No próximo sábado (9), a Galeria Karla Osorio, no Lago Sul, abre suas portas para uma dupla estreia que reúne olhares singulares sobre o território, a natureza e a experiência humana. No Pavilhão I, Saudações, Milton!, de R. Trompaz, apresenta 21 obras, muitas delas inéditas, produzidas recentemente — parte durante residência artística na própria capital. A mostra é uma homenagem ao geógrafo Milton Santos, cuja visão crítica sobre urbanização e desigualdade influencia profundamente a pesquisa do artista, intitulada Segregação Social Geograficamente Escancarada (SSGE).
Ao explorar as semelhanças e contradições entre São Paulo e Brasília, Trompaz cria um diálogo visual que ultrapassa a estética e mergulha em questões estruturais do País. Seus trabalhos articulam fragmentos urbanos, símbolos e paisagens para revelar como a geografia molda e, por vezes, segrega as relações humanas. A homenagem a Milton Santos surge como fio condutor dessa reflexão, ecoando a urgência de um olhar crítico sobre os rumos das cidades brasileiras e seus impactos sociais, ambientais e culturais. Assim, cada tela se torna um território em disputa, onde a arte denuncia, questiona e propõe novas formas de pensar o espaço coletivo.
Natural da Zona Sul de São Paulo, Trompaz constrói narrativas visuais que entrelaçam vivências pessoais, referências acadêmicas e a influência de letras de Racionais MC’s. Suas pinturas, marcadas por traços enérgicos e elementos subjetivos, expõem contrastes entre áreas periféricas e regiões privilegiadas, revelando abismos sociais e impactos da urbanização desordenada. Algumas obras flertam com a ideia de apagamento, aludindo à distorção de informações e à invisibilização de realidades incômodas. A chegada da série a Brasília propõe um diálogo entre a capital planejada e as contradições que ela também abriga.
No Pavilhão II, A Imanência das Árvores, de Luiz Gallina Neto, conduz o visitante por um mergulho poético no Cerrado. São 30 obras recentes, escolhidas pela galeria, com curadoria de Bené Fonteles. Gallina, que vive em Brasília desde 1968, utiliza veladuras, texturas e nuances cromáticas para revelar a essência quase espiritual das árvores e do mundo vegetal. Suas pinturas transformam detalhes em vastidões e exploram o equilíbrio entre luz e sombra, convidando o público a uma contemplação silenciosa e profunda. O artista busca, nas formas e cores, uma conexão ancestral e a possibilidade de cura estética e simbólica diante das urgências do mundo contemporâneo.
Na série, Gallina ultrapassa a simples representação da flora para investigar a dimensão sensível e simbólica do Cerrado. Suas composições, construídas a partir de camadas de veladuras e texturas minuciosas, revelam a beleza discreta e resiliente desse bioma, instigando o espectador a enxergar além da superfície visível. A abordagem combina precisão técnica e lirismo, transformando detalhes microscópicos em paisagens expansivas e convidando à contemplação pausada. Ao buscar o desenho essencial das árvores, o artista provoca uma reconexão com a ancestralidade e com a consciência ambiental, propondo que a arte seja não apenas registro estético, mas também ato de preservação e cura diante das transformações e ameaças que marcam o nosso tempo.
Criada em 2017, a Galeria Karla Osorio se destaca por inserir artistas contemporâneos no mercado e na cena institucional, com programação que valoriza a inovação. As duas exposições permanecem abertas à visitação até 5 de outubro, de segunda a sábado, com entrada gratuita, mediante agendamento. O brunch de abertura, no dia 9, acontece das 10h às 14h, reunindo arte, encontro e reflexão.
Serviço
Exposição na Galeria Karla Osorio
Abertura: Sábado, 9 de agosto de 2025
Local: Galeria Karla Osorio — Pavilhão II (galerias 4 e 5), Lago Sul, Brasília (DF)
Período de visitação: até 5 de outubro de 2025
Horário: segunda a sexta, das 9h às 18h30; sábados, das 9h às 14h30
Entrada: gratuita (mediante agendamento prévio por telefone, e-mail, DM no Instagram ou WhatsApp)