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João Vicente: Restaurantes chineses em Brasília; uma saga de hashi e frango xadrez

O público do primeiro restaurante chinês da cidade era basicamente diplomatas e funcionários de embaixadas asiática

O primeiro restaurante chinês de Brasília surgiu em 1965 e já chegou com um nome místico: Fada do Mar. Mas, como bom brasiliense preza pela simplicidade (e um certo desleixo com nomes), todo mundo só chamava de Restaurante Chinês”. Afinal, era o único da cidade — não tinha erro.

O público era basicamente diplomatas e funcionários de embaixadas asiáticas. Já os brasilienses? Olhavam desconfiados para aquele tal de pato laqueado e voltavam para suas zonas de conforto: Churrascaria do Lago, Kazebre 13, João do Frango ou um Beirute na 107.

O restaurante ficava na 106 Sul e foi aberto por um cara chamado Lin, que não era qualquer Lin: ele era o mestre-cuca da embaixada britânica. (Mestre-cuca, para os mais novos, era o antigo “chef”, só que sem a frescura de aventais estrelados e programas na TV).

Em 25 de janeiro de 1973, chegou um concorrente de peso: o Restaurante China. Sim, um nome minimalista e direto ao ponto. Na inauguração, Brasília parou: diplomatas de todos os cantos compareceram, parecia um evento da ONU. O embaixador da China Chu Fu-Sung cortou a faixa ao lado do dono do restaurante, Ting Ching Tsui, do embaixador da Austrália e de um tal de Yu-Tang Daniel Lew, que ninguém sabe direito quem era, mas estava lá.

Nos anos 80, o Restaurante China cresceu e se mudou para um prédio inteiro na 103 Sul. Virou ponto fixo da cidade e, pasmem, funciona até hoje! (Sim, se você for lá agora, corre o risco de sentar numa cadeira que já ouviu diplomatas discutindo a Guerra Fria).

Finalmente Brasília já estava pegando gosto pelo rolinho primavera, veio então uma reviravolta digna de novela chinesa: em abril de 1974, abriram um restaurante na Praça dos Três Poderes. Sim, no coração da política nacional! O Ran Gon surgiu onde Oscar Niemeyer havia planejado uma elegante casa de chá. O arquiteto ficou revoltadíssimo e desabafou numa entrevista:

“Aquele restaurante chinês que foi construído no lugar onde deveria ser uma casa de chá é um disparate de um mau gosto terrível.”

Ou seja, Brasília ganhou um restaurante chinês com vista para decisões que mudavam o país. Quem sabe, entre um frango xadrez e outro, políticos fecharam acordos que mudaram a história do Brasil?

Daí pra frente, Brasília virou um festival de shoyu e glutamato monossódico. Restaurantes chineses começaram a brotar como bambus depois da chuva:

  • 1976: nasce o Fon Pin na 403 Sul (e depois na 405 Sul) e o Restaurante Chinês do Sr. Su, na QSB 5 em Taguatinga.
  • 1979: chega o Nova China, no Setor de Diversões Sul, com um viveiro de lagostas, camarões e siris. Sim, você escolhia o bicho e ele virava sua janta.
  • Anos 80: surgem o Fhon Shian (201 Sul), o chinês da 212 Sul e o icônico Dragão Chinês, no Conic.

E aí, em 1984, Brasília ganha seu restaurante chinês mais peculiar: o Restaurante do Careca, na 302 Norte. Um micro-restaurante com apenas seis mesas, comandado por um chinês careca que abraçou o apelido e sua filha Hai Xia. O lugar era tão concorrido que, quando um cliente cruzava os talheres, Hai Xia mandava os clientes embora para liberar a mesa para os próximos na fila. E, curiosamente, isso fazia parte do charme do lugar, que depois mudou-se para a 407 Norte onde está até hoje (com algumas outras filiais).

Hoje, Brasília tem restaurantes chineses espalhados por todo canto, mas nada bate o charme desses primeiros anos.

Aliás, depois de falar tanto disso, deu vontade de um macarrão frito com chop suey, né? 

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