A concentração de partículas finas no ar de Brasília disparou em cerca de 350 vezes após o incêndio de grandes proporções que atingiu o Parque Nacional de Brasília nesta semana. As chamas, que consumiram cerca de 1,4 mil hectares de vegetação, deixaram a cidade imersa em fumaça densa e preocupante.
Antes do início do incêndio, no domingo (15), a capital registrava níveis de 4 microgramas por metro cúbico (µg/m³) de partículas inaláveis de tamanho 2,5 (MP 2,5), consideradas extremamente prejudiciais à saúde.
No auge do incêndio, na madrugada da terça-feira (17), esse número saltou para 1,3 mil µg/m³. A poluição começou a cair gradualmente a partir de quinta-feira (19), mas os efeitos já preocupam especialistas.
“É um nível alarmante. Chegou ao ponto que Manaus registrou no ano passado em meio às queimadas na Amazônia”, afirmou JP Amaral, gerente de natureza no Instituto Alana e membro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). “Isso indica que a poluição estava crítica e exigia medidas mais rígidas, incluindo orientações claras à população.”
Monitoramento inadequado e dados imprecisos
Apesar da gravidade da situação, a capital federal carece de um sistema eficiente de monitoramento da qualidade do ar. Segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), os dados oficiais são emitidos a cada seis dias, o que torna o acompanhamento em tempo real praticamente inexistente. Para tentar driblar essa defasagem, foram utilizados dados da plataforma PurpleAir, que possui um sensor próximo ao local do incêndio.
Entretanto, o presidente do Ibram, Rôney Nemer, questiona a confiabilidade desses dispositivos. “Não podemos garantir que os dados são totalmente precisos sem uma análise mais detalhada dos equipamentos”, declarou.
Já Evangelina Araújo, diretora do Instituto Ar, defende a eficácia dos sensores privados. “Mesmo sendo de baixo custo, eles trazem dados muito próximos da realidade e são fundamentais quando não há um sistema público de monitoramento”, destacou.
A situação é agravada pela falta de um plano de ação eficaz para episódios críticos de poluição do ar. Um levantamento do Instituto Alana revelou que 26 das 27 unidades federativas do país não possuem qualquer estratégia de enfrentamento para situações como a vivida em Brasília.
“Em casos assim, o mínimo seria alertar a população, suspender atividades ao ar livre e até fechar escolas, mas a maioria dos estados sequer tem um plano de ação”, criticou JP Amaral. Segundo ele, apenas São Paulo possui um plano emergencial, datado de 1978, e, portanto, desatualizado.
Diante da alta concentração de partículas finas, especialistas recomendam que a população evite atividades físicas ao ar livre e permaneça em ambientes fechados, utilizando máscaras N95 ou PFF2 para proteção.
A iniciativa Médicos Pelo Ar Limpo também sugere o uso de purificadores de ar e ventiladores para manter os ambientes internos mais saudáveis.
O Governo do Distrito Federal (GDF) já autorizou a compra de novos equipamentos de monitoramento da qualidade do ar, mas ainda não há uma data definida para a instalação das estações.
Com informações da Agência Brasil