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Estúdios, garagens, palcos, oficinas… com vocês, a Broadw3

Brasília teria facilmente uma Broadway para chamar de sua. Teria, no futuro do pretérito, porque é claro que ainda não tem. Mas basta um olhar mais poético para o canto mais amalgamado da cidade – exatamente o lugar que escapou das linhas do arquiteto, cuja nomenclatura é incerta e onde cada prédio foi se constituindo como pôde – para chegar à conclusão de que só não temos uma Broadw3 porque não queremos.

Se estas 19 iniciativas aqui listadas se unissem e reivindicassem que a Rua das Oficinas – a paralela da W3 Norte, que dá uma equalizada nas relações sociais, que embarreira a mera gentrificação para servir de artéria de encontro a humanos de todos os extratos sociais – e adjacências fosse o pedaço de Broadway que tanto glamour daria à nossa cidade, é certo que isso seria imparável.

Fica a provocação. E fica também a lembrança de uma vocação: os imensos letreiros que forram a fachada do Conjunto Nacional, tombados como patrimônio histórico de Brasília, foram inspirados nos da Broadway. E, bom, a lista aqui inclui espaços de diversas naturezas, pitadas de gastronomia e não apenas a Rua das Oficinas, mas as imediações.

Afinal, a Broadway não é uma rua apenas, é uma ideia que se expande e irradia. O passo inicial, que depende de outro agente importante aqui e não apenas dos empreendedores culturais, está sendo dado: o governo do Distrito Federal acaba de lançar uma consulta pública prevendo a requalificação da região.

Teatro Brasília Shopping – SCN
O pequeno teatro que fica no cantinho do shopping que dá a largada para a W3 é uma referência geográfica inicial importante. Acolhe diversas produções da cidade, é charmoso e tem no foyer a arte gráfica de Omik, já consagrado grafiteiro que deixa tudo mais colorido e acolhedor.

Foto: Divulgação

Casa da Cultura Brasília – 703
A casa da cantora lírica Janete Dornellas é na residencial da 703, bem colada à Rua das Oficinas, e, com quatro salas e um salão, realiza saraus, atividades de formação, oficinas… Delícia pura.

Melodia – 706
Loja de música das mais consagradas e conhecidas da cidade, a Melodia foi aquele caso de “começou com uma portinha, pegou a loja do lado, foi, foi”… Hoje dispõe de café e, não raro, tem mini shows de rock à noite por lá.

Estúdio Sinal Music – 706
É um estúdio musical, numa das casas da 706. Serve a músicos, não realiza eventos nem é de acesso público. Mas está aqui por ser um ótimo espaço de encontro entre bandas e músicos profissionais e para mostrar, mais uma vez, a vocação da região para a arte.

Empório Cultural – 706/707 (Teatro Ana Noceti)
Só esse espaço já daria todo o sentido para essa lista, porque mais Broadway, impossível. Só de montagens da própria Broadway que eles já fizeram, é possível listar Rent, We Will Rock You, Miss Saigon… A lista é imensa! Referência no teatro musical, o Empório Cultural começou num espaço que já havia abrigado um teatro, até se mudar para a sede definitiva que é… um espetáculo. Além de formar alunos em diversos gêneros artísticos, abriga o Teatro Ana Noceti, onde é possível assistir às apresentações e apreciar a qualidade do trabalho que desenvolvem.

Mapa’ti – 707
A histórica casa de Teresa Padilha, que é toda da arte. Além do teatro, no subsolo, onde ocorrem apresentações e aulas, há um salão espelhado, uma sala-foyer que é puro aconchego e a cozinha. Uma ida ao espaço para assistir Vinicius, em cartaz por lá há sete anos com a Companhia Infiltrados todo último final de semana de cada mês, permite esse encontro completo com o espaço. E é puro afã.

Cida Carvalho Mosaicos – 708
É no bloco C da 708 que Cida Carvalho abriga seu Estúdio de Mosaico, onde ministra aulas e expõe. Desde 2008. Espaço dedicado à arte musiva, Cida está em Brasília desde 2002.

Casa dos Quatro – 708
É uma casa mesmo: seu foyer é como a sala de uma casa, onde há um espaço expositivo, pequena biblioteca, dispõe de displays para vendas de livros. Há um espaço administrativo que serve de coworking artístico. E há um teatro, com capacidade de 55 lugares, com extensa programação. O nome remete à casa, aos quatro fundadores e à Brasília, já que um “quadradinho” é formado por quatro pontas. Foi o último grande sonho do teatrólogo Alexandre Ribondi, que é um desses quatro. Este, que escreve esse texto, é outro.

GTR Escola de Música – SCRN 708/9
Instituto de ensino de música, é onde boa parte do rock se formou nos últimos anos e foi fundado pelo guitarrista da banda Angra, Marcelo Barbosa.

