O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que vê com preocupação o resultado das eleições municipais, em que o centro e a direita conquistaram mais espaço no Brasil. Ele participou do evento Itaú BBA Macrovision, realizado na capital paulista nesta segunda-feira (14), e afirmou ainda que o conservadorismo tem “ganhado força” em todo mundo.
“O mundo está muito mais conservador e muito mais distópico do que a gente imagina. Hoje, tem espaço para todo tipo de retórica. Aquilo que parecia improvável dez, 20 anos atrás, improvável do ponto de vista retórico, hoje existe lugar de fala para qualquer narrativa”, disse Haddad.
O ministro da Fazenda afirmou ter imaginado que o conservadorismo ficaria para trás. Mas disse que os discursos anticientíficos, antidemocráticos e intolerantes não perderam espaço no Brasil como ele esperava. “Você vê que mesmo gente que come com garfo e faca fala contra a vacina, fala contra mudança climática. Isso não vai nos levar para um bom lugar”, opinou. “Esse discurso está ganhando força, ele não está perdendo. Nós imaginávamos que ele fosse ficar para trás, e eu acredito que ele não tenha ficado para trás.”
Haddad disse que o fenômeno começou há 10 anos com a Primavera Árabe – protestos que ocorreram entre 2010 e 2013 contra ditaduras de países árabes. O ministro afirmou ainda que o Brasil deve estar cada vez mais apoiado na ciência, na liberdade e no respeito e que, para a economia funcionar, deve estar cercada de instituições que também funcionem.
Para ele, o “discurso distópico, anticientífico e antidemocrático” lamentavelmente continua tendo espaço no Brasil atual. “Eu me coloco num espectro político-ideológico que se preocupa com isso, porque isso não vai nos levar a um bom lugar”, afirmou, destacando que a prosperidade do País só será conquistada mirando a ciência, a democracia e as liberdades.
“Nós vamos estar amarrados cada vez mais à questão da ciência, à questão das evidências empíricas, à questão das liberdades, à questão do respeito à diferença. E é isso que vai fazer a prosperidade do Brasil. A economia se compõe com um todo que precisa funcionar. Eu sou muito institucionalista na maneira de ver a economia. Eu penso que desenhar boas instituições é o segredo para que o desempenho econômico seja mais satisfatório. E, obviamente, a ciência tem que fazer parte desse projeto. Nunca vi nenhum país ir para frente negando as evidências científicas ou negando as recomendações da ciência.”