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Indígenas acampam em Brasília à espera de decisão sobre marco temporal

Parada na Corte do STF desde 2021, votação sobre a demarcação de terras foi retomada na tarde desta quarta-feira (7)

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Centenas de indígenas de diferentes etnias aguardam acampados na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade do chamado Marco Temporal. Às 14h desta quarta-feira (7), os ministros da Corte voltaram a julgar a legalidade da tese segundo a qual os povos indígenas só teriam direito ao usufruto dos territórios que ocupavam em 5 de outubro de 1988, quando a atual Constituição Federal foi promulgada.

 

O caso será retomado com o voto do ministro Alexandre de Moraes, que pediu vista – mais tempo para análise – ainda em 2021, quando se iniciou o julgamento. Ao menos 50 indígenas acompanham o debate do plenário do STF, que reservou assentos para uma delegação de lideranças. Além disso, foi montado um telão na lateral do prédio do Supremo, onde até 250 pessoas podem acompanhar a sessão remotamente.

 

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À direita, o cacique Raoni acompanha a sessāo de julgamento do marco temporal de terras indígenas no plenário do STF. Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

Estamos aguardando pelo julgamento do Marco Temporal com a esperança de que os ministros votem a nosso favor, paralisando [a proposta de estabelecer] um marco temporal para os processos demarcatórios das terras indígenas”, disse à Agência Brasil o cacique da aldeia Sauremuybu, de Itaituba (PA), Juarez Saw Munduruku.

 

À frente de uma delegação de 44 pessoas, na maioria jovens estudantes, Juarez diz entender que, se aprovado, o marco temporal representaria “o fim” do tradicional modo de vida indígena e uma ameaça não só aos processos demarcatórios em curso, mas também aos territórios já homologados. Ainda segundo ele, todos que já tiveram a terra reconhecida, mas não homologada, estão preocupados. 

 

Sabemos que, em 1988, alguns [povos] não ocupavam as terras de seus antepassados porque foram expulsos e os governantes, apesar dos vestígios da presença indígena [anterior], não reconhecem isso. Nós, mundurukus, ocupávamos toda a área que vai de Belém a Santarém e que desce em direção ao extremo do Mato Grosso, mas com a invasão dos colonos, fomos sendo expulsos e só agora estamos retomando [reivindicando] nosso território”, explicou Juarez. 

 

Liderança da aldeia Gorotire, em Cumaru do Norte, também no Pará, Sandro Takwyru Kayapó, viajou a Brasília com outros 26 indígenas. Ele afirma que seu grupo está preparado para permanecer na capital federal até que o STF dê o que esperam: a palavra final sobre a constitucionalidade da tese do marco temporal. “Há uma pressão muito grande no Congresso Nacional, mas temos uma legislação que precisa ser levada em conta. Estou convencido de que os ministros vão dizer não [ao marco temporal], pois ele é inconstitucional”, sustenta o líder, destacando que a história dos povos indígenas “não começa em 1988, nem sequer em 1500”. 

 

Na contramão do movimento indígena, entidades representantes do agronegócio alegam ser necessário, em nome da segurança jurídica, estabelecer que somente terras ocupadas por indígenas na data da promulgação da Constituição de 1988 podem ser demarcadas.

 

Nessa perspectiva, o argumento é de que proprietários que ocupavam e produziam em terras antes daquele ano não poderiam ser obrigados a sair somente com base em indícios da existência de indígenas no local em tempos longínquos. Isso colocaria em risco de desapropriação boa parte das terras produtivas do país, alegam os representantes de diversos setores agropecuários.