Fogo para combater o fogo. Se a princípio isso pode parecer contraditório, vale dizer que é uma técnica cada vez mais utilizada no Distrito Federal e que tem trazido resultados na proteção do Cerrado. Com esse intuito, o Instituto Brasília Ambiental realizou, nesta segunda-feira (29), a chamada queima prescrita na Estação Ecológica Água Emendadas (Esecae), em Planaltina.
Durante a ação foram queimados 70 hectares – equivalente a mais de 70 campos de futebol – o que corresponde a 0,5% da área total da Esecae, que é de 10 mil hectares. O objetivo é reduzir a matéria orgânica acumulada, originada de vegetação exótica, ou seja, que não faz parte do bioma do Cerrado, como as braquiárias plantadas na região antes dela se tornar área de preservação. Com isso, quando a estiagem chegar, os riscos de incêndios florestais de grandes proporções são minimizados. Esse manejo do fogo é realizado no local uma vez por ano desde 2017, e nesta ação participaram 40 profissionais.
A iniciativa faz parte do Programa de Manejo Integrado do Fogo (PMIF) da Esecae, comandado pela Diretoria de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Brasília Ambiental (Dpcif). Ele conta com a parceria do Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PPCIF), coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente e Proteção Animal (Sema), que articulou o apoio técnico dos combatentes do Parque Nacional de Brasília e do Grupamento de Proteção Ambiental (Gepram/CBM).
Os profissionais que atuam nos órgãos de proteção ambiental do Distrito Federal relatam que a medida tem surtido efeito tanto na redução da proporção das queimadas como para o fortalecimento da vegetação nativa. O administrador da Unidade de Conservação do Brasília Ambiental, Gesisleu Jacinto, afirma que a cada ano esses efeitos positivos se intensificam. Ele explica a ação.
“O Cerrado foi forjado com fogo, obviamente, com o fogo benéfico. Então, fazemos um fogo planejado, num período em que a gente monitora a temperatura, o clima, o vento. Fazemos um fogo brando e a vegetação resiste bem a esse fogo. Diferentemente do incêndio florestal, que ocorre em uma época bem crítica, por conta da seca, e passa dizimando tudo. O objetivo é a eliminação de material combustível para quando chegar o período crítico a gente não tenha os incêndios florestais. O foco principal, aqui, é proteger as veredas e a mata ciliar da Lagoa Bonita”, afirma o administrador.
A coordenadora do Plano de Prevenção de Combate a Incêndios Florestais (PPCIF), da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Carol Schubar, ressalta que a medida é uma aliada na preservação de Águas Emendadas, feita após muito planejamento.
“É uma ação preventiva. Caso venha um incêndio dentro da unidade de conservação, ele não vai atingir a área da Lagoa Bonita, que é a área principal da Esecae. Antes da ação, avaliamos a área como um todo e fazemos um planejamento para que os órgãos envolvidos possam executar. Quando a ação é executada, a labareda não é tão alta. Toda a ação é feita de forma segura”, garante a coordenadora.
Segurança
Por ser realizada de maneira controlada e com profissionais habilitados, essa queima é considerada bastante segura. O solo é molhado ao redor de toda a área, na chamada linha fria. O fogo é ateado em oposição à direção do vento para garantir que se espalhe devagar.
Enquanto isso, os brigadistas fazem o controle do fogo com sopradores de ar e, caso seja necessário, o caminhão do Corpo de Bombeiros está pronto para intervir. A medida serve ainda como treinamento entre as equipes para situações extremas, conforme explica o segundo-tenente do Corpo de Bombeiros Militar do DF, Filipy Ferreira de Mesquita.
“A gente busca auxiliar os brigadistas tanto no ateamento de fogo como no combate, com abafadores e assopradores. É uma ação segura, controlada e uma situação muito boa porque buscamos também mais entrosamento entre as equipes para que, caso haja incêndio, estejam preparadas para atuar”, afirma.
Águas Emendadas
Localizada a 50 quilômetros do centro de Brasília, a Esecae preserva um importante fenômeno natural – as águas emendadas – que verte água para duas grandes bacias hidrográficas: Tocantins/Araguaia e a Platina, na vereda de 6 km de extensão. Também é fonte de captação de água para abastecimento público da região.
Criada em 1968 como reserva biológica, quando são permitidas visitas apenas com objetivos educacionais, o local foi alçado à categoria de estação ecológica, que além de visitas educacionais, permite a realização de pesquisas científicas.