Ulysses (ou Ulisses), de James Joyce, é um dos mais importantes livros da literatura moderna. Lançada em 1922, a obra, que revolucionou a forma do romance, segue desafiando leitores mais de um século depois de seu lançamento.
A história toda se passa em um único dia – 16 de junho de 1904. Leopold Bloom sai de sua casa pela manhã, em Dublin, cumpre suas obrigações, e volta. Os outros personagens são Molly e Stephen Dedalus. Um dia, em nada menos do que 800 páginas (na edição brasileira mais recente, de 2022).
James Joyce (1882-1941) compôs e escreveu Ulysses entre 1914 e 1921, em 23 endereços diferentes, na Áustria, Suíça, Itália e França. Um livro diferente de tudo o que já havia sido publicado – e que só foi lançado graças à coragem de Sylvia Bleach, proprietária da livraria Shakespeare and Company. Em fevereiro do ano passado, às vésperas do aniversário de 140 anos do escritor irlandês, os dois únicos exemplares dessa estranha obra foram expostos na vitrine da hoje lendária livraria.
Desafio
Livro diferente. Mas… difícil de ler? “É trabalhoso”, responde Caetano W. Galindo, o mais recente tradutor de Joyce, pela Companhia das Letras. Dirce Waltrick do Amarante, estudiosa da obra do autor e tradutora de outros textos dele, diz que é preciso atravessar a barreira do desconhecido. Poeta, diretor da Rede de Museus-Casas Literários e organizador desde 1992 do Bloomsday em São Paulo, Marcelo Tápia reconhece que o livro pode ser difícil. Mas, ele também diz, “Ulysses permite diversos níveis de leitura”. O evento começa às 19h, na Casa das Rosas.
A primeira vez em que se ouviu o nome Bloomsday foi em 1924. O próprio Joyce comentou isso, sobre um grupo de pessoas que tinha se reunido em Dublin, em uma carta enviada à sua mecenas Harriet Weaver. A maior festa do Bloomsday é mesmo em Dublin, onde fãs se fantasiam e passeiam pelos cenários do romance, tomam cerveja no centenário Davy Byrnes Pub e fazem leituras da obra do cultuado autor.
Em São Paulo ele é celebrado desde 1988, por iniciativa de Haroldo de Campos, mas há celebrações também em outros lugares, como Florianópolis.
Ulisses ou Ulysses?
E, sobre a grafia do título, Ulisses ou Ulysses, não há uma definição – sempre foi Ulisses, até o lançamento da edição da Companhia das Letras, que optou pela grafia antiga. Muitos joycianos, como Dirce, preferem Ulisses.
Tápia ressalta que as três traduções brasileiras (de Antonio Houaiss, de 1966; Bernardina Pinheiro, 2005; e Caetano Galindo, 2012) apresentam qualidades distintas e “são trabalhos absolutamente admiráveis”. “No entanto, penso que a mais recente delas, de Caetano W. Galindo, é a mais bem resolvida, resultante de um longo processo de depuração e maturação.”
“Como toda tradução, há perdas e ganhos nas três”, diz Dirce. “São de épocas diferentes, com projetos editorais e comerciais diferentes e publicadas por diferentes editoras. Isso ajuda a criar o mito da pior e da melhor tradução, como se a qualidade de uma pudesse ser objetivamente avaliada com base em outra que, como disse, é de uma época diferente.”
*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.