Uma troca bem-humorada entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o advogado de defesa do general Augusto Heleno, Matheus Milanez, arrancou risadas dos depoentes e advogados presentes no primeiro dia de audiências dos oito réus apontados como integrantes do chamado “núcleo crucial” da suposta trama golpista.
Tudo começou quando o defensor do aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu a Moraes que adiasse o início dos depoimentos nesta terça-feira (10).
“O motivo da minha intervenção é bem pontual, são quase 20h da noite (sic). A audiência amanhã se inicia às 9h, considerando que temos que chegar meia hora antes; nós viemos em um carro. Eu ainda preciso levar o general para a casa e ir para a minha casa. Eu, minimamente, quero jantar, excelência, porque eu só tomei café da manhã quase”, disse.
Moraes, então, interrompe o advogado: “Imagine eu”. E Milanez prossegue. “Eu rogo a essa Turma, se tiver como colocar um pouco mais tarde [a audiência de amanhã], de modo a se tornar viável”.
A resposta do ministro então provocou reações bem-humoradas dos presentes. “[Começaremos] às 9:02”, brincou. “O general Heleno vai pedir pro senhor dar uma acelerada no carro, só não vá ser multado.”
“Vamos ver se nós terminamos amanhã, doutor. Aí o senhor tem a quarta-feira para tomar um belo brunch; quinta-feira, um jantar que é Dia dos Namorados; sexta-feira é dia de Santo Antônio, e o senhor comemora também numa quermesse; se a gente começa a atrasar, não acaba”, continuou.
A fala ocorreu após quase seis horas de depoimentos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem. O depoimento do tenente-coronel, que fechou a delação premiada, foi o primeiro e já se encerrou.
“Núcleo crucial”
O STF deu início a uma das etapas mais aguardadas da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado: os interrogatórios dos oito réus do chamado “núcleo crucial”. A fase marca o momento de autodefesa dos acusados, que poderão apresentar suas versões dos fatos e rebater a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Os depoimentos são conduzidos de forma presencial na Sala de Sessões da Primeira Turma do STF, com exceção do general Walter Braga Netto, que participa por videoconferência direto do presídio no Rio de Janeiro. Moraes é o relator do caso e centraliza os questionamentos. Todas as perguntas de advogados e do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet Branco, precisarão passar por ele.
Além de Cid, Heleno e Ramagem, irão depor os seguintes réus: ex-comandante da Marinha Almir Garnier; ex-ministro da Justiça Anderson Torres; ex-presidente Jair Bolsonaro; ex-ministro da Defesa Paulo Sério Nogueira; e o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto.