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Jair Bolsonaro nega existência de Abin paralela

Em entrevista à CNN, ex-presidente disse que o filho jamais pediria algo ilegal e afirmou nunca ter buscado informações de terceiros
Bolsonaro deve ser transferido para Brasília ainda nesta segunda-feira (6)
Bolsonaro deve ser transferido para Brasília ainda nesta segunda-feira (6). Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

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O ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) negou, nesta segunda-feira (29), que Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro, e os outros filhos políticos, tenham pedido informações para Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), atualmente deputado federal. Em entrevista à CNN Brasil, o ex-chefe do Executivo disse que não recebeu qualquer informação ou relatório da agência e falou em “perseguição claríssima” contra ele e os filhos.

“Jamais meu filho pediria algo que não é legal para o Ramagem”, afirmou o ex-presidente. Ele disse ainda que nunca buscou informações “de quem quer que seja”.

“Eu gostaria de saber o que foi informado pelo Ramagem de volta. Obviamente, nos órgãos do governo, é comum as pessoas fazerem questionamentos. O que foi perguntado? Se é o andamento de um processo, não tem problema nenhum. Se é interferência, é outra questão. O que foi informado pelo delegado Ramagem? O que estava sendo investigado nesse processo, parece que é de 2020 essa mensagem? Que processo é esse? O que estava sendo investigado? Eu nunca busquei colher dados de quem quer que seja para me defender”, comentou.

Mensagens enviadas por uma assessora de Carlos Bolsonaro o colocaram no centro da investigação da PF sobre o esquema de espionagem ilegal que teria sido montado na Abin durante o governo Bolsonaro. Luciana Almeida pediu a uma assessora de Ramagem, na época diretor da Abin, informações sobre dois inquéritos de interesse da família Bolsonaro. “Estou precisando muito de uma ajuda”, escreve Luciana à auxiliar de Ramagem ao informar o número das investigações e indicar que elas envolveriam o “PR (presidente da República) e 3 filhos”. Segundo a PF, o filho do ex-presidente e o então diretor da Abin conversavam por meio das assessoras para evitar deixar “vestígios”. Carlos ainda não se manifestou sobre a investigação. 

O ex-presidente negou que tenha recebido “qualquer informação ou relatório da agência de inteligência”.

“Eu raramente tinha contato com a Abin. Nunca recebi informação, localização geográfica, de quem quer que seja. Nunca precisei disso. Não pedi e não tive qualquer relatório da Abin”, afirmou.

Ao pedir autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer buscas em endereços ligados ao vereador carioca, a PF afirmou que ele fez parte do “núcleo político” do grupo que teria se instalado na Abin no governo do ex-presidente. A polícia chama os investigados de “organização criminosa” e vê indícios de espionagem ilegal e aparelhamento dos sistemas de inteligência.

Para a PF, as mensagens entre a assessora de Carlos Bolsonaro e a auxiliar de Ramagem confirmam que aliados de Bolsonaro tinham acesso direito ao ex-diretor da Abin e usavam o canal para conseguir informações sigilosas e sobre “ações não totalmente esclarecidas”. A Polícia Federal acredita que o aparato da Abin tenha sido usado para monitorar políticos de oposição ao governo do ex-presidente e para auxiliar a defesa de filhos de Bolsonaro em investigações criminais. A agência também teria sido usada para atacar as urnas e para tentar associar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

No domingo (28), horas antes da deflagração da operação da Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou a existência de uma “Abin paralela” durante live com os três filhos políticos. Bolsonaro afirmou que o caso se trata de uma narrativa e classificou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) como “um cara fantástico”.

“Essa acusação em cima do Delegado Ramagem, um cara fantástico… Abin paralela porque o Bolsonaro admitiu? Aquela tal da sessão secreta que o Supremo falou: ‘tem que divulgar’. Era uma reunião com ministros. Tinha a acusação de que ali estava a prova de que eu interferia na PF. E não estava prova ali. Em dado momento, eu falei: ‘Eu não tenho inteligência da Abin, da PF, da Marinha, da Aeronáutica’. Eu não tenho inteligência. Não chega nada para mim. Quando eu falei da minha inteligência paralela, quem é minha inteligência paralela? Está pegando fogo lá na Amazônia, eu ligo para o coronel Menezes: ‘Menezes, como está essa questão de fogo?’ O cara fala pra mim”, afirmou.

Em reunião no Palácio do Planalto, a 22 de abril de 2020, Bolsonaro confirmou a seus ministros que mantinha o serviço próprio de informações e desdenhou do trabalho da Abin, da PF e dos centros de inteligência das Forças Armadas. “Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona”, disse “Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”, completou. Ao lado do pai na live, Carlos Bolsonaro não se manifestou sobre o tema. 

A ação desta segunda-feira (29) é um desdobramento da Operação Vigilância Aproximada, que vasculhou 21 endereços no último dia 25. O principal alvo da ofensiva foi o ex-diretor da Abin na gestão Bolsonaro e hoje deputado federal Alexandre Ramagem. A investigação se debruça sobre a suspeita de que a Abin teria sido usada ilegalmente para atender a interesses políticos e pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua família. O vereador ainda não se manifestou. A Polícia Federal apreendeu computadores e o celular dele nesta segunda.