“Você se lembra da sua primeira cliente?”. Em seus 36 recém-feitos anos de marca, cinco lojas físicas e um frutífero pomar de vendas on-line, Daniella Naegele poderia facilmente deixar as sementes que um dia plantou escaparem à memória – mas não é dessa seiva que a empresária bebe. “Ela visitava nossa loja na 315 Sul sempre aos sábados. Hoje é uma senhora de 62 anos, uma amiga querida”, reflete a empresária com firme lembrança. É fato: as árvores do Cerrado crescem com raízes profundas.
Poucos nomes evocam o florestamento da cadeia fashion de Brasília como a Avanzzo. Fundada em 1989, a grife conheceu uma capital diferente da que celebra, em 2025, seus 65 anos. “Crescemos para além do serviço público e da política. Hoje, percebo nosso público feminino muito mais empreendedor, criativo e versátil” – qualidades da mulher moderna, sim, bem como pilares de uma marca que suplanta os desafios do tempo.
Nascida em vista da Copa do Mundo de 1990, a Avanzzo desabrochou da vontade de torcer em família. Juntou o útil, a experiência em produção e varejo herdada de família, ao agradável, à alegria de celebrar as vitórias do Brasil. Foi bola na rede: estouro de vendas com gosto de quero mais. Não demorou muito para a empreitada esportiva se tornar negócio familiar. Ao lado do marido, André Naegele, investiu na produção de uma linha de moda feminina autoral.
Mais de três décadas após a faísca da empreitada, a Avanzzo expandiu sua linha de produção e sofisticou a cadeia de confecção, movendo parte de sua operação para São Paulo com propósito de aperfeiçoar os segmentos de tricot, jeans, alfaiataria e acessórios. Hoje, o time Avanzzo contempla mais de setenta funcionários, entre equipes de estilo, produção, marketing, administrativo, logística, TI e comercial.
O sucesso, Daniella atribui à sua devota irmandade de fidèles. “Nosso maior patrimônio é o cliente. De certo modo, é ele quem garante a estabilidade da minha família, dos meus filhos, dos meus funcionários. Sem ele, não somos nada”, dispara com paixão. “Por isso, acredito que todos que entram nas nossas lojas merecem apenas o melhor, em produto, em atendimento e em experiência de compra. Trabalhamos para que as memórias das nossas clientes sejam sempre melhores com Avanzzo”, completa.
Ao longo da movimentada trajetória, levantou eventos repletos de luzes e holofotes – outros, de confraternizações íntimas. Em 1998, recebeu a top Isabela Fiorentino em sua passarela Outono/Inverno. “Foi uma delícia de evento. Um dos nossos primeiros”, desvenda. “Convidamos os membros da imprensa que faziam o jornalismo de moda da cidade girar”. Apesar de brilhantes, os flashes não cegam: Daniella confere igual importância a seus encontros low profile, nos quais as maiores estrelas são suas clientes mais próximas. “O acolhimento e o atendimento são nossos diferenciais, desde sempre e para sempre”.
E o que diria essa experiente businesswoman à jovem Daniella de quase quatro décadas atrás? “Não tenho arrependimentos nem faria nada diferente, apenas diria a ela para seguir sendo essa empregadora exigente, com o trabalho de seus funcionários, sim, mas principalmente com o dela mesma”, dispara. “Buscar o melhor produto, os melhores acabamentos, e o que pode ser melhorado continuamente, todos os dias. Isso não é excesso, é cuidado”.
À nova geração de empreendedoras fashion, Naegele, que já se desdobrou entre numerosas funções, também oferece conselhos: “Sempre digo que criar moda envolve muita estratégia, conhecimento dos números, cálculos e visão econômica… às vezes, mais até do que o produto final. Quanto mais você expande sua visão para outros setores e quanto mais você busca se alfabetizar dentro da esfera empresarial, mais completa se torna a sua empresa. Empreender é ser curiosa”, aponta a Diretora Criativa, testificando sua familiaridade com a nova geração pelo exemplo que tem dentro de casa. “Meu filho Victor está há quatro anos atuando dentro do nosso comercial, e tenho certeza de que ele está muito bem preparado para guiar a Avanzzo por caminhos muito maiores”, conta, sobre o único dos três filhos que atua dentro da marca.
Em 2024, o comércio de roupas e acessórios no Distrito Federal cresceu cerca de 26,5% em relação ao ano anterior, somando um valor de aproximados R$ 4,5 bilhões – o maior desenvolvimento percentual entre todas as unidades federativas do Brasil. Desde 2019, o GDF destinou mais de R$ 5 milhões a iniciativas de moda voltadas para mulheres da periferia, fortalecendo o compromisso da rede pública com a autonomia feminina no mercado de trabalho e com o potencial criativo do DF. “Brasília é o lar da oportunidade, da invenção, da qualidade de vida. Temos tantas mentes originais nascendo todos os dias sob a naturalidade do brasiliense. E como esse céu lindo pelo qual agradecemos todos os dias: um presente que a gente ganha dela”.
*Matéria originalmente publicada na edição 42 da Revista GPS|Brasília