Manter-se ativa durante a gravidez pode ser mais do que uma questão de bem-estar, trata-se de um cuidado essencial para a saúde da mãe e do bebê. A prática regular de exercícios ajuda a controlar o ganho de peso, aliviar desconfortos típicos da gestação, como dores nas costas e inchaços, e ainda prepara o corpo para o parto. Além dos benefícios físicos, movimentar-se também é uma aliada da mente, já que reduz o estresse e melhora a qualidade do sono em uma fase marcada por tantas mudanças.
O GPS|Brasília conversou com especialistas que reforçam a importância da atividade física neste período, sempre com acompanhamento profissional e dentro dos limites de segurança. De acordo com o Ministério da Saúde, gestantes saudáveis devem realizar ao menos 150 minutos de exercícios moderados por semana, distribuídos em três ou mais dias.
Segundo a médica ginecologista com especialização em reprodução humana Bárbara Freyre, a prática regular é decisiva para prevenir complicações. “Diversos estudos evidenciam que os exercícios na gestação estão associados a menor incidência de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, trombose e ganho ponderal excessivo”, explica. Ela acrescenta ainda que os movimentos favorecem a resistência muscular, a mobilidade pélvica e podem até reduzir a duração do trabalho de parto.
Mulheres previamente ativas podem manter a prática desde o primeiro trimestre, desde que não haja contraindicações. Para gestantes sedentárias, recomenda-se iniciar após a avaliação médica, com progressão gradual de intensidade. Mas, para além dos benefícios, a médica lembra que é preciso atenção redobrada. “Exercícios sem supervisão adequada ou em gestantes com contra indicações obstétricas podem gerar riscos como trabalho de parto prematuro, restrição de crescimento fetal ou complicações osteomusculares”, alerta.
Entre os sinais de alerta que exigem a suspensão imediata da atividade física estão sangramentos, perda de líquido amniótico, falta de ar desproporcional ao esforço, dor abdominal ou torácica, palpitações, cefaleia intensa, tontura, fraqueza muscular súbita e inchaço ou dor articular significativa. A médica reforça que a presença de qualquer um desses sintomas deve levar a gestante a interromper o exercício e procurar avaliação profissional o quanto antes.
A educadora física Paula Machado destaca que o treino deve ser sempre personalizado e adaptado às fases da gestação. “No primeiro trimestre, o foco é criar hábitos com intensidade leve a moderada. Já no segundo, intensificamos de forma gradual, priorizando estabilidade do core e membros inferiores. No terceiro trimestre, os treinos são mais curtos, de baixo impacto, com alongamentos e fortalecimento da região lombar e pélvica”, detalha.
Segundo Paula, além da adaptação de intensidade, é fundamental que a gestante tenha liberação médica e siga cuidados básicos para garantir a segurança durante os treinos. “É preciso controlar a intensidade, observar a postura e monitorar possíveis sinais como tontura, falta de ar, dor abdominal ou sangramento. Esses indícios devem ser levados a sério para evitar complicações”, alerta.
Ela também reforça a importância da variedade nas modalidades, sempre respeitando o perfil de cada aluna. “Caminhada, bicicleta, hidroginástica, natação e pilates são ótimas opções. Eu costumo combinar exercícios aeróbicos com musculação, porque esse equilíbrio ajuda na circulação, na força e no preparo para o parto”, afirma. A profissional lembra ainda que a diversidade nos treinos favorece não só o corpo, mas também o aspecto emocional da gestante.
As mudanças fisiológicas da gravidez exigem ainda mais atenção ao longo do processo. “O condicionamento na gestação muda bastante. A frequência cardíaca sobe mais rápido, a respiração fica diferente e o centro de gravidade se altera. Tudo isso exige foco no abdômen e na estabilidade, além de um olhar atento do profissional para ajustar cada detalhe do treino”, explica Paula.
Outro ponto relevante, segundo a educadora, é o suporte emocional oferecido pelo acompanhamento especializado. “O monitoramento de sinais de sobrecarga ajuda a prevenir lesões e também transmite confiança para a gestante, que se sente mais segura ao se exercitar nesse período. Esse cuidado é essencial, porque o corpo fica mais sensível, principalmente nas articulações”, ressalta.
Para além da gestação, Paula lembra que os benefícios da prática se estendem ao pós-parto. “Mulheres que se mantêm ativas recuperam a energia mais rápido, têm melhor postura, maior resistência e menor risco de depressão pós-parto. Hoje já sabemos que treinar na gravidez é de extrema importância para controlar o ganho de peso, reduzir a hipertensão e diminuir as chances de diabetes gestacional. É um combo de saúde que favorece mãe e bebê, durante e depois da gestação”, diz a educadora.
A ginecologista Bárbara Freyre acrescenta que o retorno aos treinos após o nascimento do bebê deve respeitar o tempo de recuperação de cada mulher. “Após parto vaginal não complicado, exercícios leves podem ser iniciados em duas a quatro semanas. Já em casos de cesariana, recomenda-se aguardar de seis a oito semanas para atividades de maior intensidade, respeitando a cicatrização da parede abdominal”, orienta. Segundo ela, a retomada deve ser gradual, privilegiando inicialmente exercícios de baixo impacto e com atenção à função do assoalho pélvico, à estabilidade lombopélvica e à prevenção da diástase abdominal.