Instituto Proeza: mãos que tecem o amanhã

Uma linha, duas agulhas, movimentos circulares com os dedos. O corpo está em transe: pupila dilata, boca fecha, respiração entra em ritmo de pausa. **Pura concentração**. Em questão de minutos, o emaranhado **toma forma** e se **transforma**. Ganha trama e roteiro — vira novela, história, poesia. Nas mãos certas, **crochetar é como escrever um poema** sem caneta. Versar sem papel, rimar sem palavras. É tipo nobre de arte quente, que não recusa o toque e convida para o abraço.

No **Instituto Proeza**, o crochê **salva vidas**. _“Cresci vendo minha mãe e minha avó crochetando, mas, hoje, certamente o crochê tem para mim um novo significado”_, conta **Kátia Ferreira**, fundadora da ONG que desde **2003** atua no Distrito Federal capacitando mulheres em situação de vulnerabilidade – um trabalho lindo e **inspirador**, que, como tantos outros, viu-se cercado e rendido às inconsistências da pandemia.

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Em 2020, durante os mais gélidos meses de um _lockdown_, Kátia viu sua arte mais necessária do que nunca. Saltos foram trocados por pantufas, roupas apertadas abriram espaço para o _loungewear_ e todo mundo queria se arriscar na técnica _tie-dye_. Durante meses, o confortável e aconchegante era lei absoluta, e o crochê nadou com a maré.

Foi então que Kátia teve sua mais monumental ideia — até agora. _“O que fazemos quando não podemos nos reunir? Buscamos outras conexões. Estávamos todos em casa, deprimidos, frágeis de um modo ou de outro… mas nossa capacidade para inspiração estava lá!”_, entrega, com **esperança** ligada à voz. _“Essa é a coisa mais maravilhosa desse mundo conectado: ser constantemente impactado por pessoas e imagens”_.

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Nos caminhos da internet, observou essa crescente **ascensão**. Estava em mantas, casacos e cobertores? Sim, mas também estava em obras e instalações de arte salpicadas por todo o mundo. _“Me apaixonei muito pelas obras da artista portuguesa Joana Vasconcelos e pelo modo como ela consegue expandir a técnica de forma surrealista e fantasiosa”_.

Num **estalo**, a imagem se acendeu como uma lâmpada sobre a cabeça. _“Se alguém te revela que pretende cobrir um prédio inteiro com crochê… você não demora a chamar a pessoa de doida!”_. Assim, **vestida de loucura e trajada de coragem**, Kátia deu início ao projeto **Tecendo o Amanhã**. Dois anos e alguns “quebrados” depois, a missão havia sido cumprida.

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Ao todo, **108 mulheres** trabalharam na obra, 80% delas assistidas pela entidade. _“A maioria era composta por moradoras do Recanto das Emas e Riacho Fundo II, que já trabalham conosco no Instituto”_, destaca. _“Contudo, recebemos também mulheres de outras regiões administrativas, que entraram no nosso grupo buscando um propósito, uma felicidade em meio à tristeza do isolamento”_.

**Mais de 150 mil metros de linha** foram usados para cobrir as partes externa e interna dos cinco andares do edifício-sede, que hoje está aberto para visitação guiada no **Recanto das Emas**. Basta o olho bater na fachada que a imaginação já está convidada para o **encanto**. _“É uma verdadeira instalação de arte! Busquei referência em símbolos nacionais e locais, incorporando essa mistura de culturas que é o Brasil e que é Brasília!”_, relata a filantropa. _“Aqui, todo mundo vem de algum lugar, todo mundo tem família de outras partes, e era isso que eu queria representar: diversidade”_.

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Ao entrar, o pescoço trabalha hora extra, angulando o olhar na direção dos mais maravilhosos **detalhes**: bolas brancas que pendulam do teto, cobrinhas coloridas que “rastejam” entre as dobras das paredes, bandeirinhas e pipas típicas de São João numa bela homenagem ao Nordeste brasileiro, abelhas, corações, flores, bocas, estrelas… não há nada que não tenha ganhado uma **lúdica** e **afetuosa** versão em crochê. _“Tivemos o apoio de muitos indivíduos e companhias fundamentais em diversas fases do projeto. O estilista Dudu Bertholini, meu grande amigo, nos visitou lá no início, assim como o crocheteiro de mão cheia Marcelo Nunes, de quem sou fã”_, abre. _“A empresa de fios Euroroma também nos foi de grande ajuda, assim como a Circo e, claro, não posso esquecer de agradecer imensamente ao Ministério do Turismo e à Fundação Banco do Brasil, que patrocinaram a ação”_.

A resposta do público e da mídia também foi de **surpreender**. Procurada por grandes portais de notícia, Kátia confessa que não esperava tamanho **aplauso**. _“Vem gente de todo lugar nos visitar. Recentemente, recebemos uma senhora que nos disse que esse era um passeio melhor que a Disney”_, resgata, em risos. _“O fazer manual foi por muito tempo considerado ‘menor’, então observar e participar dessa nova fase e status de um trabalho que tem tanto simbolismo para tanta gente…”_, buscando palavras entre a sincera felicidade, Kátia pausa. _“É arte”_.

**@Institutoproeza**

_*Matéria escrita por Theodora Zaccara para a edição 35 da Revista GPS_

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