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Ícones, por Isadora Campos: centenário do emblemático

Mais do que um hotel de luxo, o Copacabana Palace tornou-se uma instituição de encontro lendário da high society internacional
Fotos: Divulgação

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Copacabana. A mais emblemática das praias brasileiras lidera entre os mais celebrados destinos do mundo. Mas não é apenas a calmaria do seu mar, as areias disputadas ou a vanguardista calçada desenhada por Roberto Burle Marx que asseguram o seu apelo singular: o Copacabana Palace em sua orla é ícone nacional.

Celebrando seus cem anos, o majestoso hotel, que fora idealizado pela prestigiada família Guinle, abre as suas portas para um novo capítulo de sua condecorada história. A sua opulenta e eclética fachada é um proeminente símbolo de luxo na cidade. Desde sua abertura, em 1923, o hotel é sinônimo de alta sociedade – é o lugar para ver e ser visto, talvez por essa razão 40% de seus hóspedes sejam brasileiros.

O Copa foi criado pelo arquiteto francês Joseph Gire como uma instituição icônica do glamour brasileiro à beira-mar. Ele se inspirou nos dois famosos hotéis da Riviera Francesa: o Negresco, em Nice, e o Carlton, na Côte D´Azur, em Cannes. A estrutura, sóbria e imponente, teve sua construção entregue ao engenheiro brasileiro César Melo e Cunha. Ele importou materiais de construção de diversas partes do mundo: mármore de Carrara da Itália, cristais da Boêmia, cimento da Alemanha, vidros e lustres da Tchecoslováquia, e móveis e quase todos os demais materiais vindos da França.

A visão do Presidente Epitácio Pessoa mostrou-se correta, e o Copacabana Palace logo se tornou lugar de encontro da sociedade brasileira e de celebridades internacionais, ultrapassando muito a tímida visão espalhada pela crítica da época de que ninguém se hospedaria em um hotel tão distante do centro. Ainda hoje, os seus salões sobre chão de mármore italiano, decorados com arranjos de flores, os trabalhos de estuque no teto da recepção, nas madeiras escuras e exóticas, um som de vozes alegres no ar, um cheiro indefinido conduzem o visitante entorpecido a um oásis de luxúria.

Mais do que um hotel de luxo, o Copa – apelido descontraído dado a um palácio à beira-mar – tornou-se uma instituição de encontro lendário da high society internacional, o endereço permanente dos príncipes, milionários e socialites. Foi residência do icônico Jorginho Guinle, que exercera as funções de relações públicas do hotel no exterior. “Modéstia à parte, só eu poderia ter trazido tantas estrelas para cá. O País me deve isso. Pelo menos uma medalhinha eu merecia do meu Rio de Janeiro, não?”, brincava Jorginho.

A exigência de Guinle com a qualidade do serviço era de tal forma cuidada que ele redigira um Código dos Empregados do Palace, no qual se prescrevia, entre outras regras, a máxima de “não dar opiniões, e, quando solicitadas, evitar o prolongamento da conversa e os comentários”. E ainda estabelecia: “Não demonstrar conhecimento das excentricidades dos clientes, que deverão passar despercebidas, sem manifestações de gestos, palavras ou atos”.

Esse código permanece impecavelmente intrínseco à cultura organizacional do hotel, oferecendo ao Copa o pódio de melhor hotel do País, desde 2018 administrado pela Belmond, que rege o Hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu.

Em seu primeiro ano, o Copa teve licença para operar também como cassino. Entretanto, em abril de 1946, após a 2ª Guerra Mundial, o Presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo no País. Conta-se que às 23h do dia 30 de abril de 1946, o diretor do Cassino, José Caribé Rocha, “com a voz embargada e em tom solene, anunciava a última partida da roleta, encerrando um período inigualável de luxo e glamour”.

Os salões receberam as mais requintadas festas e os extravagantes bailes de Carnaval. Foi palco da premiação de Miss Universo, em 1930, ano em que Yolanda Pereira, primeira miss brasileira, foi eleita, e de apresentações de vozes que marcaram o século, como Maurice Chevalier, Ray Charles, Edith Piaf, Ella Fitzgerald e Nat King Cole.

O local foi o escolhido por hospedar ilustres personagens em suas visitas ao Brasil, como Nelson Mandela, príncipe Charles, princesa Diana, Elton John, Santos Dumont, Walt Disney, Mick Jagger e os seus Rolling Stones, Coldplay, Madonna, Marilyn Monroe, Elizabeth Taylor, Katharine Hepburn, John Wayne e Richard Burton.

Todos assinaram seu Livro de Ouro, e também frequentaram o restaurante do hotel, que se chamava Bife de Ouro, e era tido como favorito dos formadores de opinião, como o jornalista Carlos Lacerda, o então presidente Getúlio Vargas e seu ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha. Atualmente, a gastronomia do hotel lidera com estrelas Michelin premiando o seu Cipriani e o asiático MEE, além de concorrida agenda no notório Pérgola, que oferece brunch aos domingos e é reduto de eventos corporativos e de moda.

 

Há vinte anos, o Copa, que quase afundou em meio à decadência, precisou de uma injeção de um grande investimento para voltar a ter o brilho do passado. Todos os anos, 4% de seu faturamento são reinvestidos na manutenção do prédio. Para a celebração dos cem anos, está a reformulação do espaço da piscina. Com projeto do arquiteto carioca Ivan Rezende, que redesenhou o Teatro Copacabana Palace, em 2021, o glamouroso espaço terá novos guarda-sóis, espreguiçadeiras e tecidos sob medida. A fachada também recebe melhorias. “Vamos fazer com que a nossa grand dame fique ainda mais bonita”, destaca o gerente de comunicação do Copa, Cassiano Vitorino.

Todos os anos, o hotel ganha os holofotes com o emblemático Baile do Copa, abertura oficial do Carnaval. Habitués como Christian Louboutin e Monica Bellucci são vistos em seus trajes black tie em um familiar clima de descontração. Ainda hoje, turistas e cidadãos aglomeram-se à entrada do hotel para ver os hóspedes e seus convidados, garantindo que o evento seja o maior red carpet nacional.

Atualmente, o Copa tem um time de 520 funcionários – 2,4 para atender cada quarto –, o dobro da média dos empreendimentos de cinco-estrelas da Avenida Atlântica. Na última década, o hotel teve média anual de 90 mil hóspedes. Ele é o que mais recebe casais em noite de núpcias no Rio, quiçá no Brasil: são 15 recém-casados por fim de semana.

Com seus 12 mil metros quadrados, já foi eleito como o melhor hotel da América do Sul diversas vezes, como no ano de 2009 que recebeu o prêmio World Travel Award, um dos mais renomados e cobiçados do turismo internacional.

E como a celebração dos cem anos merece um brinde com champagne, o abre-alas se deu pela homenagem feita pela prestigiada Veuve Clicquot. Rótulo do grupo LVMH, a maior holding de luxo do mundo e também responsável pela operação do hotel, a exclusiva bebida honrou o hotel com a sua marca em uma Arrow Veuve Clicquot. Considerados os produtos mais emblemáticos da maison, as embalagens amarelas em forma de seta listam os principais destinos internacionais ao redor do mundo e colocam o hotel como o único homenageado em toda a América do Sul.

Glorioso, ele segue majestoso e recebe os aplausos do País e do mundo.

@belmondcopacabanapalace