A vitalidade de Gilberto Salomão é capaz de impressionar até quem convive com o pioneiro. Do alto de seus 92 anos, o empresário continua ativo: é sempre visto cumprimentando os visitantes enquanto passeia pelos corredores do centro comercial que carrega o seu nome, trabalha diariamente em seu escritório e continua participando das decisões mais importantes.
Localizado no coração do Lago Sul, o Centro Comercial Gilberto Salomão foi inaugurado oficialmente em 1967 após dois anos de construção. Por muito tempo, o ponto foi o único comércio de Brasília.
Gilberto é natural de Uberaba, Minas Gerais, e chegou à Brasília ainda em 1958, época em que a construção da futura capital do país caminhava a passos lentos. Estudou e trabalhou na fábrica de cerâmicas do seu pai, que o orientou a seguir para Brasília, ajudar a erguer a cidade e oferecer os serviços da fábrica.
Na época, Gilberto estava recém-casado com Maria Salomão — com quem permaneceu até a morte da pioneira em 2020 aos 87 anos – e tinha um filho adoecido. Preocupado, fez as malas e partiu para a capital, achando que ficaria poucos dias. Voltou apenas para buscar a família, pois já tinha encontrado seu lugar.
Os espaços na região central da cidade estavam ficando escassos e cada vez mais caros. Vislumbrou no Lago Sul uma oportunidade, pois os terrenos eram maiores e mais baratos. Chegou a construir algumas casas na área, mas teve de lidar com a dificuldade de acesso à região e com a falta de interesse dos moradores: nem mesmo seus familiares quiseram se mudar para lá.
Para atrair moradores e oferecer qualidade de vida a eles, é necessário haver comércio. Sendo assim, iniciou em 1965 a construção do centro comercial que ainda hoje é querido pelos moradores do Lago Sul, conhecido por sua praticidade e por oferecer os mais diversos serviços ao alcance dos frequentadores. Além disso, foi no Gilberto Salomão onde Brasília teve seu primeiro ‘point’ de diversão, com cinema espacial, danceterias e até a primeira unidade do supermercado Jumbo.
Muitos se divertiram nas danceterias Kako e Shalako nos anos 70, e mais tarde na famosa discoteca Zoom, que inaugurou em meados dos anos 80. A juventude roqueira dos anos 80 e 90 também batia ponto no Gilbertinho para se reunir. De ponto de encontro de jovens amigos para o centro de compras querido da família, o Gilberto Salomão representa o passar de várias gerações da juventude brasiliense.
“Me lembro de uma vez em que eu e minha esposa recebemos um convite formal de Juscelino Kubitschek para um jantar no Palácio da Alvorada. Aceitei mesmo sem entender o motivo, mas chegando lá ele me explicou que queria conhecer a boate Kako. É claro que nos organizamos para atendê-lo”, diz o pioneiro, relembrando uma das várias histórias que viveu.
Mesmo depois de tanto tempo, essas histórias continuam vivas em sua memória, e a emoção ao compartilhá-las é visível. Relembra da convivência com nomes do patamar de Juscelino Kubitschek e Israel Pinheiro. Das amizades que fez ao chegar em Brasília, como o empresário José Tamanini, que foi a primeira pessoa a alugar uma de suas casas na região do Lago Sul. Do início difícil em Brasília, ainda sem saber se a futura capital prosperaria.
“Quando as datas do aniversário de Brasília e do aniversário de Juscelino se aproximam, eu me emociono. Pois hoje eu vejo Brasília ser completamente diferente do que se imaginava para a época”, comenta.
Sua relação de amor com a cidade é intensa e duradoura: foi em Brasília que o empresário viu seu sonho tomar forma, deu continuidade à família e viu crescer os filhos que hoje mantêm o seu legado. Presenciou a chegada dos netos, assistindo com orgulho a herdeira mais velha, Maria Victória, assumir a administração do centro comercial que transformou a vida de sua família.