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Lemuel Gandara, artista que expôs no Louvre, traz mostra para Brasília

"Elementos: Uma coleção para iluminar" é o nome da nova exposição do artista brasileiro, que concedeu entrevista exclusiva ao GPS|Lifetime

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Com 16 obras, a exposição “Elementos: Uma coleção para iluminar”, do artista plástico Lemuel Gandara será lançada às 19h, deste sábado (15), no Shopping Pátio Capital. Goiano e radicado em Brasília, o artista concedeu uma entrevista exclusiva ao GPS para contar um pouco mais sobre a mostra e sua a carreira, que se tornou internacional. Em outubro de 2022, algumas criações de Gandara chegaram a ser apresentadas no Salão Internacional de Arte Contemporânea – Carrousel du Louvre, no Museu do Louvre, em Paris.

 

Nessa nova coleção, as obras possuem diversos formatos e abordagens, que transitam entre abstrato, como as que foram batizadas de “Energia” e “Formação”, passam pelo expressionismo (“Oxigênio” e “Marés”) e apresentam um sentido figurativo (“Eterea”). A curadoria é de Mariana Lima e Augusto Niemar. Mariana é colecionadora e connaisseuse de arte contemporânea. Niemar é um dos mais celebrados poetas contemporâneos. Autor de Poemas da Rua do Fogo e Era uma vez uma vez outra vez.

 

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Pintura Atmosfera. (Foto: Divulgação).

 

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

 

Sobre a exposição “Elementos: Uma coleção para iluminar”, o que ela traz de novo?

O início de “Elementos: Uma coleção para iluminar” foi à comission (encomenda) que celebrei com a Clínica Mariana Lima. A fundadora, Mariana Lima, acompanhava meu trabalho nas redes sociais e entrou em contato para que eu criasse algumas obras de arte exclusivas para a clínica. Tivemos algumas reuniões para definir quais os caminhos estéticos e abordagens técnicas, pois meu objetivo era traduzir em arte as motivações de Mariana, sem perder de vista meu estilo fundamentado em abstrações poéticas transcendentes e no tempo das emoções.

 

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Artista Lemuel Gandara desenho “Formação”. (Foto: Divulgação)

Qual é o conceito da exposição?

A ideia era criar obras com muitas linhas, transparências e formas aladas. Quando concluí a primeira tela (nomeada “Formação” e que tem mais de dois metros de largura), intuí que poderia criar uma coleção inteira. A concepção foi inspirada na moda, pois gosto muito desta estrutura de organização de ideias, ou seja, uma coleção com um tema condutor a ser exibida ao público completa apenas em um momento específico e, depois, cada obra segue seu caminho e encontra seu “lar”. A perspectiva dos elementos surgiu aos poucos e se consolidou quando concluí a tela “Energia”. Eu olhei o conjunto criado até aquele momento (dez ao total) e encontrei muita formas, texturas, luzes e cores que evocavam a água, a terra, o fogo, o ar e o éter sem ser genérico ou clichê; conversei com Mariana Lima e ela disse que a lembrava os elementos e que ela se sentia muito emocionada ao ver as obras, o que me pareceu coeso e consistente.

 

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Detalhe da obra Harmonia. (Foto: Divulgação)

Quem realiza a curadoria da exposição?

Mariana Lima assumiu a atividade curatorial ao lado do poeta e professor da UnB Augusto Niemar. O resultado é uma coleção inovadora em sua estrutura e na forma que será apresentada ao público, pois a Clínica Mariana Lima, além de receber as obras encomendadas, também se tornou um espaço alternativo para a exposição, e na proposta imagética que leva o tema dos elementos para o plano sensível. A ideia de “Uma coleção para iluminar” veio da minha concepção de que a arte é um meio para que nos iluminemos interiormente e sejamos melhores como indivíduos no mundo. A arte é um caminho para um mundo melhor e mais belo.

 

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Mariana Lima. (Foto: Divulgação)

 

Entre as obras da exposição “Elementos: Uma coleção para iluminar”, há algumas delas você considera mais importante?

Cada obra tem uma história que a torna autêntica e única. Penso que todas são importantes à sua maneira e destaco três. “Formação” foi a primeira a ser concluída e movimentou o conceito elementar da coleção, gosto muito das texturas e da harmonia entre verde e dourado que ora lembra uma floresta ensolarada, ora o movimento do vento sobre as copas das árvores. A segunda é “Energia”. Em razão da exigência técnica e dos vários estudos para sua concepção, ela demorou cinco meses para ser concluída. São várias camadas com pontos monocromáticos derivados do azul, vermelho e amarelo. A terceira é “Eterea”, o único figurativo da coleção. Apresenta uma figura feminina criadora que movimenta a força das águas e dos ares, é sensível e também intensa ao mesmo tempo.

