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Grandiosidade e falta de empatia: entenda o que é narcisismo

Em conversa com o GPS, o psiquiatra Lucas Benjamin afirma que o transtorno tem início na infância, se aprofunda na adolescência e se solidifica no início da fase adulta

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Desde o último domingo, 13, o assunto do momento é Larissa Manoela e sua situação com os pais. Entre os comentários mais discutidos em rodas de conversas e nas redes está o fato de que os genitores da atriz apresentam traços narcisistas. Mas, para os usuários do TikTok, antes mesmo desse caso vir à tona, os vídeos de especialistas falando sobre o transtorno já eram constantes. 

 

Mas, o que de fato é uma pessoa narcisista? Ela já nasce com esse traço? Como reconhecer se estamos lidando com uma pessoa que tem essa condição? Para tirar dúvidas sobre o tema, o GPS conversou com o psiquiatra Lucas Benjamin. Olha só: 

 

O que é exatamente o narcisismo? 

 

A expressão narcisista vem do conto de Narciso. Ele fala sobre um homem apaixonado pela própria imagem e que morreu ao tentar capturar a sua visão no reflexo na água. Nos tempos atuais, nos referimos ao transtorno de personalidade narcisista, uma condição psiquiátrica em que a essência se ampara em uma pessoa que tem a convicção de ser superior aos outros que a rodeiam e que, assim, merece ser tratada e respeitada como tal. O narcisista é, em sua natureza, disfuncional, maltratando as pessoas ao redor e sem empatia para quem transgride essa dinâmica que ele acredita ser lei. São pessoas difíceis de lidar e conviver, pois sempre se colocam em primeiro lugar e exigem que você se rebaixe.

 

O transtorno de personalidade narcisista tem alguma semelhança com a psicopatia?

 

Sim, em dois principais. O primeiro é que a psicopatia é um transtorno de personalidade. E, segundo, o narcisista é capaz de ter comportamentos perversos ou maldosos, se o outro não se rebaixar e não tentar ocupar o lugar que o narcisista acredita que pertence a ele.

 

Quais são os sinais para reconhecer um narcisista?

 

Reconhecer esse padrão de comportamento do qual temos falado. Ou seja, identificar os indivíduos que têm facilidade em pensar em si antes dos outros, que fazem questão de menosprezar aqueles que julgam inferiores. Esses pacientes conseguem demonstrar afeto apenas se as pessoas se mantêm abaixo deles. Um bom exemplo é o Gaston, da Bela e a Fera. Lembra como tratava o LeFou, seu ajudante?

 

Há algum tipo de tratamento para esses pacientes?

 

Sim, o padrão ouro do tratamento é a psicoterapia. Envolve um treino de habilidades na capacidade de ser empático com os outros e perceber a disfuncionalidade de seus comportamentos.

 

Você pode dar algumas dicas para as pessoas poderem lidar com pessoas narcisistas?

 

O principal é identificar o padrão de comportamento dessas pessoas. Estar atento a como elas lidam com aqueles ao redor. Segundo, se protegendo. Seja se afastando quando possível, ou não criando expectativas irreais de que a pessoa agiria com empatia ou com cuidado caso fosse alertada da própria conduta.

 

Narcisistas têm sentimentos? Eles podem desenvolver algum tipo de afeto?

 

Sim, podem apresentar estima pelos outros, mas desde de que mantenham o papel de sempre estar em segundo plano e abaixo da figura principal. Se saem desse papel, o afeto se desfaz rapidamente.

 

A pessoa já nasce assim ou ela pode desenvolver esse quadro ao longo da vida?

 

O quadro de transtorno de personalidade se constrói ao longo do desenvolvimento de cada um. Algo que se inicia na primeira infância, se aprofunda na adolescência e se solidifica no início da fase adulta.

 

Existem pessoas mais propensas a esse tipo de comportamento?

 

O ambiente com toda certeza pode favorecer o desenvolvimento dessa personalidade. Assim como a genética do indivíduo auxilia, sem dúvida. Mas uma criação com poucos “nãos” e que reforce essa crença que vontades e desejos dos indivíduos sempre estarão em primeiro lugar, pode ser um dos caminhos de gerar narcisistas. Outro fator é a falta de consequências de comportamentos inapropriados ou até perversos.