GPS Brasília comscore

João Vicente: Pequenas histórias da época da construção de Brasília

Curiosidades e episódios divertidos de personagens que marcaram a criação da capital
Pequenas histórias da época da construção de Brasília
Atahualpa Schmitz da Silva Prego, Obdego Batista e Creso Villela

Compartilhe:

Toda cidade guarda histórias inusitadas, e Brasília, apesar de ser uma cidade jovem, não é exceção. Entre fábulas, invenções e mitos, há também muitos relatos reais que marcaram o período de sua construção. Reuni aqui alguns episódios divertidos e curiosos sobre personagens que viveram nessa época.

O primeiro deles é Obdego Batista, gerente da VASP na época. Figura simpática e conhecida entre a elite, ele frequentemente era procurado por autoridades que pediam favores, como segurar um voo ou garantir uma reserva. Quando Fidel Castro chegou a Brasília, logo após assumir o poder em Cuba, Obdego foi designado para recebê-lo. Usaram até uma escada da VASP para o desembarque de Fidel.

No meio da confusão, fotógrafos gritavam para que Batista trouxesse Fidel para mais perto: “Batista, segura mais o homem!”, “Batista, traz ele pra cá!”. Percebendo o desconforto de Fidel com tanto alvoroço, Obdego, em um momento de descontração, brincou: “Gente, me chamem de Obdego… por favor!”

Outro nome marcante na construção de Brasília foi Creso Villela, responsável pelas obras do Congresso Nacional e da Praça dos Três Poderes. Certa vez, Israel Pinheiro, chefe das obras, ficou furioso ao ver o atraso no espelho d’água do Congresso. Ordenou que Creso o entregasse no dia seguinte. Apesar do susto, Creso mobilizou uma equipe que trabalhou a noite inteira, e o espelho d’água estava pronto pela manhã, agradando Israel.

Congresso Nacional no dia da inauguração da cidade
Congresso Nacional no dia da inauguração da cidade

Em outra ocasião, já perto da inauguração da cidade, Israel se desesperou ao ver que ainda faltava o mármore no Congresso. Creso, sem ter tempo para a entrega, decidiu usar cal nas paredes, criando o famoso “mármore goiano”, o que salvou a cerimônia. Para completar, no dia 20 de abril, faltando um dia para a inauguração, Israel constatou que o prédio estava sem acabamento. Mais uma vez, Creso salvou a situação, iluminando estrategicamente as janelas, criando uma ilusão de prédio finalizado, o que encantou todos.

Já o engenheiro Atahualpa Schmitz da Silva Prego era responsável pela pavimentação de várias áreas da cidade, incluindo o aeroporto, apelidado de “aeroporto de tábuas”. Durante uma visita às obras, Israel Pinheiro, visivelmente irritado com os atrasos, criticava duramente a equipe. Atahualpa, caminhando ao lado dele, tentava explicar-se, gesticulando energicamente. Os operários, observando de longe, achavam que ele estava desafiando o poderoso chefe. Contudo, ao final, Israel, convencido pelas explicações, abraçou Atahualpa, e os dois terminaram a inspeção sorrindo. Desde então, Atahualpa ganhou a admiração dos candangos, que o viam como o único que “peitava” Israel.

Por hoje, encerro essas histórias divertidas. Na próxima coluna, trarei mais relatos curiosos sobre os bastidores da construção de Brasília.

João Vicente Costa

*João Vicente Costa, o JVC, já fez de tudo um pouco: músico (5 Generais, Banda 80), DJ, programador musical, produtor de eventos, dono de bar (Bizarre), dono de restaurante (Antigamente). Hoje, administra pizzarias e há seis anos coleciona histórias não contadas de Brasília e adora compartilhar para os amantes da cidade nos grupos Memórias de Brasília e Bsbnight no Facebook