A primeira noite de desfiles das principais escolas de samba do Rio de Janeiro pode ser dividida em três fases: começou cheio de emoção, às 22h de domingo (19), com homenagens a **Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho**, respectivamente, por **Império Serrano e Grande Rio**. Depois, vieram os desfiles mornos de **Mocidade Independente e Unidos da Tijuca** (apesar de esta surpreender com uma inédita “levitação” na comissão de frente) e, por fim, duas escolas que reacenderam a animação do público, por suas torcidas gigantes: **Salgueiro e Mangueira** – esta, com o diferencial de ter um samba-enredo muito popular e de ter feito um desfile bastante técnico.
![Instagram/Império Serrano](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/sapucai_d395fd352c.png)
A primeira escola a se exibir foi o **Império Serrano**, que homenageou **Arlindo Cruz**. As fantasias e alegorias eram simples, sem luxo, mas não faltou emoção. Arlindo sofreu um acidente vascular cerebral há seis anos e ainda está em recuperação. Ele só se expressa (pouco) por meio da fisionomia e **desfilou em um trono no último carro alegórico**, acompanhado pela mulher, Babi, por outros familiares, amigos e uma equipe médica.
**Sua passagem pela passarela comoveu a plateia.** A partir da canção _Meu Lugar_, um dos sucessos de Arlindo e que exalta o bairro de Madureira, na zona norte, onde o artista cresceu e onde fica o Império Serrano, a agremiação apresentou a região, referências à história do Império e, claro, **passagens fundamentais da vida de Arlindo**.
Alas retrataram músicas como _Camarão que Dorme a Onda Leva_ e _Bagaço da Laranja_, duas parcerias de sucesso com Zeca Pagodinho (a primeira também com Beto sem Braço), e destaques como o **Cacique de Ramos**, bloco carnavalesco onde surgiu o grupo Fundo de Quintal, que Arlindo integrou. **Também foram homenageados outros parceiros e inspiradores de Arlindo, como Mano Décio da Viola e Dona Ivone Lara.** A religiosidade de Arlindo também foi bastante exaltada.
**A segunda escola a desfilar foi a Grande Rio, atual campeã do carnaval carioca.** O enredo homenageava **Zeca Pagodinho** passeando por lugares que fazem parte de sua história à procura do artista. Por fim, encontrava Zeca em seu sítio em Xerém, distrito de Duque de Caxias, município onde fica a Grande Rio
**Ele desfilou no último carro alegórico, devidamente abastecido com chope.** A escola exibiu fantasias e alegorias muito luxuosas, **mas errou na evolução**: em pelo menos dois momentos, por conta de dificuldade para movimentar alegorias, abriu espaços entre alas bem na frente das cabines de jurados. **Com o atraso, precisou correr no final e encerrou o desfile faltando apenas 25 segundos para completar o tempo máximo de 70 minutos** – se não respeitasse esse limite, seria punida com a perda de pontos.
**A Mocidade Independente de Padre Miguel foi a terceira escola a desfilar e apresentou a história de mestre Vitalino**, artista que fazia esculturas com barro e deixou muitos seguidores em Alto do Moura, bairro de Caruaru. A escola apresentou fantasias luxuosas, **mas o samba não empolgou** e ocorreram pequenos deslizes de evolução.
Quarta escola a se apresentar, **a Unidos da Tijuca fez uma viagem pela baía de Todos os Santos**, área da costa brasileira onde estão situadas Salvador e outras cidades baianas, e surpreendeu com um efeito de luzes inédito nos desfiles.
**Na comissão de frente, a atriz Juliana Alves** representou Iemanjá e desfilou sobre uma pequena alegoria que interagia com a comissão de frente. **Em um trecho da encenação, a iluminação da pista de desfiles era reduzida e as luzes do próprio elemento cenográfico onde a atriz estava davam a impressão de que ela levitava.** O público foi ao delírio.
Mas a escola teve problemas técnicos e deve perder pontos por conta deles. **O último carro alegórico bateu em um viaduto quando manobrava pra entrar na avenida e um elemento cenográfico (um farol de orientação marítima) foi danificado – atravessou a pista assim.** Um tripé passou metade do desfile pendendo para a esquerda, em vez de seguir pelo meio da pista de desfile.
**Com um enredo que questionou o que é pecado e defendeu a liberdade de expressão, o Salgueiro** foi a quinta e penúltima escola a desfilar. Com fantasias e alegorias luxuosas, fez um bom desfile, **mas também teve vários problemas técnicos** – os dois primeiros carros alegóricos tiveram dificuldades para entrar na pista, o que ocasionou a abertura de espaço logo no início do desfile. **O samba também não foi dos mais empolgantes.**
**A Mangueira encerrou a primeira noite de desfiles contando a saga das mulheres africanas que foram escravizadas e conduzidas à Bahia**, e cujos descendentes acabaram chegando ao Rio e à Mangueira. **Com um samba contagiante** – que rivaliza com o da Grande Rio como o mais popular do ano – e fantasias e alegorias coloridas e adequadas ao enredo afro, a escola foi a que mais contagiou o público, apesar do adiantado da hora – terminou o desfile às 5h55. **A ministra da Cultura, a cantora e compositora Margareth Menezes, desfilou numa alegoria que representava um trio elétrico.**