Beatriz Lima Leal Ludovic de Saint Sernin, designer convidado de Jean Paul Gaultier nesta temporada, nos conduz a uma jornada marítima cheia de desejo, perdição e destino inevitável em sua coleção de primavera-verão 2025 de alta-costura, que encerrou o penúltimo dia de desfiles da Semana de Moda de Alta-Costura, na última quarta-feira (29).
Como se saído de um conto de naufrágio onde paixão e perigo se entrelaçam, o desfile trouxe uma tripulação perdida em meio à tempestade, arrastada para um delírio de sedução e caos. A inspiração marítima apareceu reinventada, transformando símbolos náuticos clássicos em peças que desafiam convenções e provocam os sentidos. Corsets estruturados, uma assinatura de Gaultier, surgiram reinterpretados com cordas trançadas, couro desgastado e transparências que evocam tecidos encharcados pelo mar. Tons terrosos e queimados pelo sol pintaram a paleta cromática, contrastando com brilhos inesperados que refletiam a luz como o oceano ao entardecer.
Na passarela, a silhueta oscilou entre o rigor e o abandono: vestidos volumosos remetiam às velas rasgadas de um navio à deriva, enquanto rendas etéreas e tecidos translúcidos revelavam a pele como se molhada pela brisa salgada. O fetiche náutico ganhou nova forma através de amarrações dramáticas e acessórios inspirados em âncoras, transmitindo a sensação de um desejo impossível de conter.
Ludovic de Saint Sernin criou um teatro de sedução e perdição onde cada look contava uma história de amantes proibidos, piratas libertinos e sereias traiçoeiras. A estética náufraga e decadente revelou um lado selvagem da alta-costura, provando que até mesmo na destruição há beleza.
