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GPS Entrevista: “Eleitor está mais atuante”, afirma Gláucio Dias, do Ranking dos Políticos

Setembro em ano eleitoral é o mês em que mais se respira eleição. Seja pelo lado ruim de sermos inundados com informações irrelevantes, candidatos caricatos e poluição visual, seja pelo lado bom de poder renovar nossos votos com a democracia e – por que não? – renovar nossas bancadas estaduais, distritais e federais.

Quando recebi a tarefa de entrevistar o diretor-geral do Ranking dos Políticos, Gláucio Dias, a primeira coisa que me veio à mente foi uma pesquisa recente do Datafolha que mostrou que 6 em cada 10 brasileiros não se lembravam em quem votaram para deputado federal e senador. Ao mesmo tempo, 39% avaliavam mal o trabalho dos parlamentares e apenas 12% aprovavam como nossos representantes conduziam suas funções. 

Parece um delírio coletivo ano após ano colocarmos 513 deputados federais e 81 senadores cujo nome não lembraremos daqui quatro anos, mas avaliamos seus trabalhos majoritariamente de forma negativa.

![De cada quatro senadores que tentaram a reeleição em 2018, três não conseguiram: renovação surpreendente deu força a votações importantes (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/senado_aberto_78e7cd29dc.jpg)

Aí vem a questão. Quem fiscaliza os fiscais? Sem entrar no lado policialesco da política e sua bandalheira com o dinheiro público, o dever é do povo, pelo voto. Se está bom, fica; se está ruim, sai. Mas todos nós sabemos que não funciona bem assim. Votar é um ato subjetivo, atende a diferentes apelos e demandas, o que torna o ato de fiscalizar um desafio. 

Em uma era dominada por fake news, informações conflitantes a todo momento, polarização exacerbada e violência política, é normal o eleitor se sentir perdido e desmotivado. É aí que entram instituições como o **[Ranking dos Políticos](www.politicos.org.br/Ranking)**. A plataforma avalia senadores e deputados federais em exercício, classificando-os do melhor para o pior, de acordo com três critérios: combate aos privilégios, desperdícios e corrupção no poder público. Os critérios utilizados não privilegiam partidos ou pessoas, mas as ações.

**[Veja aqui o ranking completo dos deputados federais e senadores por nome, partido e Estado](www.politicos.org.br/Ranking)**

O ranking é, atualmente, a maior instituição de avaliação parlamentar do Brasil e usa um conselho de 40 profissionais de referência em suas áreas, como economistas, embaixadores, professores, administradores, entre outros, para nortear o posicionamento. Criado em 2013 pelos empresários Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder, é mantido com 100% de dinheiro oriundo de doações de pessoas físicas.

“Quando surge um projeto importante em pauta, uma minuta é formulada e o conselho é questionado sobre o posicionamento a respeito daquele tema, se deve ser a favor, contra ou neutro”, afirma Gláucio Dias. “A partir disso, um peso é dado, de 5 a 30, conforme a importância do tema”, completa. 

Quando não há 80% de consenso na pauta, o Ranking se abstém e o tema não conta para a avaliação dos deputados federais e senadores. Fora isso, o Ranking faz um trabalho ativo dentro do Congresso, com eventos, debates temáticos e uma premiação dos melhores parlamentares do ano.

A missão é clara: influenciar os eleitores apontando como os parlamentares atuaram dentro de uma visão do que é o melhor caminho a ser trilhado pelo Brasil dentro de um mundo cada vez mais competitivo, cujos modelos e iniciativas vêm sendo testados há muito tempo por outros players. “Se pegássemos dois modelos de mundo, Venezuela e Singapura, são pautas que levariam o Brasil para uma Singapura, de um Estado mais eficiente, mais assertivo, cuidando de segurança, educação e saúde, não interferindo na economia e com mais liberdade de negócios, com mais geração de emprego e mais renda. Um princípio básico de desenvolvimento social”, resume o diretor da instituição.

