Juliana Eichler Ao entrar no Iguatemi Brasília e caminhar em direção à praça central do shopping, o visitante se depara com grandes “caixas” vermelhas e árvores de madeira montadas. Lá dentro, personagens com grandes cabeças e olhos sonhadores enfeitam as quatro galerias, assim como outras salas fechadas por cortinas escondem o encantador universo que há dentro. Tudo isso faz parte da exposição Morada, de Nina Pandolfo, que apresenta seu trabalho pela primeira vez na capital federal.
Onde tudo começou: grafite
A mostra, imersiva e interativa, é uma viagem pela trajetória profissional e processo criativo da artista paulista, que teve como base para seus trabalhos o grafite. Ela começou a colorir os muros de São Paulo ainda na década de 1990, mas não do jeito que você provavelmente pensou. Quando falamos de grafite, geralmente imaginamos aquelas letras e desenhos difíceis de decifrar. Mas Nina adicionou o seu toque de personalidade às artes, e o resultado foram desenhos coloridos, lúdicos e delicados, contrastantes com os típicos desenhos urbanos.
“Quando eu comecei, os personagens retratados nos grafites eram B-boys, B-girls e DJs, e as letras eram wild style, que são aquelas que se emaranham e ninguém consegue ler”, explica. “E eu pintava personagens lúdicos, com borboletas, florzinhas…”, lembra.
Ela recorda que, no início, o meio do grafite era composto em sua maioria por artistas do sexo masculino, mas era algo que, para ela, não tinha muita relevância. “Eu olhava cada um como um artista. Se fosse homem ou mulher, para mim, não tinha importância”, revela. Mas ela destaca: “uma mulher que está inserida em um meio majoritariamente masculino, ela não pode se esquecer de sua origem, de quem ela é, e tem que ter segurança do que ela está fazendo, porque, senão o externo pode te oprimir”, alerta.
“Se você sabe quem você é, se você sabe o que está fazendo e se o que você faz é algo seu, original e único, deixe que os outros falem, reclamem, deixe também todo o resto para fora, e faça a sua parte”, aconselha.
Ela conta que, desde pequena, sempre foi muito positiva e acreditou no seu trabalho, independente de ser um universo masculino ou das críticas que recebia, considerando que a sua linguagem artística era totalmente diferente do que se esperava de uma arte de grafite. “Eu tive apenas que isolar o ruído e ouvir a minha própria música”, relembra.
E assim, foi conquistando seu espaço no mundo artístico, com desenhos únicos e que representavam – e ainda representam – sua personalidade. Desde então, com mais de vinte anos de carreira, ela expôs sua arte em diversos países, como Azerbaijão, Alemanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Grécia, Cuba, Índia, entre outros, e foi também convidada para pintar, em 2007, ao lado de OsGemeos e do artista Nunca, a fachada do icônico Castelo Kelburn, em Glasgow, na Escócia.
“Para mim, esse trabalho foi um marco na minha carreira e na minha vida profissional, porque eu pintei um castelo que é mais velho que o meu próprio país”, brinca a artista. Inicialmente, a pintura teria um “prazo de validade”, seria apenas uma intervenção temporária, mas a realidade é que o lorde que morava lá gostou tanto da arte que pediu que não fosse retirada. Hoje em dia, o castelo é um símbolo e ponto turístico da região.
“Em cada nova cidade ou país que eu vou, eu recebo uma influência da cultura local, o que reflete bastante no meu trabalho”, afirma a artista. “Minhas obras expõem tudo o que eu já vivi e estou vivendo, presenciando e conhecendo, o que vai aparecer de maneiras diferentes na minha arte”, destaca.
A exposição
Em Morada, a exposição foi dividida em quatro galerias, cada uma com um “tema”, fazendo com que o espectador interaja com diferentes espaços, técnicas e linguagens artísticas, ao mesmo tempo em que conhece as diferentes faces de Nina.
Nina pelo Mundo apresenta um recorte da carreira da artista a partir de fotos das centenas de suas exposições internacionais nas últimas duas décadas, enquanto a Galeria Imersiva Fluorescente traz obras originais e inéditas pintadas com tinta fluorescente, destacando diferentes profundidades, cores e texturas.
Na Galeria Interativa com Realidade Aumentada estão expostas duas obras originais, a Raquimona e Mikimi, que homenageiam os pets da artista, além de outras duas, Minúcias da Vida e Sentimentos Oblíquo, que, por meio de filtros virtuais, ganham movimento e convidam os visitantes a interagirem com seus elementos. Por fim, a Galeria Imersiva Video Mapping promove uma imersão do público no processo criativo da obra Your voice makes me believe, com o auxílio de recursos de vídeo, sons e movimentos.
A união entre tecnologia e arte
Sobre o cruzamento entre tecnologia e arte, Nina acredita que é uma maneira de tentar aproximar cada vez mais pessoas ao mundo artístico, testando diferentes maneiras de fazer o público se identificar com as obras. “Quando comecei a fazer grafiti, passei a olhar as ruas como uma nova maneira de expressar o que eu fazia em casa”, revela. “Com isso, comecei a tentar inserir outras técnicas e linguagens nas minhas telas, como crochê, bordados, LED e até mesmo elementos de robótica em algumas esculturas”, conta. “Para esta exposição, tentei trazer outras linguagens para que pessoas que não têm esse costume de visitar museus ou galerias, ou até mesmo têm receio, possam entender que uma obra de arte não precisa ser compreendida em termos de linguagem, cultura ou técnica”, explica.
“A obra tem que falar, e a pessoa, sentir mais do que entender. Então, fiz uma mistura de muitas coisas, desde pintura em telas a reprodução de obras em formatos diferentes com tecnologia, para que as pessoas entendam que a arte é tudo, e ela deve ser apenas sentida”, reflete.
“Minha expectativa para a temporada em Brasília é que todos possam realmente mergulhar e ter uma experiência diferente do que as pessoas estão acostumadas a ter em uma exposição. Que elas possam esquecer do que está fora e se permitir viajar para um lugar onde tudo é possível”, conclui.
Confira mais cliques da inauguração da exposição Morada, por Nina Pandolfo, pelas lentes da fotógrafa Vanessa Castro:
Serviço
Exposição Morada, por Nina Pandolfo
Local: praça central do Shopping Iguatemi Brasília, SHIN CA 4 – Lago Norte – Brasília – DF
Data: de 21 de junho a 17 de agosto de 2025
Horário de funcionamento: de segunda a domingo, das 12h às 20h
Visitação gratuita com agendamento: reservas antecipadas pelo aplicativo Iguatemi One. Crianças menores de 12 anos devem estar acompanhadas por responsáveis.
