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“Eu gosto de ver a felicidade na cara das pessoas quando estão comendo”, diz Raquel Amaral

Em conversa com o GPS, a chef fala sobre a passagem pelo 'Masterchef'
Foto: Vanessa Castro

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Ensopadinho de carne com agrião da vovó, o pãozinho quentinho da bisavó e biscoito de ‘ezinho’ da mamãe são as comidas favoritas que vêm nas lembranças da infância da chef Raquel Amaral. Natural de Fortaleza, no Ceará, ela se considera carioca — já que passou apenas 18 dias na cidade natal e dez anos no Rio de Janeiro —, mas é apaixonada por Brasília, destino que veio por causa da profissão do pai, militar, e, mais tarde, escolheu para viver.

Já pensou em ser atleta e fez vestibular para educação física, mas cursou e trabalhou nove anos como web designer. Em 2010 desistiu de tudo e foi vender marmitas com a sua companheira, Fabrícia, com quem mora há 18 anos.

“Eu era infeliz na profissão e um dia minha irmã me falou ‘porque você não vai trabalhar com o que você ama? Com comida?’ Eu disse a ela que isso não era trabalho, era hobby e foi assim que eu descobri o segredo da felicidade”, relata.

Não foram dias nada fáceis. Raquel conta que fazia as marmitas diariamente e já chegou a ter que vender a sua própria refeição para ter dinheiro para comprar os ingredientes e cozinhar no dia seguinte. Mas as marmitas rapidamente ficaram conhecidas. Sempre muito esperta e visionária, ela falava para todos que fazia menu para eventos. Um dia a mentirinha colou e ela foi chamada para cozinhar em um jantar. “Cheguei muito amadora, cheia de sacos, mas a paella foi um sucesso”. Depois disso, recebeu muitas indicações. Realmente entrou no ramo dos eventos, como Personal Chef, e se apaixonou pela área.

Trajetória profissional

Sem ter feito curso algum de gastronomia, a chef foi se profissionalizando no dia a dia, se destacando pela criação de cardápios autorais, e já participou de dois programas de TV. O primeiro foi o ‘The Taste Brasil’, na 3ª temporada, ao ar em 2017. Depois veio o ‘Masterchef Profissionais’,em 2023. A eliminação do programa é uma das maiores frustrações da sua vida: por causa da troca de um ingrediente por engano.

Independente da saída, ela diz que foi uma experiência única e enriquecedora. Sobre seu estilo, a chef gosta de criar coisas diferentes, que saiam do óbvio, e tem preferência por fazer frutos do mar, comidas frias e entradinhas, mas ela dispara: “Sou exagerada. Uma coisa que eu acho um absurdo é você ir para um menu degustação e sair com fome. Pode ser fino, pode ter pompa, mas você está indo para comer”.

Hoje, Raquel se aventura também por novos caminhos: “Eu realizei um sonho que nem sabia que tinha, ter a minha própria cachaça”. Fã da bebida e de ingredientes brasileiros, ela recebeu o convite de fazer o seu próprio blend e assim nasceu a Gastrozinha — uma união com o Alambique Remedin —, uma mistura de quatro madeiras, que se diferencia por harmonizar com o máximo possível de receitas, entre drinks e pratos, ou como ingrediente na gastronomia.

Atualmente, ela está engajada em fomentar a valorização da cachaça no país e participa do seu primeiro festival da bebida: “Agora posso dizer que sou cachaceira, com orgulho. No meu casamento, por exemplo, a gente não serviu whisky, serviu cachaça e foi um sucesso”.

Foto: Vanessa Castro

Personalidade forte

Mesmo com tanto trabalho, não falta tempo para ficar com a família, que há quatro anos cresceu com a adoção das duas filhas: Carol, de seis anos, e Ana Lara, de oito. A adoção saiu em 2020, um mês antes do lockdown por causa da pandemia da Covid. “A gente não pôde fazer socialização com elas, não deu para comprar nada em loja, foi tudo online. Nós que pintamos quarto, fizemos tudo”, conta.

Com uma personalidade forte, Raquel ressalta que o que mais ama na vida é agradar as pessoas, principalmente por meio do paladar. “Eu sou mandona e brava, mas eu nasci pra servir. Eu gosto de ver a felicidade na cara das pessoas quando estão comendo”, afirma.

Sempre muito agitada, a cozinha é como se fosse o seu habitat natural. Ela conta que na infância, a única maneira de ficar quieta em casa era quando sua avó a colocava sentada em cima da bancada para vê-la cozinhar.

“A gastronomia me deixa ir onde a minha mente quer ir. Não me manda fazer a mesma coisa o tempo inteiro, eu não sou capaz, e com os eventos que eu faço, eu posso ir onde eu quiser”, diz orgulhosa. A pergunta que Raquel nunca soube responder bem, hoje ela responde convicta. ‘Como você define a sua culinária?’ São três palavras: criativa, afetiva e inusitada, que, inclusive, ela fez questão de tatuar no braço.