Todo mês, as publicações do Ranking dos Políticos no Facebook geram 7 milhões em alcance, com 2 milhões em engajamento, somados a mais de 1,1 milhão de visualizações dos vídeos. No Instagram são mais de 13 milhões de visualizações das postagens do time escalado para captar e transformar dados oficiais de diferentes fontes oficiais em conteúdo. No site a média mensal é de 115 mil usuários, que podem acompanhar a evolução de seus candidatos, da bancada de seu Estado e, quem sabe, se decidir na hora do voto.  

![Seis em cada dez brasileiros não se lembram em quem votaram nas eleições passadas para deputado federal e senador (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/urna_desligada_71077f2044.jpg)

“Usamos uma fórmula matemática, que leva em conta projetos que consideramos que tem grande poder de transformação do país. Não entramos em pautas morais, como aborto, família, casamento gay, apenas pautas de desenvolvimento social e econômico”, aponta Gláucio Dias.

Dessa forma, no quesito antiprivilégios, o Ranking dos Políticos leva em consideração o posicionamento dos parlamentares nas votações das propostas que têm grande poder de transformar a economia do Brasil. Já na aba de antidesperdícios, o grupo considera a quantidade de faltas e presenças nas sessões e reuniões plenárias, além do percentual da economia da cota parlamentar e da verba de gabinete. Por fim, na parte anticorrupção, é levado em conta as condenações de processos de direito público como improbidade administrativas, desvio de recursos e corrupção.

Na entrevista concedida na redação da GPS República, o diretor-geral do Ranking dos Políticos, Gláucio Dias, enfatizou a importância de mecanismos de transparência, avaliou o impacto da atuação parlamentar no cotidiano da população e afirmou que nem tudo está perdido na política brasileira. “Um dos nossos lemas é separar o joio do trigo. Isso pressupõe a ideia de que existe trigo, não só joio, como muita gente pensa na base da sociedade, na opinião pública”, detalhou.

##### **Veja a entrevista completa:**

**Do início da atuação de vocês até hoje, podemos dizer que a transparência melhorou ou piorou?**

Melhorou. Inclusive, fizemos um levantamento das últimas cinco legislaturas, ou seja, 20 anos de atuação do Congresso, e na nossa percepção essa foi a melhor legislatura nesse período. Talvez porque tivemos um índice de renovação muito grande. A gente percebe, conversando com os parlamentares, que o fato de ter entrado muita gente nova, sem muita experiência, mas com muita energia, acabou movimentando a Casa, tornando-a mais produtiva. Pautas que estavam engavetadas há muito tempo andaram, como o Marco Legal dos Jogos, o Marco do Saneamento, Ferrovias. É um Parlamento, na nossa visão, que fez muitas entregas. Além disso, teve uma atuação muito pujante, destacada, na turbulência política causada por um Executivo atabalhoado. Um episódio que eu sempre cito é o 7 de Setembro do ano passado. O presidente da República foi na Avenida Paulista e xingou ministros, ofendeu um Poder constituído. Isso causa uma grande instabilidade política, com grandes consequências sociais e econômicas. Quem paga a conta é o povo, lá na ponta. E o Congresso foi muito assertivo em colocar panos quentes naquele momento. O Arthur Lira (PP-presidente da Câmara) entrou e pacificou a situação, quando ele poderia ter entrado, colocado mais lenha na fogueira e estabelecido o caos. Com isso, o Congresso ganhou muito protagonismo. Voltando à transparência, ainda temos pontos a avançar. Só que o processo político caminha em senóide, nunca é retilíneo. Então, você vai ter avanços e retrocessos. É um jogo de forças, quase um yin-yang. Por isso, é importante que a sociedade seja vigilante e atuante para fazer seu papel de evitar que o movimento de senóide seja muito grande e as perdas sejam efetivas.

