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Leonardo Ces: uma nova forma de se relacionar com o dinheiro

Na hora de acumular e gerenciar patrimônio, é essencial entender e identificar o seu perfil comportamental
Foto: Divulgação

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A busca por conseguir fazer sobrar dinheiro no final do mês ou ao menos controlar os impulsos das gastanças é algo há muito tempo feito pela maioria da população e na maioria das vezes sem sucesso. Recentemente, fui convidado para dar uma entrevista sobre “como se organizar para não comprometer o 13º salário antes mesmo de recebê-lo”. E a explicação para isso pode ser estendida e aproveitada de forma mais ampla, pois a mesma teoria que pode te ajudar a não comprometer o 13º também te ajudará a poupar e acumular patrimônio.

Para tentar simplificar um assunto nada simples, vou trazer esse conceito e três etapas:

Entenda que dinheiro não é matemática e sim psicologia – o grande problema da maioria das pessoas é que para economizar dinheiro e fazê-lo sobrar em vez de faltar, recorrem às tão temidas planilhas e começam a anotar tudo. Não que isso não seja importante, mas seria como se para emagrecer você começasse a anotar tudo que come em vez de entender por que você come o que come e na quantidade que come.

Vamos para alguns conceitos de psicologia. Gastar dinheiro ativa uma região do cérebro que se chama tegmental ventral, responsável pela liberação da dopamina, substância responsável pela sensação de prazer. Essa mesma substância é liberada ao comer chocolate, por exemplo. Ela percorre o cérebro até uma região chamada córtex pré-frontal, que é a parte racional do cérebro responsável por te dar o sentimento de saciedade (não seria legal comer chocolate até passar mal, certo?). Então, você começa a comer chocolate outras vezes, pois você quer sentir aquela felicidade que sentiu antes. Mas a parte racional do cérebro já entende as consequências negativas que aquilo pode trazer e te manda mensagem para não comer mais, gerando aquele famoso conflito de “eu quero muito, sei que não devo, mas só um pouco não faz mal, só hoje, etc”. Essa é a briga da parte responsável pela emoção gerada com a razão do fato.

A mesma coisa acontece quando você gasta dinheiro. O prazer de gastar dinheiro toma conta e, logo na sequência, a parte racional do cérebro te manda mensagem dizendo que você não deveria ter feito aquilo, gerando um sentimento de culpa. Em resumo, quando você entende que você ativa quimicamente uma sensação de prazer ao gastar dinheiro, você começa a entender por onde deve começar a se trabalhar para conseguir fazer a virada de chave mental para poupar e acumular patrimônio.

Substitua o chocolate por uma tâmara ou outra fruta. Quantas pessoas já escutaram orientações como essa para conseguir reduzir o consumo de chocolate ou de doces. E está correto, você precisa ensinar seu cérebro que existem outras coisas que também podem te dar prazer. E a melhor substituição para o gastar seria ensinar ao cérebro o prazer em poupar. E para isso, cada um vai achar a fruta que mais gosta para fazer a substituição, não existe regra. Você vai achar o “porquê” e o “como” poupar te traz felicidade. A partir daí, é acompanhar semanalmente (eu não disse mensalmente hein) essa substituição e aos poucos seu cérebro começa a liberar dopamina exatamente quando você poupa e não quando você gasta. Invertendo todo o resto daí para frente!

De forma simplificada, entenda os perfis comportamentais e descubra qual é o seu – O autoconhecimento é a melhor ferramenta para conseguir criar regras e alcançar seus objetivos. Quando você tenta se enganar o único prejudicado é você mesmo. Temos quatro perfis principais quando falamos de dinheiro.

  • O medroso – Aquele que poupa sempre, de forma até mesquinha, com medo de tudo e de todos. Acumula patrimônio, e muito, na maioria das vezes sem desfrutar de quase nada que foi construído.
  • O descontrolado – Gasta como se não houvesse o amanhã. As dívidas aumentam de forma desregrada, pega dinheiro com agiota, familiares, não paga ninguém e normalmente sua vida se resume à míngua por todo esse descontrole
  • O controlado sem planejamento – Aquela pessoa que entra mês e sai mês e sempre tem a mesma coisa na conta, nunca aumenta e nunca diminui. Ou a pessoa que está sempre devendo, mas consegue manter a dívida sempre no mesmo patamar. Um mês deve um pouco mais, outro um pouco menos, mas está sempre muito próximo de um valor médio. Pagando os altos juros de banco, esse é um controle mais difícil do que se planejar.
  • O controlado com planejamento – Aquele que já entendeu que ele consegue se organizar e começa a montar um planejamento. O mesmo perfil anterior, mas que ao se conhecer um pouco mais, percebe que com pouca organização já fica possível começar a acumular dinheiro.

Defina seu novo “zero”

É muito comum pensarmos no zero como sendo o próprio numeral “zero”. E podemos fazer alguns ajustes mentais nesse caso quando tratamos de dinheiro. Se você deve sempre R$ 5 mil, por exemplo, pagando juros para o banco, às vezes essa dívida aumenta um pouco, às vezes diminui. Você já internalizou que seu zero é R$ 5 mil reais, e isso vai te atrapalhar a sair disso. Traga um novo zero mental para – R$ 2 mil, por exemplo, e aos poucos você verá sua dívida diminuindo.

Quando essa meta for alcançada, você aumenta novamente o valor e, assim sucessivamente, até alcançar o montante de dinheiro que está buscando. Muitas pessoas, mesmo que não devam, têm sempre o mesmo valor em conta, por exemplo, R$ 50 mil. E não tem nada que faça essa quantia aumentar. De novo, a lógica é a mesma da anterior, o “zero” em questão aqui são esses cinquenta mil reais que precisam ser reajustados mentalmente para sessenta mil reais por exemplo e aos poucos ir sendo ajustado para cima à medida que as metas forem sendo alcançadas.

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@leonardoces

*Artigo escrito por Leonardo Ces para a revista GPS 38