Recentemente, o aluno de uma academia no Ceará, Regilaneo da Silva Inácio, 42 anos, foi vítima de um traumatismo grave na coluna amplamente noticiado. A lesão ocorreu após parte de um aparelho de 150 quilos cair sobre seu pescoço, em 4 de agosto. Apesar de o paciente passar por uma cirurgia para realinhamento ósseo e descompressão da medula, a chance de voltar a andar é de menos de 1%.
Esse é um dos exemplos de acidentes em academias que geram lesões na coluna, mas há inúmeros outros casos de pacientes lesionados por executarem exercícios de forma incorreta. Quem explica é o ortopedista com especialização em cirurgia da coluna, Rodrigo Lima, que também fala quais são os tratamentos mais avançados disponíveis.
“Na verdade, o que aconteceu com o Regilaneo foi uma fatalidade. Esse tipo de acidente grave que atinge a medula óssea é muito raro de acontecer. Foi uma combinação infeliz de acontecimentos que culmino neste episódio. De qualquer maneira, é muito importante estar sempre atento durante os treinos para evitar esse tipo de ocorrência e também as demais lesões mais frequentes geradas pelos exercícios feitos de maneira errada”, alerta.
Segundo ele, no consultório, as doenças degenerativas da coluna mais comuns são aquelas causadas pelo desgaste das articulações e dos discos intervertebrais (estruturas cartilaginosas em forma de anel que evitam o atrito entre uma vértebra e outra, amortecendo o impacto). Essas doenças podem estar associadas às hérnias de discos com dores ciáticas.
“As hérnias discais são as doenças mais prevalentes relacionadas ao excesso de peso nos treinos ou aos exercícios realizados de forma errada por causa da postura e a execução de forma errônea. Isso também pode gerar lesões em outras articulações como ombros e joelhos”, acrescenta.
O médico ressalta que, a depender da lesão, pode ocorrera a incapacidade funcional. “Ele pode ficar impossibilitado de praticar atividades físicas por alguns dias ou semanas e também não conseguirá exercer funções profissionais. Em lesões mais graves, por ser necessário o tratamento cirúrgico, e o paciente ficar meses afastados das práticas físicas”, descreve o cirurgião de coluna.
Tratamento – Geralmente, nas lesões leves, o tratamento é feito com a prescrição de repouso, anti-inflamatórios e reabilitação fisioterapêutica. Já nos casos mais graves, como hérnias extrusas, que ocorrem devido à protrusão do disco, associado ao déficit neurológico, o tratamento cirúrgico deverá ser indicado.
Rodrigo Lima explica que, diferente do passado, quando as cirurgias eram realizadas com grandes incisões e cortes que geravam amplas lesões musculares, as técnicas cirúrgicas geram bem menos desgaste com a grande evolução de aparelhos.
“Atualmente, contamos com tecnologias robóticas e neuronavegadas disponíveis para o tratamento das doenças. Elas permitem maior precisão e incisões cada vez menores, com alta hospitalar no dia seguinte e rápido retorno às atividades. A neuronaveção consiste na utilização de um software que consegue unir a imagem de exames realizados antes do procedimento à anatomia do paciente em tempo real durante a cirurgia Nesses casos, ao invés de grandes incisões, o aparelho realiza a operação por intermédio de um pequeno acesso”, explicou.
A indicação de cirurgia ocorre somente em 10 a 15% dos casos, já que a maioria dos pacientes melhora após com o tratamento conservador e reabilitação. Em casos muito graves, como as lesões completas da medula espinal a exemplo de Regilaneo, a recuperação pode não ser possível, pois uma vez que ocorre a lesão medular ela será irreversível. Apesar do déficit neurológico com a perda dos movimentos permanentes, a cirurgia está indicada para realizar estabilização e melhora da dor.