Presença quase obrigatória em comemorações e datas especiais, o chocolate, seja em formato de bombom ou em alguma sobremesa, é um dos alimentos mais apreciados e celebrados no mundo. Quando consumido com moderação, especialmente nas versões com alto teor de cacau (70%), pode até oferecer benefícios à saúde por conter antioxidantes naturais.
No entanto, o excesso, comum em períodos festivos, pode trazer desconfortos como inchaço, náusea, refluxo, cansaço e até dores abdominais. Esses sintomas estão frequentemente ligados ao alto consumo de chocolates ultraprocessados, que têm baixo teor de cacau e são ricos em açúcar, gorduras saturadas e aditivos químicos. Esse tipo de combinação pode sobrecarregar o organismo, favorecer processos inflamatórios e atrapalhar o funcionamento do intestino e do fígado.
Para quem já passou do ponto em algum momento, a notícia é que é possível reequilibrar o corpo com medidas simples. Alimentação leve, hidratação adequada, chás com propriedades digestivas e estratégias naturais de desintoxicação ajudam a amenizar os efeitos do excesso. A nutricionista Flávia Azevedo, especialista em nutrição integrativa, explica como recuperar o bem-estar e aliviar os impactos do exagero.
Para identificar se o corpo está inflamado após o consumo em excesso de chocolate ou outros doces, o corpo pode reagir de diversas formas. É importante destacar que não se trata de uma intoxicação clássica, como um envenenamento, mas sim de uma sobrecarga metabólica , que gera sinais físicos e emocionais claros. “Os sintomas mais comuns são o inchaço abdominal e gases, causados pelo excesso de açúcar e podem desequilibrar a microbiota intestinal, favorecendo a fermentação e o desconforto. Outro ponto para observar é a fadiga, já que após o pico de glicose, vem a queda abrupta de energia. O corpo sente como se estivesse em uma ressaca leve”, explica a nutricionista.
Ainda de acordo com a especialista, também é comum náusea leve e sensação de estômago pesado, pois o fígado e o estômago trabalham mais para metabolizar o excesso de açúcar e gordura. “Outra questão é o sono ruim pois, o açúcar, especialmente à noite, interfere na produção de melatonina e prejudica o sono reparador. Também observamos um desejo por mais açúcar e uma fome precoce, quando o corpo entra em um ciclo vicioso: após o pico de glicose e insulina, vem a queda — e o corpo pede mais doce para compensar”, alerta Flávia.
É possível fazer uma desintoxicação do organismo?
Segundo a Flávia, o que chamamos de desintoxicar no cotidiano é, na verdade, criar as condições ideais para que o corpo exerça sua função natural com mais eficiência. Ou seja, reduzir o que sobrecarrega o organismo (açúcares, álcool, alimentos ultraprocessados, gordura trans) e reforçar o que ajuda os órgãos a trabalharem bem (nutrientes, antioxidantes, água, descanso).
“O que realmente ajuda o corpo a desintoxicar é uma hidratação adequada, consumir alimentos naturais, ricos em fibras e antioxidantes, realizar atividades físicas regulares e evitar novos excessos, mesmo que por um tempo. A verdadeira desintoxicação é um ato de autocuidado consciente, e não de paciência. Não exige restrição extrema, mas sim um retorno ao essencial: nutrição inteligente, hidratação e descanso”, pontua a nutricionista.
Após os exageros com chocolate e outros alimentos ricos em açúcar, o corpo pede uma pausa e, segundo a nutricionista Flávia Azevedo, é possível promover uma faxina natural por meio da alimentação. “Frutas vermelhas como morango, amora e mirtilo são excelentes aliadas por serem ricas em antioxidantes, que ajudam a combater o estresse oxidativo provocado por alimentos inflamatórios”, explica. Além delas, alimentos com alto teor de fibras, como chia, linhaça, aveia e batata-doce, contribuem para a eliminação de toxinas e o equilíbrio da flora intestinal, fundamental para um detox eficaz.
A nutricionista também destaca o poder do azeite de oliva extravirgem, que oferece gorduras saudáveis e polifenóis com ação anti-inflamatória e protetora para o fígado. Já entre as bebidas, chás com propriedades específicas podem acelerar o processo de desintoxicação. “O chá de hibisco tem ação diurética, o verde estimula o metabolismo, e o de gengibre com cúrcuma atua como um potente anti-inflamatório natural”, recomenda a especialista.
Além da alimentação equilibrada e da hidratação constante, a prática de atividades físicas é uma grande aliada no processo de desintoxicação. De acordo com a nutricionista, exercícios aeróbicos e de força não apenas aceleram a eliminação de toxinas, como também reorganizam o metabolismo, melhoram o humor e combatem inflamações silenciosas. Entre as práticas recomendadas estão caminhadas ao ar livre, corridas leves, treinos funcionais e musculação moderada, que aumentam o gasto energético e mantêm o metabolismo ativo mesmo após o treino.
Sobre estratégias alimentares mais radicais, como o jejum intermitente ou dietas restritivas, Flávia alerta que o ideal, é retornar à rotina alimentar saudável com equilíbrio e sem culpa. E quando o assunto é voltar a consumir chocolate de forma consciente, a especialista recomenda apostar em versões com, no mínimo, 70% de cacau. “Esse tipo de chocolate tem menos açúcar, mais antioxidantes e pode ser consumido com moderação — até dois quadradinhos por dia”, orienta.
Para quem quer aproveitar doces em ocasiões especiais sem exageros, o segredo está no planejamento e na consciência. “Coma com atenção plena, saboreie, coma devagar, sem distrações. Não compense antes ou depois, isso gera relação de proteção com a comida. Tenha atenção na quantidade e volte ao ritmo natural no dia seguinte com boas escolhas, movimento e sono adequado”, recomenda a especialista.