Foto: Divulgação

Ateliê Flávia Pinto – 708/709
Artista da cerâmica, Flávia mantém um ateliê com muitas – muitas mesmo – peças na nossa rota. Uma amostra da qualidade da cerâmica brasiliense atual, que se organiza num circuito que, vira e mexe, promove feiras e exposições pela cidade.

Teatro Oficina Perdiz – 710
Histórico na resistência teatral da cidade, o teatro Oficina do Perdiz era comandado por José Perdiz até seu falecimento, em 2022. Inicialmente constituído nos fundos de sua oficina, na 708/9 Norte, o local foi removido sob protestos da classe artística, mas o poder público encontrou o atual espaço, na 710, para que as atividades continuassem. E continuam, agora sob o comando de Bruno Estrela.

TAO Filmes – 711
O ponto onde antes funcionava a Escola Teatral Confins Artísticos (ETCA) desde 2016 tornou-se sede da Tao Filmes. Todo dedicado às artes, dispõe de um café, estúdio de música, salas de aula para aprendizes de teatro e um teatro para 30 lugares muito aconchegante e bem equipado. Comandado pela diretora Luciana Martuchelli e seus sócios, Filipe Lima e Juliana Zancanaro, é espaço de formação e também de apreciação, com ótima programação.

Trupe Trabalhe Essa Ideia / Teatro Engrenagem – 712
Eu disse Broadway? Pois aqui temos outro espaço de formação bastante focado em teatro musical, porém com ampla frente de trabalho para crianças. Desde a fundação, em 2017, está na Rua das Oficinas e, depois de poucos anos de atividade, estruturou-se na 712 Norte, onde ampliou a estrutura e criou o Teatro Engrenagem.

Llola Lab – 714
Nem estão incluídos nessa lista os inúmeros brechós da Rua das Oficinas, porque, só eles, já dariam um roteiro completo. Mas o Llora Lab merece por ter conceito e curadoria. É brechó, mas é também ponto de diálogos artísticos. Em agosto, por exemplo, realizou-se lá uma série de encontros sobre Teoria e Prática de Terrorismo e Guerrilha em Políticas Culturais. Arte.

Vetorial Produções Musicais – 714
Mais um estúdio musical que não é de acesso público, mas que dá à rua o movimento artístico que tanto está sendo aqui defendido. São a artéria do rock, estúdios como esse…

Muviola Filmes – 715
Outro ponto desse roteiro que não é espaço de acesso público, mas que consta aqui por promover encontros e se relacionar com esse território criativo: a Muviola é uma produtora de conteúdo audiovisual que faz projetos de ficção, videoclipes, documentários… E que, vira e mexe, realiza crocâncias, como palestras sobre a realização do primeiro longa-metragem – e fez isso, recentemente, na sede da Tao Filmes, viu só como é a coisa do território?

Ashram Casa Jasmin – 716
Numa das casas geminadas, ali contíguas à Rua das Oficinas, uma parede com arte. Na da entrada, a mandala que dá marca ao que se pode viver e experimentar ali: massagem, yoga, meditação, cerâmica, aula e apresentação de música, temperos, palestras, arte, parquinho de criança, horta, parede de escalada, banho de mangueira, canto, dança, culinária, circo, musicalização… A Casa Jasmin é a arte de inspiração oriental, a calma em dias atribulados.

Refinaria Estúdios – 716
Antes chamado de Refinaria Discos, o estúdio fica discretamente localizado numa das esquinas da Rua das Oficinas. Ao entrar, o que o nome de agora propõe: estúdios de música. Com o diferencial de que é possível gravar e fazer um som com público ali. O estúdio maior, a Sala D, tem estantes de livros, iluminação de mini palco, piano e espaço para que se possa sentar e apreciar a música autoral de nossa cidade.

Scala Companhia de Artes – 716
A mais recente iniciativa cultural da lista a dar cor à ideia de que temos uma BroadW3 é também a última deste roteiro, e não sem propósito: está na 716 Norte, ali onde acaba o comércio, a última quadra. E embora seja jovem, nascida em 2019, carrega em seu espaço físico uma trajetória de 26 anos de empreendimento artístico na cidade: fica onde era a unidade da Asa Norte do Instituto Claude Debussy. E, tal como seu antecessor, a Scala começou sendo espaço de dança e rumou para o teatro musical. O espaço da Asa Norte é mais dedicado à formação, enquanto que, na expansão do negócio, a Scala assumiu outro, em Águas Claras, onde há palco e plateia capazes de receber 200 pessoas. Potência.

 

*Matéria escrita pelo repórter Morillo Carvalho para a Revista GPS 37

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