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Instituto Histórico e Geográfico do DF: guardião do passado, construtor do futuro

Fundado por Juscelino Kubitschek, o IHG-DF preserva e reinterpreta histórias que moldaram a capital federal

Por Larissa Duarte

Digna de cenário de filme de ficção científica, uma construção incomum repousa serena na rotineira via W4 Sul. Com sua forma quase extraterrestre, a concepção da estrutura ancorada na entrequadra 703/903, no entanto, não veio de outra galáxia. Sua origem remonta a um espaço-tempo em que Brasília, jovem aos olhos das grandes capitais do mundo, já se projetava como uma cidade do futuro.

O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, o IHG-DF, foi fundado em 8 de dezembro de 1960 pelo então presidente Juscelino Kubitschek, com a missão de ser o guardião da memória da nova capital. Em 1991, sua sede, carinhosamente apelidada de “nave-mãe”, foi inaugurada, consolidando-se como um símbolo arquitetônico. Projetada por Milton Ramos – o mesmo arquiteto responsável pelo Oratório do Soldado e pelo Salão Social do Iate Clube –, a construção foi concebida para refletir o compromisso do instituto: preservar, desbravar e ampliar o alcance do patrimônio material e imaterial de Brasília.

Instituto Histórico e Geográfico do DF: guardião do passado, construtor do futuro

Um passado vivo
No coração da sede, o Museu Memorial Brasília oferece uma verdadeira viagem no tempo. Aberto ao público, ele guarda um acervo repleto de documentos históricos, fotografias, livros, objetos e muitas outras curiosidades que convidam a uma viagem pela história de Brasília e do Brasil.

Entre as relíquias, estão um baú de madeira da Missão Cruls, de 1892, e o relatório original da expedição que demarcou o território da nova capital. O museu também exibe a cadeira em que JK se sentou durante a primeira missa realizada na cidade, em 1957, e o Jeep Willys Maracangalha, o primeiro veículo a circular pelas terras que se tornariam Brasília, usado por Bernardo Sayão e JK. Outros itens singulares incluem a cadeira de barbeiro que o presidente fazia questão de levar em suas viagens e a lápide em mármore original do túmulo do ex-presidente no Cemitério Campo da Esperança.

O passeio no tempo inclui o rádio de comando do primeiro Aeroporto de Brasília, dois enormes projetores do extinto Cine Bruni, em Taguatinga, e objetos pessoais de Juscelino Kubitschek. Um ambiente especial recria a parede da casa onde o presidente cresceu, em Diamantina, ao lado de uma exposição que celebra sua vida e obra.

Mais recentemente, o museu passou a dedicar espaço ao protagonismo feminino na construção da capital, revelando histórias e peças de roupas originais usadas pelas mulheres que trabalharam na obra de Brasília.

Descendo as escadas, encontra-se outro tesouro cultural: a Biblioteca Affonso Heliodoro dos Santos, batizada em homenagem ao ícone da memória candanga, integrante da equipe de JK e presidente do instituto por vinte anos. Com a terceira maior coleção de livros relacionados a história e geografia de Brasília, o espaço abriga mais de oito mil títulos. Entre eles, destacam-se o catálogo telefônico da capital de 1960, o primeiro recenseamento de Brasília (de 1957), publicações raras e biografias de figuras importantes, além de uma seção exclusiva de escritos de JK. O espaço é aberto ao público, oferecendo um ambiente ideal para pesquisas e descobertas.

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Instituto Histórico e Geográfico do DF: guardião do passado, construtor do futuro

Hugo Studart, Bernardo Lins, Paulo Castelo Branco, Telmo Amand e Filipe Rizzo

Patrimônio intelectual
Compreender o papel do IHG é mergulhar na singularidade de uma entidade que não se limita a contar o passado, mas busca entender suas repercussões no presente e no futuro. No refinado quadro de associados, a presença de pioneiros, aqueles que testemunharam de perto o surgimento da cidade, busca equilíbrio com a dos acadêmicos, que, munidos de estudos e pesquisas, trazem uma visão analítica e crítica do desenvolvimento da capital.

