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João Vicente: Os Restaurantes Árabes de Brasília

Quando se falava em comida árabe, ninguém sabia ainda diferenciar um quibe de uma almôndega. Mas isso mudou muito com o passar do tempo

De acordo com os registros da imprensa, nos seus primeiros anos, Brasília crescia em ritmo acelerado, mas tradição gastronômica ainda não era bem uma das grandes qualidades. Quando se falava em comida árabe, ninguém sabia ainda diferenciar um quibe de uma almôndega. Mas calma que isso mudou muito com o passar do tempo.

Tudo começa em 1964, na 305 Sul, com o Almanara. Apesar do nome e do dono sírio, o restaurante não era exatamente árabe. Era também meio pizzaria, servia “lazanha” (sic), e como ninguém na cidade sabia o que era homus, ele ficou conhecido mesmo pela comida italiana. Depois de um tempo, virou um restaurante ítalo-francês (tudo a ver, não?). Na década de 70, apareceu outro Almanara na 204 Sul, mas a relação entre os dois é desconhecida.

João Vicente: Os Restaurantes Árabes de Brasília

Dois anos depois, finalmente um restaurante 100% legítimo árabe apareceu: em 25 de março de 1966, nasceu em Taguatinga o Monte Líbano. Mas a festa não durou só lá. Poucos dias depois, (e aqui vai uma BOMBA já que todos, inclusive os atuais proprietários, comemoram o aniversário erronamente em 16 de abril) na sexta feira, 25 de fevereiro de 1966, na esquina da 109 Sul, onde antes funcionava o “Bar do Abraão”, dois irmãos libaneses, Youssef Sarkis Maaraouri e Youssef Sarkis Kaawai, decidiram que Brasília estava preparada para o quibe e abriram o Beirute Kibelândia.

João Vicente: Os Restaurantes Árabes de Brasília

A coisa foi tão bem que, entre 1967 e 1968, os irmãos abriram o Beirute II, na 509 Sul. E aí vem o detalhe que pode chocar muita gente: o segundo Beirute não é bem o atual da Asa Norte, e sim o antigo da 509 Sul!

Mas nem tudo são tâmaras. Os Beirutes I e II e também o Monte Líbano de Taguatinga foram comprados por um senhor que, pasmem, transformou o Beirute II em churrascaria, com carnes preparadas pelo gaúcho Barbachan, que tinha acabado de fechar seu restaurante na 103 Sul. O Beirute original foi parar nas mãos de José Jorge Caruy, que comprou briga com a vizinhança por causa do barulho e do horário de funcionamento. Não estava sozinho: o Kastelinho e o Porão 9, bares pioneiros da famosa “109” também estavam no meio dessa treta com vizinhos.

Esfirra vem, esfirra vai, em agosto de 1969, o dono do Beirute, à época, decidiu expandir seus negócios e abriu o Stalo Kibelândia no Hotel das Nações, no Setor Hoteleiro Sul. Só que a coisa foi mudando e, em 1974, esse bar/restaurante árabe virou o famoso Stalão, já no Hotel Imperial (quem é da época, conheceu esse ícone da noite brasiliense).

Mas lembram dos irmãos Youssef? Eles não haviam desistido da comida árabe e, em 7 de novembro de 1969, fundaram o Arabeske, também na 109 Sul.
Nosso querido Beirute da 109 Sul começou a passar por muitos problemas: fiscalização, vizinhos reclamando, perrengues financeiros… Até que, na noite de Natal de 1970, o restaurante foi vendido para os irmãos cearenses Bartolomeu e Francisco, que eram garçons da casa. E, como uma fênix de babaganuche, o Beirute ressurgiu mais forte, mas não sem a ajuda dos assíduos clientes, que se mobilizaram para ajudar os amigos ex-garçons.

João Vicente: Os Restaurantes Árabes de Brasília

Outro restaurante árabe que entrou para a história da cidade foi o luxuoso El Hadji, inaugurado em 1970 no Hotel Torre Palace, que na época era o único prédio do Setor Hoteleiro Norte (hoje abandonado e, contam, assombrado). Depois vieram outros clássicos, como o Alef e o Raubahaüt, ambos na 302 Sul nos anos 1970, o Lagash, na Asa Norte nos anos 1980, o já tradicional Líbanus na 206 Sul em 1989 e, mais recentemente, o excelente Tanoor, que funcionou no mesmo Torre Palace da família El Hadji, mas no térreo.

E foi assim que Brasília passou de zero a cem na comida árabe. Hoje, encontramos shawarmas, quibes, falafels, esfirras dos mais variados tipos e qualidades, mas alguém tem que lembrar como tudo começou – incluindo quibe com lasanha e pizza e lembrar de muitos bravos aventureiros apresentando a culinária árabe e passando os perrengues de serem pioneiros na cidade.

João Vicente: Os Restaurantes Árabes de Brasília

*João Vicente Costa, o JVC, já fez de tudo um pouco: músico (5 Generais, Banda 80), DJ, programador musical, produtor de eventos, dono de bar (Bizarre), dono de restaurante (Antigamente). Hoje, administra pizzarias e há seis anos coleciona histórias não contadas de Brasília e adora compartilhar para os amantes da cidade nos grupos Memórias de Brasília e Bsbnight no Facebook

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