Quais obras exclusivas serão apresentadas aqui em Brasília, no próximo sábado (15), no Shopping Pátio Capital?

Toda a coleção exclusiva será apresentada em um momento único que jamais se repetirá em qualquer outro espaço. É uma exposição que se torna uma experiência visual rara e original, visto se tratar de um espaço alternativo (a Clínica em si) e com obras que visam aos diversos espaços no mundo, como lares e ambientes corporativos, visto que toda a coleção também será disponibilizada para aquisição pelo público e colecionadores. Gosto muito desse caráter etéreo da exposição, ela se encontra pelo fio condutor temático e criador e depois se dissipa no ar para que cada obra ganhe autonomia e ilumine o lugar onde ela estiver.

 

Quais obras já foram expostas por você no Museu do Louvre, em Paris?

Duas obras minhas foram exibidas no Salon International d’Art Contemporain – Carrousel du Louvre, no Museu do Louvre (Paris), no outono de 2022. São elas: “O retrato de Jag Ar” e “O retrato de Otho Pi”.  Ambas fazem parte da série “Ilustre Retrato” que propõe um diálogo visual fabular entre pintura e moda a partir do retrato de animais da fauna brasileira. Nos casos específicos, temos duas onças pintadas. Foi um momento marcante de minha carreira internacional e virou uma página importante, pois me senti mais livre para fluir após ter chegado nesse espaço tão importante para a arte mundial.

 

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O retrato de Jag Ar, uma das obras expostas em Paris. (Foto: Divulgação)

 

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O retrato de Otho Pi. (Foto: Divulgação)

Em quais outros países suas obras foram expostas?

Minhas obras já foram publicadas e expostas em diversos espaço e mídias das quais destaco: a V Bienal Europeia e Latino-Americana de Arte Contemporânea (na Finlândia), o Salon international d’art contemporain – Carrousel du Louvre (França) e o Festival Cultural do Brasil (Áustria), e as revistas Flora Fiction (Estados Unidos), The Purposeful Mayonnaise Journal (Canadá) e Encre[s] (França), esta última foi muito significativa para mim, pois seis obras foram publicadas nela, além da relevância que ela tem na área.

Qual exposição você considera mais importante na sua carreira?

Para mim, foi a exposição Metamundus (2022), minha primeira individual. Era um projeto inovador, já que foi umas das primeiras exposições no Metaverso realizadas por um artista de Brasília e uma das primeiras do Brasil. Também foi sensacional em razão de ela ter sido híbrida, o espaço virtual e as estações do metrô de Brasília. O mundo estava voltando às atividades pós-pandemia e expor em um local de fluxo, encontros, movimentos e sons foi maravilhoso. Foram 33 obras criadas ao longo da pandemia, elas refletiam minhas dúvidas, alegrias e esperanças em um momento histórico. O contato com o público diverso também foi incrível.

Fale um pouco da sua carreira. Quando teve início e, em que momento, as suas obras passaram a ser expostas internacionalmente?

Nasci artista. Minhas primeiras lembranças concretas são as em que pintava: eu sentava no meio da cozinha de casa e fazia de lá meu estúdio. Enquanto o mundo do lado de fora era sombrio (visto que cresci em um lugar muito violento em Goiás), dentro do meu mundo havia beleza e muitas cores. Por um viés mais pragmático, minha carreira começa a andar quando passei no mestrado em Literatura na Universidade de Brasília (UnB), logo depois fiz o doutorado. Nesse percurso acadêmico, retomei a arte criando peças para cartazes e algumas obras de design gráfico. O ano de 2018 foi fundamental. Nesse período, ilustrei o livro de poesia infantil Era uma vez uma vez outra vez, do poeta Augusto Niemar, obra que foi selecionada para a Bienal Brasil do Livro e da leitura, e o curta-metragem O cego da casa amarela ao lado de Joachim Nadar, filme este que passou em festivais em diversos países, incluindo o Festival de Tiradentes, um dos mais importantes do Brasil. Apesar de fazer arte, ainda me sentia distante do que realmente me fazia respirar. Em 2021, em uma conversa com dois grandes amigos, Adriana e Gabriel, eles me questionaram por qual razão eu não estava levando minhas pinturas para o mundo, por qual razão eu estava me escondendo. A pergunta foi tão impactante pelo fato de eu não ter uma resposta. A partir de então, eu decidi me conectar com a verdade interior que já habitava em mim desde criança. Isso foi libertador e o mundo respondeu com afirmação e muita rapidez, parecei que só estava faltando eu aceitar efetivamente as artes plásticas dentro de mim, pois ela já estava me esperando de braços abertos. No mesmo ano de 2021, um mês apenas depois da conversa com meus amigos, eu já estava com obras aceitas em exposições internacionais.
 

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