos ecossistemas marinhos. Em tom crítico, Lula disse que o planeta “não aguenta mais promessas não cumpridas” e apelou por um “mutirão” global, para salvar os oceanos e impulsionar a chamada economia azul.
O evento aconteceu no Instituto Oceanográfico de Mônaco, um dos mais tradicionais centros de pesquisa marinha do mundo, projetado sobre as águas do Mar Mediterrâneo. O presidente destacou a importância econômica e ambiental dos oceanos, citando dados impactantes: mais de 80% do comércio internacional passa pelo mar, 97% dos dados digitais trafegam por cabos submarinos, e o oceano movimenta US$ 2,6 trilhões por ano, o que o colocaria entre as cinco maiores economias do mundo, se fosse um país.
Apesar disso, Lula alertou para a falta de reconhecimento e financiamento. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, voltado para a conservação da vida marinha, é um dos que menos recebem recursos da Agenda 2030 da ONU. Segundo ele, o déficit para a implementação desse objetivo gira em torno de US$ 150 bilhões anuais.
“A questão não é falta de dinheiro, é falta de compromisso político”, disparou o presidente. Ele citou a redução de 7% na Assistência Oficial ao Desenvolvimento por parte dos países ricos em 2024, contrastando com um aumento de 9,4% nos gastos militares. “Isso mostra que a escolha é política”, reforçou.
Lula também destacou o protagonismo do Brasil na agenda ambiental. Segundo ele, a presidência brasileira do G20 colocou os oceanos entre os temas centrais e o país tem investido em uma série de ações práticas. Entre os exemplos citados estão o programa Bolsa Verde, que transfere renda a mais de 12 mil famílias responsáveis por preservar áreas marinhas, e uma carteira de mais de US$ 70 milhões do BNDES dedicada à economia azul.
O presidente defendeu ainda medidas como a troca de dívida por desenvolvimento, o uso de direitos especiais de saque, e a desburocratização do acesso a fundos climáticos. Ressaltou a importância de acordos multilaterais em andamento, como o novo tratado de biodiversidade em águas internacionais e o pacto para reduzir as emissões do setor marítimo até 2050.
Lula criticou o que classificou como inércia internacional.
“Saímos da COP de Baku com resultados aquém do esperado. A próxima Conferência de Sevilha, mesmo com o esforço da Espanha, pode repetir o mesmo roteiro. É urgente mudar isso”, disse.
Encerrando sua fala, Lula afirmou que não há saída individual para desafios coletivos. “Ou nós agimos, ou o planeta corre risco”, concluiu, fazendo um apelo direto à comunidade internacional por mais ação concreta e menos promessas.