Toda cidade guarda histórias inusitadas, e Brasília, apesar de ser uma cidade jovem, não é exceção. Entre fábulas, invenções e mitos, há também muitos relatos reais que marcaram o período de sua construção. Reuni aqui alguns episódios divertidos e curiosos sobre personagens que viveram nessa época.
O primeiro deles é Obdego Batista, gerente da VASP na época. Figura simpática e conhecida entre a elite, ele frequentemente era procurado por autoridades que pediam favores, como segurar um voo ou garantir uma reserva. Quando Fidel Castro chegou a Brasília, logo após assumir o poder em Cuba, Obdego foi designado para recebê-lo. Usaram até uma escada da VASP para o desembarque de Fidel.
No meio da confusão, fotógrafos gritavam para que Batista trouxesse Fidel para mais perto: “Batista, segura mais o homem!”, “Batista, traz ele pra cá!”. Percebendo o desconforto de Fidel com tanto alvoroço, Obdego, em um momento de descontração, brincou: “Gente, me chamem de Obdego… por favor!”
Outro nome marcante na construção de Brasília foi Creso Villela, responsável pelas obras do Congresso Nacional e da Praça dos Três Poderes. Certa vez, Israel Pinheiro, chefe das obras, ficou furioso ao ver o atraso no espelho d’água do Congresso. Ordenou que Creso o entregasse no dia seguinte. Apesar do susto, Creso mobilizou uma equipe que trabalhou a noite inteira, e o espelho d’água estava pronto pela manhã, agradando Israel.
Em outra ocasião, já perto da inauguração da cidade, Israel se desesperou ao ver que ainda faltava o mármore no Congresso. Creso, sem ter tempo para a entrega, decidiu usar cal nas paredes, criando o famoso “mármore goiano”, o que salvou a cerimônia. Para completar, no dia 20 de abril, faltando um dia para a inauguração, Israel constatou que o prédio estava sem acabamento. Mais uma vez, Creso salvou a situação, iluminando estrategicamente as janelas, criando uma ilusão de prédio finalizado, o que encantou todos.
Já o engenheiro Atahualpa Schmitz da Silva Prego era responsável pela pavimentação de várias áreas da cidade, incluindo o aeroporto, apelidado de “aeroporto de tábuas”. Durante uma visita às obras, Israel Pinheiro, visivelmente irritado com os atrasos, criticava duramente a equipe. Atahualpa, caminhando ao lado dele, tentava explicar-se, gesticulando energicamente. Os operários, observando de longe, achavam que ele estava desafiando o poderoso chefe. Contudo, ao final, Israel, convencido pelas explicações, abraçou Atahualpa, e os dois terminaram a inspeção sorrindo. Desde então, Atahualpa ganhou a admiração dos candangos, que o viam como o único que “peitava” Israel.
Por hoje, encerro essas histórias divertidas. Na próxima coluna, trarei mais relatos curiosos sobre os bastidores da construção de Brasília.
*João Vicente Costa, o JVC, já fez de tudo um pouco: músico (5 Generais, Banda 80), DJ, programador musical, produtor de eventos, dono de bar (Bizarre), dono de restaurante (Antigamente). Hoje, administra pizzarias e há seis anos coleciona histórias não contadas de Brasília e adora compartilhar para os amantes da cidade nos grupos Memórias de Brasília e Bsbnight no Facebook