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JK, uma era de ouro

Nascido em Diamantina, no início do século XX, filho de um caixeiro-viajante e de uma professora primária, Juscelino Kubitschek de Oliveira tinha tudo para ser mais um nome anônimo, desses que se espalham pelo interior do Brasil, ainda mais após perder o pai para a tuberculose quando contava meros dois anos de idade. No entanto, graças ao empenho da mãe, Júlia Kubitschek, que mesmo numa situação econômica delicada garantiu a educação do filho e alimentou seus sonhos de tornar-se médico, Juscelino Kubitschek transformou-se num dos maiores estadistas a ocupar o posto de presidente do Brasil e entrou para a história como o fundador de Brasília, considerada como capital da esperança pelo ministro francês André Malraux e marca do modernismo dos anos 60.

Existe um simbolismo interessante na escolha de Juscelino pelo sobrenome da mãe quando de sua iniciação na carreira política, que apontam como ele era um homem à frente de seu tempo. Tempo esse que foi generoso com o seu nome, oferecendo aos brasileiros lembranças de seu período como líder da nação. Na verdade, muitos historiadores consideram os anos de 1956 a 1961 como uma era de ouro para o Brasil, marcada pela estabilidade política e por uma efervescência cultural e social muito grande. Foram os anos do surgimento do cinema novo, da bossa nova e do Brasil campeão do mundo na Copa de 58, com Pelé à frente de uma seleção que elevou o futebol a um estado de arte.

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Claro que nem tudo foram flores e, uma vez encerrado o seu mandato, não faltaram críticos a JK. Economistas culparam o ex-presidente pelo endividamento do País e a inflação, que viriam a se agravar, ao que o político respondeu que abordaria tal problema em um segundo mandato, que nunca veio a se realizar após o estabelecimento do Regime Militar em 1964 – e sua morte em um misterioso acidente de trânsito na Via Dutra, em 22 de agosto de 1976. Por fim, historiadores apontam que JK deixou como legado o rodoviarismo do Brasil, fruto do favorecimento à expansão da indústria automobilística no País, e a dependência do petróleo.

Ainda assim, o feito de trazer a capital para o centro geográfico do Brasil permitiu tal desenvolvimento do Brasil nas décadas que se seguiram, com uma interiorização da população em escala nunca antes vista em cenário nacional. Inclusive, muitos dos presidentes eleitos após a redemocratização são responsáveis por, em um momento ou outro, utilizarem-se do nome de JK para se projetarem politicamente. Foi o caso, por exemplo, de Luís Inácio Lula da Silva, que afirmou recentemente querer realizar, ao lado de Geraldo Alckmin, “40 anos em 4”, numa clara alusão aos “50 anos em 5” de Juscelino. Fernando Henrique Cardoso adotou atitude semelhante nos anos 90, recorrendo à figura de modernizador do Brasil. Fernando Collor de Mello levou para o palanque Sarah e Márcia Kubitschek – a viúva e a filha de JK, respectivamente.

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**Semelhanças temporais**

Caso fosse vivo, Juscelino completaria 120 anos em 12 de setembro de 2022 e encontraria um Brasil, politicamente, não muito diferente daquele em que viveu nos anos 50. Talvez a polarização da sociedade hoje seja maior do que era naqueles tempos, graças aos avanços da comunicação e à disseminação da internet, o que não significa que a eleição de JK ocorreu sem solavancos. Uma revolta da força aérea em Jacareacanga procurou remover o recém-eleito presidente de seu cargo, sob alegação de que JK não seria adequado para governar o Brasil. Tal manifestação foi rapidamente debelada pelo então Ministro da Guerra, o general Henrique Lott, e tropas legalistas que diluíram o movimento golpista após 19 dias de tensão. Para acalmar a situação, o próprio Juscelino pediu a anistia ampla e irrestrita dos rebelados, concedida pelo Congresso.

É preciso lembrar que JK assumiu o governo em um período turbulento de nossa história, pouco após o suicídio de Getúlio Vargas e logo antes do conturbado mandato de Jânio Quadros/João Goulart e do Regime Militar que o seguiu. Era uma época em que também havia dificuldades de se atraírem investimentos externos para o Brasil, resultante da política externa norte-americana mais preocupada com a segurança do continente – a Guerra Fria opunha o bloco liderado pelos EUA ao bloco liderado pela União Soviética – do que com o seu desenvolvimento. Inclusive, foi isso que levou Juscelino a lançar a Operação Pan-Americana (OPA), programa multilateral de assistência ao desenvolvimento da América Latina, que mais tarde inspirou o presidente norte-americano John F. Kennedy a lançar o programa Aliança pelo Progresso, o que levou à criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e à Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC).

Outro ponto importante a se destacar é que, mesmo com a estabilidade política alcançada por JK, não faltaram momentos de tensão no cenário interno, principalmente no ano de 1959. Nessa época, aumentaram as atividades das ligas camponesas, as tentativas de greves – e as greves efetivas – ganharam força e a oposição udenista fazia barulho a respeito dos pretensos planos “continuistas” de JK. Mesmo assim, o governo não se colocava como antagonista dos movimentos que lhe faziam frente e Juscelino, na maioria das vezes, mostrava-se disposto ao diálogo, recebendo lideranças e buscando solução para impasses, de acordo com as regras do jogo político de então. Se era preciso mostrar força, também não hesitava em fazê-lo, como quando rompeu com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas cobranças ameaçavam paralisar o plano de metas tão caro ao presidente.

**Sonhos impossíveis**

Político habilidoso, carismático e sorridente, Juscelino Kubitschek triunfou, apesar de todas as dificuldades impostas pelo cenário político, econômico e internacional de seu tempo. E, diferentemente de outros candidatos, conseguiu cumprir com aquilo que prometeu. Boa parte de seu plano de metas foi executado, até mesmo a meta síntese, a mais difícil e lembrada de todas, que foi a construção de Brasília. Sem dúvida, o sucesso do estabelecimento da capital do País no Planalto Central deveu-se à diligência e aos esforços que o presidente dedicou à sua execução, e permanece como um dos feitos mais memoráveis da história do Brasil.

Realizar sonhos impossíveis sempre fez parte da personalidade de Juscelino Kubitschek, como mostra a sua própria história pessoal. Ainda garoto, abandonou o seminário diocesano no qual sua mãe o matriculou após concluir o ensino básico, uma vez que não desejava seguir carreira religiosa e, sim, tornar-se médico. Foi esse objetivo que o levou a estudar por conta própria, já que não tinha recursos para garantir uma formação adequada. Tempos depois, passou num concurso de telegrafista que lhe deu a oportunidade de se mudar de Diamantina para Belo Horizonte e prestar o vestibular para Medicina. E foi assim que o filho de dona Júlia Kubitschek realizou seu primeiro sonho antes de capturar a imaginação dos brasileiros e do mundo ao realizar sonhos muito mais complexos e desafiadores, capazes de mudar a história de todo um País, como presidente da República.

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_*Artigo postado originalmente na Revista GPS 34, com autoria de Pablo Rebello_

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