O exército de Níger anunciou nessa quarta-feira (26) que derrubou o presidente do país, Mohamed Bazoum, criticando o que qualificou como a “contínua deterioração da situação de segurança e má gestão econômica e social“. Além disso, o exército também ordenou o fechamento das fronteiras.
Em três comunicados lidos em rede nacional de televisão, os golpistas, organizados em uma plataforma chamada Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CLSP), reafirmaram seu “respeito por todos os compromissos assinados pelo Níger”. Os militares disseram nos comunicados que “todas as instituições da Sétima República estão suspensas” e que “as forças de defesa e segurança estão lidando com a situação“.
“Pedimos a todos os parceiros externos que não interfiram“, acrescentaram, antes de decretarem o fechamento das fronteiras terrestres e aéreas “até que a situação se estabilize“.
O Níger, cuja capital é Niamei, é um país da África Ocidental com mais de 75% de sua área de terra coberta pelo Deserto do Saara. Com uma população predominantemente islâmica, estimada em mais de 17 milhões de habitantes, faz fronteira com sete países: Argélia e Líbia, ao norte; Chade a leste; Nigéria e Benim ao sul; e Burquina Fasso e Mali a oeste. É um dos países mais pobres do mundo, sofre com a violência jihadista e com os efeitos das mudanças climáticas e da crise alimentar, que afetam milhões de pessoas.
Nos comunicados, lidos pelo coronel Amadou Abramane em nome do “presidente do CLSP”, foi decretado toque de recolher das 22h às 5h “em todo o território até segunda ordem”.
Os líderes do golpe também prometeram às comunidades nacional e internacional respeitar a “integridade física e moral das autoridades derrubadas, de acordo com os princípios dos direitos humanos“.
Com essas palavras, o coronel Abramane pôs fim às dúvidas sobre o paradeiro do presidente Bazoum nesta quarta-feira, após os acessos ao palácio presidencial serem fechados com ele dentro e depois de a conta da presidência do Níger no Twitter informar que membros da Guarda Presidencial realizavam uma ação golpista.
O chefe da diplomacia do Níger e chefe do governo interino, Hassoumi Massoudou, rejeitou na quinta-feira, 27, o golpe de Estado e afirmou que seu governo representa as “autoridades legítimas e legais”, em declarações ao canal de televisão France 24.
“O poder legal e legítimo é aquele exercido pelo presidente eleito do Níger, Mohamed Bazoum”, que atualmente está sendo mantido como refém por líderes militares golpistas em sua residência oficial em Niamey, disse Massoudou. O presidente Mohamed Bazoum “está em boas condições de saúde”, acrescentou.
Em 31 de março de 2021, as autoridades do Níger abortaram uma tentativa de golpe militar contra Bazoum dois dias antes de sua posse – ela se limitou a uma série de tiroteios perto do Palácio Presidencial na capital do país, Niamey.
Os partidos da base do governo pediram aos golpistas que tomaram o palácio presidencial nesta quarta-feira para que entreguem as armas, e ao povo nigerino para se mobilizar maciçamente para defender a democracia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, falou com o presidente deposto nesta quarta-feira e transmitiu seu apoio diante da violação da legitimidade constitucional no Níger, que foi condenada por vários países e blocos regionais.
O presidente do Níger, Mohamed Bazoum, se pronunciou e prometeu no início desta quinta-feira, 27, proteger os ganhos democráticos “duramente conquistados” após ser sequestrado pelas tropas. “Os ganhos duramente conquistados serão salvaguardados. Todos os nigerianos que amam a democracia e a liberdade zelarão por eles”, disse Bazoum em uma mensagem publicada por volta das 05:00 GMT de quinta-feira, no Twitter, rebatizado de X.
“Pedimos que as facções militares retornem às suas fileiras. Tudo pode ser alcançado por meio do diálogo, mas é necessário que as instituições da República funcionem”, disse também Massoudou.
As negociações entre Bazoum e a guarda presidencial para encontrar uma solução fracassaram sem que ficasse claro quais eram as exigências dos militares. Uma fonte próxima ao presidente aparentemente deposto disse que a guarda presidencial “se recusou a libertar” Bazoum e que “o exército lhe deu um ultimato”, sem especificar em que consistia.
Manifestação
Os partidários de Bazoum fizeram uma manifestação em Niamey para tentar se aproximar de sua residência, onde ele estava detido, mas foram dispersados no final do dia por tiros de advertência da guarda presidencial, informou um jornalista da AFP.
Antes do anúncio, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou que iria tentar mediar o que era então uma tentativa de golpe.
A manobra militar foi condenada pelos parceiros do Níger, desde a União Africana até a União Europeia, incluindo a França (que tem uma presença militar no país) e os Estados Unidos.
O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, pediu a “libertação imediata” de Bazoum e advertiu que a entrega da ajuda financeira dos EUA ao país africano dependia da “manutenção da democracia”. (Com agências internacionais).