Um dos primeiros advogados de Brasília, Paulo Castelo Branco, que foi conselheiro seccional e federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e secretário de Segurança Pública do DF, é o atual presidente da instituição e um símbolo dessa integração. Seu olhar reverente sobre os primeiros passos da capital encontra ressonância nas ideias de professores que veem no IHG um espaço de diálogo, de construção de novas narrativas e, sobretudo, de renovação. “É uma cidade novíssima, com uma história riquíssima, mas que segue sendo construída. Então, estamos resgatando e enaltecendo memórias que vão além deste passado pioneiro que já preservamos há anos e seguiremos preservando. Estamos empenhados em trazer pessoas mais conectadas à cidade para que nossos projetos e ações caminhem lado a lado com o desenvolvimento do DF”, explica o presidente.

Nos últimos seis anos, a organização sem fins lucrativos vivenciou uma taxa de renovação de mais de 60% em seu quadro de sócios, o que o secretário-geral do instituto, Hugo Studart, resume como “uma mudança da ‘era dos pioneiros’ para a ‘era dos professores’”. No total, 120 acadêmicos compõem a entidade, entre intelectuais, escritores, docentes, ex-reitores da Universidade de Brasília (UnB), mestres e doutores das mais diversas áreas, como História, Direito, Geografia, Ciências Políticas, Sociologia e até Astronomia.

O patrimônio imaterial político também é notável. Neste quesito, a instituição conta com empossados como o ex-presidente da República José Sarney, os ex-governadores do DF Cristovam Buarque e Maria de Lourdes Abadia, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, além de ex-senadores e ex-deputados.

Para os diretores, a reorganização dos sócios reforça o IHG-DF principalmente como um centro de expansão intelectual. Uma combinação de saberes que transforma o instituto em um organismo vivo e patrimônio de reflexões e descobertas, que agora se volta ao desafio de alcançar as novas gerações.

Instituto Histórico e Geográfico do DF: guardião do passado, construtor do futuro

Foto: Johnson Barros

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Auditório com poltronas originais do Cine Bruni

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Ponte para o futuro
O instituto não se contenta em ser um guardião silencioso. Em cada ação realizada, há uma tentativa de renovar o vínculo entre Brasília e seus habitantes, não importa a geração. As iniciativas de engajamento cultural e os projetos educativos são alguns dos caminhos encontrados para manter viva a chama de pertencimento.

Por meio do programa Seu Povo, Sua História, realizado em parceria com a Secretaria de Educação do DF há 26 anos, a sede recebe alunos da rede pública de ensino para visitas guiadas e aulas no espaço do museu, que buscam cultivar a atração por essa história. “Por ano, recebemos cerca de sete mil crianças aqui no instituto e percebemos nos olhinhos delas o interesse. É um dos maiores projetos de educação patrimonial que conhecemos. Além disso, promovemos curso de pós-graduação para professores pela Escola de Formação Continuada dos Profissionais da Educação (Eape), que já foi realizado por mais de 400 docentes”, destaca um dos diretores, Filipe Rizzo.

Outro projeto que fortalece cada vez mais o instituto também como centro de diálogo, descobertas e troca de perspectivas entre curiosos e pesquisadores é o Café Histórico e Geográfico, que realiza palestras, apresentações e rodas de conversas gratuitas e abertas ao público. “A ideia dos encontros é predominar temas urbanos e regionais relacionados a Brasília. Falamos de música, Cerrado, urbanismo, histórias das Regiões Administrativas… São edições cada vez mais concorridas, reunindo cada vez mais pessoas, e que ajudam a botar o instituto no mapa da cidade”, aponta outro diretor, Telmo Amand.

Em 2024, o instituto assinou um Termo de Fomento com o Governo do Distrito Federal (GDF) por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. Um marco que possibilita planos de expansão e modernização, como uma nova expografia ao museu, mais interatividade, projetos para o imenso jardim, renovação de mobília e ampliação de atividades educacionais que dialoguem com as novas gerações e possibilitem novas formas de contar histórias que, na verdade, são pontes para o futuro.

*A reportagem está publicada na edição de dezembro da revista GPS|Brasília (confira aqui a versão digital).

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