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Flip aposta na pluralidade de vozes ao voltar a ser presencial

A **diversidade** de gênero e raça e a defesa da literatura como forma de **luta social** marcaram a 20.ª edição da _Festa Literária Internacional de Paraty_, a **Flip**, que terminou na tarde deste domingo, 27, na cidade **fluminense**. Depois de dois anos com encontros **online**, motivados pela pandemia da **Covid**, o evento voltou a ser presencial e reforçou uma tendência acentuada a partir de 2018, agora com mais ênfase: dar espaço a uma **pluralidade** de vozes.

A escritora mais aguardada, a francesa **Annie Ernaux**, prêmio **Nobel de Literatura** deste ano, não decepcionou. Aos 82 anos, enfrentou o calçamento irregular de Paraty, onde parava pacientemente para dar **autógrafos** e, embora não gostasse, também posar para fotos. Na quinta, 24, à tarde, no exato momento em que a seleção brasileira derrotava a Sérvia (2 a 0) na Copa do Mundo, Annie participou de um debate no **Cinema da Praça**, onde foi exibido o documentário _Os Anos do Super 8_, com imagens familiares captadas nos anos 1970.

![(Foto: Instagram FLIP/Walter Craveiro)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/316916645_634269405101110_5672202683925849395_n_92d06b754e.jpg)

Lá, a escritora se emocionou ao ouvir o **depoimento** de uma professora que, pela primeira vez, reconhecia ter feito um **aborto ilegal**, situação semelhante à vivida por Annie em 1963, fato que inspirou a obra _O Acontecimento_. _”Estou profundamente tocada com sua história, senhora”_, disse a autora, que voltaria a se emocionar no sábado, quando dividiu sua mesa na Flip com Veronica Stigger e voltou ao assunto. _”A questão nunca foi de interromper uma gravidez, mas a de ser também livre nas decisões como os homens.”_

Durante pouco mais de uma hora, ela se recordou da deterioração de seu **casamento** com Philippe, processo silencioso ocorrido durante as **filmagens** que resultaram no **documentário**; comentou ainda sobre a crítica que recebeu da extrema **direita** da França, que não a julga merecedora do **Nobel** por sua obra considerada “violenta”. “Mas, por fim, sou a primeira francesa a conquistar o Nobel com uma escrita que pode ser uma fonte de liberdade”, disse, para delírio da plateia emocionada.

O poder libertador da **literatura**, aliás, inspirou o discurso de outros autores. _”A primeira violência contra os rebeldes está na linguagem”_, observou a argentina Camila Sosa Villada, uma das autoras **travestis** (ao lado de Amara Moira) desta edição da feira _”Ela nos é imposta e somos obrigadas a escrever e a ler a partir desse código construído pela violência. Sei disso por ter sido trabalhadora sexual, quando aprendi coisas que não são ensinadas pela família nem pela religião. Isso me fez aprender que o outro sempre pode representar uma possibilidade de violência.”_

O mesmo teor inspirou o discurso de Geovani Martins, que se apoia em sua vivência em **comunidades cariocas** como fonte de inspiração – e também de defesa. _”A literatura é, para mim, uma arma, uma forma de luta contra as limitações que a sociedade tenta me impor”_, disse ele, em outra mesa de sucesso.

Já o chileno Benjamín Labatut, estrela da Flip no sentido de **exigências** e recusa de dar autógrafos ao público e entrevistas à imprensa, fez uma bela participação ao falar sobre **apocalipse, literatura, isolamento, delírio e loucura**. Autor de Quando Deixamos de Entender o Mundo, ele defendeu que precisamos aprender a ficar quietos, disse que o cinema é melhor do que a literatura e que as pessoas deveriam reduzir suas bibliotecas a 10 livros. Sobre o silêncio, falou: _”O isolamento é fundamental. As pessoas não sabem que existe uma voz que fala no silêncio e, para que se escute, é preciso estar sozinho”_.

![(Foto: Instagram FLIP/Walter Craveiro)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/316999626_926021595034175_7712015362862830677_n_5b168c5637.jpg)

A antropóloga francesa **Nastassja Martin** e a velejadora brasileira **Tamara Link** dividiram o palco no sábado à tarde em uma conversa honesta e bonita sobre lugares longínquos, mares navegados, ursos, fantasmas, sonhos e a aventura interior que empreenderam em suas caminhadas em busca de superação e outras formas de se estar no mundo.

E as jovens poetas Alice Neto Sousa, de Portugal, e Midria, brasileira, encantaram o público na noite de sábado, 26, na mesa que tinha o ator e escritor Lázaro Ramos como o convidado mais conhecido. Fazendo performances de seus poemas fortes e políticos, elas deixaram seu recado: enquanto for preciso, vão fazer poemas de resistência, mas também querem pensar outros futuros.

**Best-sellers**

**Annie Ernaux** foi a autora mais vendida da _Livraria da Travessa_, a oficial da Flip, seguida por Maria Firmina dos Reis (1822-1917), a homenageada. E também Benjamín Labatut, Ailton Krenak (fora da programação), Camila Sosa Villada, Geovani Martins, Lázaro Ramos, Lilia Schwarcz, Bessora, Nastassja Martin e Saidiya Hartman. A lista reflete a pluralidade do evento: dos 11 _best-sellers_, cinco são mulheres negras, apenas quatro são homens, um é indígena e outra é travesti.

_”Houve uma confluência cosmopolítica na programação”_, disse Pedro Meira, que dividiu a curadoria com Fernanda Bastos e Milena Britto. Paraty recebeu cerca de 25 mil visitantes, segundo a organização.

![](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/flip_livro_16e03f8c44.jpeg)

_As informações são do jornal O Estado de S. Paulo._

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