![Gláucio Dias, diretor-geral do Ranking dos Políticos: “O sistema corrupto luta por sobrevivência, é vivo, orgânico e quer se perpetuar” (Fotos: Gabriel Lisita/GPS República)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/entrevista7_d4d0610fd0.jpg)

**O poder público aponta sempre para um aumento na transparência, no acesso a dados. No entanto, por outro lado, vemos uma dificuldade da mídia e de algumas instituições de fiscalização no acesso a muitos dados e informações. Quais os principais desafios enfrentados hoje?**

O desafio maior é manter o ímpeto de luta. Porque no processo político, muitas vezes, aqueles que militam em determinadas bandeiras acabam esmorecendo. No curto prazo você pode desanimar. Muita gente que milita na pauta da corrupção, por exemplo, quando viu todo o desenlace que teve a Operação Lava Jato desanimou. Muita gente que cometeu muitos crimes acabou não pagando. Mas olhando o macro, você não imagina uma operação dessa há vinte ou trinta anos atrás. O desafio é manter as conquistas obtidas e não esmorecermos em face aos avanços do outro lado, que não morreu.  Inclusive, o sistema corrupto luta por sobrevivência, é vivo, orgânico e quer se perpetuar. É preciso ter essa visão de médio a longo prazo capaz de perceber que às vezes tomamos gol, mas marcamos também.

**O eleitor brasileiro está mais atento a questões ligadas ao mandato de seus representantes?** 

O eleitor está mais atuante do que já esteve, ou seja, há um movimento maior de participação político, todo mundo fala sobre isso o tempo todo, mas está muito longe do que deveria ser em uma sociedade organizada, com um nível maior de civilidade. Há um cenário positivo, reconhecemos que há avanços, mas ainda está muito longe do ideal. Um dado que exemplifica isso é os mais de 60% dos brasileiros que não se lembram em quem votaram para deputado federal e senador. Quer dizer, se não tem memória em quem votou, é como um casamento de Las Vegas, você casou e não valeu nada. Só que você está casado e a noiva está lá. É muito importante a participação de instituições da sociedade civil organizada, como o Ranking dos Políticos e outras que fazem um belo trabalho, para poder fomentar esse processo. Alguém tem que puxar o trem, ser a locomotiva. Tem muito espaço para crescer ainda nesse campo de cidadania e civismo.

**Em meio a tantos problemas sociais enfrentados por grande parte da população, com escalada da fome, desemprego ainda acima de patamares aceitáveis, inflação, entre outros, como inserir a pauta da transparência, da austeridade, no debate eleitoral? Até que ponto os problemas imediatos da população afetam essa discussão?** 

Ótima pergunta. O desafio é de comunicação, porque essas dores que o cidadão sofre na pele, com a inflação, em grande parte são resultados de decisões atabalhoadas do Estado. Então, quando o Estado fala: “vamos imprimir dinheiro, vamos estourar o teto de gastos”, isso é um assunto árido, é economês, mas é isso que vai gerar a inflação que vai penalizar a dona Maria, esposa do pipoqueiro, quando ela for comprar o litro de leite, que está duas vezes mais caro do que estava há dois anos. Nós que estamos à frente desse processo político temos esse desafio de traduzir para as pessoas que discutir o teto de gastos não é debate de economistas, de iluminados da economia. É um debate que está influenciando na vida das pessoas, que precisam ser sensibilizadas para a conexão direta entre os atos do Estado, que parecem distantes, mas que estão influenciando o cotidiano dos cidadãos.

![“Nosso critério é a construção de um país desenvolvido, de um projeto de nação. É uma construção de 30, 40 anos para levar o país a desenvolver suas potencialidades”](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/mat2_0345592262.jpg)

**O Ranking dos Políticos tem seus critérios de avaliação bem definidos e fundamenta a avaliação dos deputados federais e senadores em três eixos: antiprivilégio, anticorrupção e antidesperdício. Esses critérios conseguem responder plenamente algumas especificidades do nosso Legislativo, como por exemplo, deputados que atuam em determinados nichos sociais, parlamentares que tem forte atuação no municipalismo, pauta LGBTQIA+ etc?**

