Redação GPS Nos últimos anos, um movimento crescente tem se observado entre os jovens, especialmente das gerações Millennial e Z: a busca por alternativas de lazer que promovem o bem-estar, em vez de baladas noturnas e festas tradicionais. Em vez de se entregar ao consumo excessivo de álcool e ao desgaste físico das noites agitadas, muitos têm optado por experiências ao ar livre, práticas de yoga, corrida e até mesmo novas formas de socialização, como as festas diurnas e eventos em cafeterias.
As grandes cidades, que por muito tempo foram o epicentro de baladas e festas intermináveis, agora veem surgir uma nova geração de jovens que priorizam o bem-estar. A mudança de comportamento reflete uma reavaliação dos prazeres da vida noturna e um foco maior na saúde mental, física e emocional. As atividades ao ar livre, por exemplo, proporcionam uma oportunidade de se reconectar com a natureza, reduzir o estresse e melhorar o condicionamento físico, enquanto práticas como o yoga e a corrida incentivam um estilo de vida mais equilibrado.
Uma pesquisa da Gallup, uma empresa americana de análise e consultoria, mostra que o consumo regular de álcool entre jovens adultos nos Estados Unidos caiu de 72% para 62% nas últimas duas décadas. No Reino Unido e na Austrália, estudos semelhantes apontam que o público de 18 a 24 anos está bebendo menos e priorizando experiências que não envolvam álcool nem virada de noite.
As novas formas de lazer também se estendem para ambientes urbanos, com espaços dedicados à alimentação saudável e ao autocuidado. Cafeterias, por exemplo, têm se reinventado como locais de convivência e experiências que vão além do simples ato de tomar café. Oferecem aulas de artes e atividades como meditação e até práticas de yoga em suas instalações.
O empresário Bruno de Luca diz que é um desafio entender a mudança de comportamento do público, mas ele está investindo nesse universo. “A gente passou por uma pandemia, que trouxe um comportamento forçado, mas que agora virou escolha. Por isso, fechei minha produtora de eventos e minha empresa de eventos esportivos decolou”, conta.
Ele citou o Réveillon dos Arcanjos como exemplo. “O tradicional dia 30 de festa foi trocado por um festival wellness, com yoga, corrida, pilates e torneios esportivos. É isso que as marcas estão buscando também. Está havendo mais investimento nessa área“, explica.
Ascensão das festas diurnas
As festas diurnas, ou day parties, têm se tornado uma alternativa cada vez mais popular para os jovens que desejam socializar, mas sem os excessos típicos das baladas. Esses eventos ocorrem em espaços ao ar livre, como praças, parques e rooftops, onde a música e a diversão se mesclam com o ambiente natural. Além disso, muitas dessas festas têm se distanciado do consumo exagerado de álcool, focando em experiências mais saudáveis, como gastronomia consciente, arte e atividades ao ar livre.
Com isso, as casas noturnas sentem o impacto da mudança, como aponta Dennis Nazário. “Hoje, se você falar em casa noturna, são poucas que estão em evidência. A galera mais nova não quer mais amanhecer na noite. É uma geração que curte eventos esporádicos e tem um lifestyle mais saudável”, observa o empresário.
Nazário ainda destaca o crescimento do pagode como reflexo desse novo comportamento: “O pagode está forte porque começa cedo, acaba cedo, e é democrático. Ninguém te julga pela roupa, pelo quanto você gastou ou se está bebendo.”
O que se observa é uma transformação na maneira como os jovens percebem o lazer. A ideia de que diversão e saúde não podem coexistir está ficando cada vez mais ultrapassada.
A pandemia de Covid-19, que forçou uma reclusão forçada em muitas pessoas, teve um papel importante nesse processo, já que muitos jovens usaram esse tempo para refletir sobre suas prioridades, e o resultado foi a adoção de hábitos mais saudáveis e conscientes, o que inclui a reavaliação das atividades noturnas.
Equilíbrio
Essa mudança de estilo de vida é muito mais do que uma simples tendência passageira. É uma reinvenção do conceito de lazer e diversão, onde o equilíbrio entre o corpo e a mente passa a ser o principal objetivo. A busca por uma vida mais saudável, a conexão com o ambiente ao redor e a escolha por experiências que alimentam o bem-estar interior são cada vez mais atraentes para os jovens.
Segundo a socióloga e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Mariana Thibes, as gerações anteriores tinham no álcool e na embriaguez uma experiência compartilhada que unia os grupos e funcionava como elemento central da socialização.
O uso abusivo de álcool deixou de ser fundamental para a socialização. Para diversos jovens, há uma mudança de sentido dessa experiência, logo, a embriaguez passa a ser vista não mais como um passaporte para estar em certos grupos, mas como um sinal de descontrole e até de saúde mental abalada”, explica.
Além disso, as novas opções de diversão também contribuem para a criação de uma rede de apoio social mais conectada, que tende a priorizar a qualidade da interação humana e o respeito pelos limites individuais.
