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Jovem talento, Augusto Corrêa apresenta sua primeira grande mostra

Augusto tem um universo próprio em seu infinito particular, já dizia a poeta. Encapsuladas em bolinhas, ou quadradinhos – fica a livre interpretação – , as cores expandem o olhar, explodem na alma. Decifrar a obra de Augusto é o convite a uma jornada lúdica. Sem tentativas para entender, apenas apreciar e navegar.

 

Assim tem sido desde os sete anos. Na escola, o melhor momento era a hora de pintar… bolinhas. Os pais Jack Corrêa e Tatiana Mares Guia contam que demoraram a entender o processo. Em qualquer tempo livre, ele se cercava de canetinhas, centenas delas em inúmeras cores e tons, e embarcava na sua criação.

“Era uma preocupação, até que simplesmente compreendemos que essa era a história dele e começamos a incentivar. Colocamos na escola de artes para que ele pudesse ampliar a técnica. Desenhou bolinhas em nanquim, aquarela, óleo… mas não deu certo, ele rapidamente voltou para suas infindáveis canetinhas. Especialmente pela forma seca e objetiva do traço”, explica Tatiana.

 

Portador da Síndrome de Down, desde o segundo dia de nascido os pais decidiram que o estimulariam em tudo o que fosse possível. A arte foi o pilar. Augusto conhece música erudita e toca violão perfeitamente. Esteve em museus de diversas partes do mundo, adora Van Gogh e Monet. No esporte ele também se destacou. Fez capoeira, mas encantou-se com Judô, o que lhe conferiu uma faixa preta, algo raro para suas limitações.

Tatiana diz que muitas vezes o coração aperta, mas não dá moleza para o filho. E o coloca para enfrentar todos os seus desafios. “Sua rotina não é simples. Ele malha, estuda, faz atividades extras, trabalha. Se esmera com a alfabetização e a fala ainda é a sua maior dificuldade. Ele tem compromissos e o queremos comprometido”, ensina ela, que também é mãe dedicada de Guilherme.

 

De onde vem as bolinhas?

 

O processo de Augusto é intuitivo, porém sistêmico. Ele inicia criando o contorno das bolinhas, sempre na cor preta. Repetidamente. Depois ele elege as cores num domínio imagético impressionante, e as distribui dentro da circunferência. Por fim, dependendo, ele ainda preenche o espaço entre elas. Há movimentos tão intensos que sequer enxerga-se a tela.

 

Tudo tem o seu ritmo próprio. Que somente Augusto entende. De repente surgem formas que se revelam em meio ao fluxo das bolinhas: a vela de um barco. Quem sabe a imagem de Jesus Cristo. Há uma Torre de Pisa. Um dos formatos mais especiais são os protozoários. Augusto sugere, mas não revela. Ele permite que o espectador crie a sua narrativa.

 

Se existe uma referência, uma inspiração? Tatiana não sabe definir. Mas ela arrisca ao relatar que ele tem verdadeira paixão pela Disney e todos os filmes do estúdio que o acompanham diariamente em seu processo criativo. “Tao logo finaliza seus afazeres diários, ele entra no seu quarto, liga nos filminhos, senta-se na mesa de trabalho com papel e canetinhas e, se deixar, não para”.

A arte em seu ofício

 

Sim, trabalho. Augusto entende que este é um ofício. Ele leva a sério, tem disciplina e metodologia. “Ele adora o trabalho dele, se orgulha e sempre diz que pretende ficar rico vendendo os quadros”, diz Tati, contando que desta vez, especialmente, ele entendeu a proporção que seus desenhos ganharam ao conhecer o fotógrafo Celso Junior, que assina a curadoria da exposição.

 

“O Augusto é apaixonante. Quando vi a sua obra fiquei admirado com a força e o vigor da sua arte. E quando o conheci, entendi tudo. Primeiramente o Augusto é amor puro. É um amor transmissível. Ele vibra, é intenso, tem foco e muita personalidade. Exatamente como seus desenhos”, desvenda Celso. “Ele é do mundo, e sabe disso”.

 

É fato. Augusto, aos 22 anos, tem planos concretos em seu admirável mundo sonhador. Os frutos financeiros que pretende colher com seu trabalho já tem destinação, segundo seus desejos. Ele pretende comprar um castelo na Disney para casar-se com Mariana, sua namorada de longa data.

 

Expor para expandir

 

A exposição Universos de Augusto Corrêa, produzida por Laura Almeida e Jack Júnior, traz 26 obras em tamanhos maximalistas que chegam a 2,20m de altura ou comprimento. As obras criadas foram digitalizadas e impressas em papel FineArt. Terão série limitada a sete unidades e estão apresentadas em padrão museológico. Universos integra o calendário do DF que celebra o Dia Internacional da Síndrome de Down, comemorado dia 21.  Na Câmara Legislativa, a mostra tem o apoio do deputado Robério Negreiros, atuante em causas ligadas a crianças especiais.

 

“Augusto é genial. Cativante, extremamente talentoso e seguro do que faz. Eu o vejo rompendo fronteiras e quero muito poder ser, ao lado da família que tanto se esmera, o agente que contribuirá para que estas bolinhas pipoquem por todos os cantos. Elas são portadoras de alegria, de esperança, de vida. É a mais pura forma de fazer arte. O mundo precisa do Augusto”, conclui o curador.

 

Serviço

Universos de Augusto Corrêa

Abertura dia 14 de março às 19h

No Espaço Cultural Athos Bulcão  – Câmara Legislativa

As obras ficarão expostas até o dia 23 de março de 2023 

 

Redação GPS

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