Com relação a esse parlamentar de resultados, digamos assim, que é “prefeiteiro”, “emendeiros”, nós entendemos que é do jogo, mas o parlamentar tem que ter compromissos com projetos de nação. Ele não pode estar ali apenas para sobrevivência no poder, porque essa prática na política perpetua o parlamentar no cargo, mas muitas vezes ele toma decisões durante uma votação que está prejudicando o país como um todo. Ele pode ser um ótimo parlamentar levando trator, asfalto para sua região, o que é louvável, mas está votando contra o Marco do Saneamento. Nós não somos o ranking da Confederação Nacional dos Municípios, que deve analisar o parlamentar eficiente de acordo com os critérios deles. Nosso critério é a construção de um país desenvolvido, de um projeto de nação. É uma construção de 30, 40 anos para levar o país a desenvolver suas potencialidades. Isso passa por enfrentar as reformas e eu entendo a dificuldade do parlamentar uma reforma que não vai gerar nenhum voto para ele. Por isso, é preciso ter cobrança. Temos de conscientizar a sociedade para que isso gere voto e capital político para o deputado estar sensibilizado. O parlamentar faz, na verdade, o que o povo quer. Se ele não está tomando tal medida é porque o povo não está cobrando. O que nós temos que trabalhar é a cabeça das massas, na base da sociedade, para que ela entenda que é necessária uma reforma administrativa, uma reforma tributária. É sensibilizar para transformar. Um grande Brasil vai ser construído enfrentando grandes temas, reformas estruturantes, privatizações importantes e desburocratização para que haja liberdade de empreendimento, com o Estado atrapalhando menos.

**Uma das minhas partes favoritas no conteúdo do Ranking dos Políticos é a exposição das “leis idiotas”. Quando tais propostas irrelevantes deixam o campo do folclórico e do humor e se tornam realmente um problema?**

Isso é um problema porque isso custa dinheiro. Fizemos um levantamento que mostra que cada projeto de lei custa, em média, R$ 9,5 milhões. Tudo isso levando em conta a tramitação em comissões, o custo dos servidores, o valor da hora/funcionamento da Câmara dos Deputados e do Senado, entre outros. É muito dinheiro. É grave, também, porque mostra que o parlamentar não tem compromisso com o desenvolvimento do país. O que agrega o Dia Nacional do Rodeio, o Dia do Cavalo, transformar o vento em patrimônio da União? É surreal.

![“O vigor de uma renovação foi emblemático e fez com que o Congresso entregasse muito e fosse muito importante nas crises institucionais geradas pelas disputas entre Executivo e Judiciário”](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/mat1_ec4853fc96.jpg)

**De zero a dez, qual a nota do parlamentar brasileiro? De legislações anteriores para a atual, melhorou?**

Seria um 6,2 ou 6,3. Passaria de ano (_risos_). De legislações passadas melhorou. Nós tivemos uma renovação histórica, de 51%, que levou muita energia para dentro da casa. Não que os antigos sejam ruins, temos inúmeros bons parlamentares que estão ali há três, cinco mandatos e que são essenciais para o andamento da Casa. No entanto, o vigor, o tônus de uma renovação foi emblemático e fez com que o Congresso entregasse muito e fosse muito importante nas crises institucionais geradas pelas disputas entre Executivo e Judiciário. 

**Instituições como a de vocês são capazes de derrubar um parlamentar?**

Temos poder, sim, principalmente na urna. Parlamentares que fazem uma bobagem muito grande passam a se expor. Meu pai era caminhoneiro e eu costumava viajar o Brasil com ele, via muita pobreza há 30 anos. Recentemente fui de férias com a família e já vi uma situação diferente. Em todas as casas, mesmo as mais humildes, você pode ver as pessoas com um celular nas mãos. Ou seja, a internet e as redes sociais quebraram os currais eleitorais de uma forma absurda, de forma que podemos mandar conteúdo e mensagens para pessoas dos locais mais distantes do Brasil. Podemos direcionar conteúdos específicos de acordo com as necessidades de cada região que nós queremos alcançar. O resultado é que os políticos passam a ser confrontados pela população por conta de temas que elas passam a ter maior acesso.

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