O juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, estabeleceu duas condições para substituir preventiva de Anna Christina Ramos Saicali. Investigada por suposto envolvimento em fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões na Americanas, a ex-diretora da varejista deve retornar ao Brasil terá de se apresentar às autoridades portuguesas e, assim que desembarcar no Brasil, terá de entregar seu passaporte à Polícia Federal.
As informações constam de despacho do juiz, que substituiu a ordem de prisão preventiva de Saicali por uma medida cautelar após a defesa da ex-diretora dizer que ela se comprometia a retornar ao Brasil. Para substituir a prisão preventiva pela ordem de proibição de deixar o Brasil, o magistrado estabeleceu as duas condições. O despacho foi assinado na noite desta sexta-feira (28).
“Anna Saicali deve apenas se apresentar às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, sem ser detida, nem algemada, nem passar por qualquer tipo de constrangimento ou vexame, sendo apenas acompanhada pelas autoridades policiais até o seu embarque no voo de volta ao Brasil, e recebida pelas autoridades policiais brasileiras, às quais deverá entregar seu passaporte conforme requerido pelo Ministério Público Federal, submetendo-se apenas à medida cautelar de proibição de ausentar-se do País”, anotou o juiz.
A defesa informou à Justiça que Anna tinha um voo marcado para o Brasil no dia 5 de julho. Segundo o juiz, a reserva foi realizada em 26 de junho, dia seguinte à decretação da prisão preventiva da ex-diretora da Americanas, sem que os advogados da empresária explicassem a mudança na data do retorno ao Brasil (inicialmente previsto para o próprio dia 26). Assim, o juiz seguiu uma sugestão consensual feita pela Polícia Federal, que, em sua avaliação, “atende ao mesmo tempo aos anseios da investigada e à boa administração da Justiça”.
Assim que Anna Saicali se apresentar no aeroporto de Lisboa, a Polícia Federal deverá comunicar a Justiça Federal no Rio, que vai excluir a ordem de prisão da ex-diretora da Americanas no Banco Nacional de Mandados de Prisão e comunicar a revogação do mandado à Interpol, vez que o nome da empresária foi incluído na lista de difusão vermelha da organização.
A defesa de Saicali ainda tem de apresentar ao juiz o comprovante de compra de passagem de retorno ao Brasil, com data deste domingo, para que a chefia da Interpol possa disponibilizar uma equipe para aguardar a chegada da investigada no aeroporto até quatro horas antes do horário de partida.
Ex-CEO é libertado
O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, investigado por participação nas supostas fraudes contábeis, foi solto neste sábado (29) e está em sua casa em Madri, na Espanha. Ele fora preso em Madri, na Espanha, na sexta-feira (28). Alvo principal da Operação Disclosure, Gutierrez entregou seu passaporte às autoridades brasileiras e espanholas.
Segundo nota divulgada pela defesa, o executivo “compareceu espontaneamente ante as autoridades policiais e jurisdicionais com o fim de prestas os esclarecimentos solicitados”. Os advogados dizem que o empresário está no “mesmo endereço comunicado desde 2023 às autoridades, onde sempre esteve à disposição dos diversos órgãos interessados nas investigações em curso”.
Segundo os investigadores da Operação Disclosure, Gutierrez teve envolvimento direto nas fraudes que vitimaram as lojas Americanas, “vez que participava do fechamento dos resultados”. Ele tinha a palavra final sobre os números supostamente inflados levados ao Conselho de Administração e ao mercado, diz a PF.
A investigação aponta que Miguel Gutierrez e Anna Christina Saicali teriam vendido mais de R$ 230 milhões (R$ 171,7 milhões e R$ 59,6 milhões, respectivamente) em ações da Americanas ante a possibilidade de as fraudes contábeis bilionárias da empresa se tornarem públicas. Os advogados do ex-CEO reforçaram que ele “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”.
“Diante do acesso aos auto, Miguel agora poderá exercer sua defesa frente às alegações originadas por delações mentirosas em relação a ele”, anotaram os defensores do executivo.