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Especialista Leonardo Ces explica como fazer gestão do patrimônio familiar

Consultor disse que controle emocional e algumas práticas são essenciais para conquistar os objetivos econômicos
Foto: Reprodução GPS

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Na busca por orientações financeiras e estratégias de investimento, muitas pessoas se deparam com desafios e dúvidas sobre como aplicar o dinheiro e até mesmo ter uma aposentadoria futura. O especialista financeiro, Leonardo Ces, que atua na empresa de consultoria patrimonial IBBRA, compartilha sua visão sobre como dar o primeiro passo em direção a uma gestão de recursos mais eficiente. Em entrevista feita pelo colunista do GPS Brasília, Caio Barbiere, ele ressalta a importância de entender os objetivos, medos e desafios individuais, destacando que não há uma resposta única para solucionar todas as questões financeiras, mas que é necessário estudar cada uma delas.

Ao longo da entrevista, Leonardo Ces oferece insights valiosos sobre investimentos, aquisição de imóveis, planejamento de aposentadoria e previdência privada, desmistificando conceitos e fornecendo orientações práticas para pessoas de diversos perfis financeiros.

 Confira a entrevista abaixo:

 Nem sempre temos a consciência ou, de fato, sabemos como investir ou se planejar para melhorar o rendimento do patrimônio. Como se dá esse primeiro passo?
“Isso costuma ser bastante desafiador no início, principalmente, quando é uma relação que está se iniciando. Mas a gente já faz isso há muito tempo e normalmente nossos clientes vem por indicações. Vem um indicado, gostou do trabalho, depois vem uma segunda família e assim por diante. Mas nós temos uma cultura tradicional de que ‘eu tenho que tomar conta do meu dinheiro’ e ninguém e ninguém mais pode fazer isso por mim. Isso acaba, às vezes, travando um pouco, mas essa barreira depois se quebra normalmente flui muito melhor o trabalho, até porque é um trabalho bem complexo, então é sempre bom você ter mais mãos trabalhando em conjunto.”

 

Na internet, sempre vemos posts com questionamento sobre ‘o que é melhor?’ Comprar um imóvel ou investir o dinheiro? Alugar? Qual é a solução diante dessas dúvidas?
“A resposta pra esse tipo de pergunta é a pior de todas: depende! É a famosa resposta que não se responde, porque nem tudo é só o dinheiro em si. Ter o imóvel próprio faz muita diferença. É algo cultural, é algo que te dá uma segurança, é algo que traz um conforto para sua família. Eu nunca, nunca deixo de recomendar que as famílias tenham o seu imóvel. A grande diferença é como você vai fazer essa compra e qual o melhor momento para isso. Então, o imóvel é um ativo complexo de investimento. Não é só comprar um imóvel e está tudo certo. Existem várias análises para serem feitas para saber se o imóvel é o ideal ou não. Eu moro de aluguel até hoje e financeiramente falando, se você tem um planejamento, se você é organizado e entende o que está fazendo, financeiramente falando, o imóvel para moradia muitas vezes não vale a pena ser comprado. Você tem que saber conciliar as duas coisas. Mas é possível sim você morar num imóvel e conseguir ter a eficiência financeira dele. Então, tem muita gente na internet que fica dando respostas milagrosas, respostas mágicas. Aquela famosa resposta do Eureca! Eu descobri que só existe uma forma certa de se fazer A ou B e não é bem assim que funciona. Quem vende imóvel vai sempre falar que imóvel é o melhor negócio do mundo, que todo mundo tem que ter imóvel. Quem vive de aplicação financeira, quem mexe no mercado financeiro, sempre vai falar que imóvel não é viável, que você tem que ter dinheiro aplicado e que se você está comprando seu imóvel, está perdendo dinheiro. Então, existe um meio termo.”

 

Recentemente, a jornalista Raquel Sheherazade, participou de um reality numa emissora, onde ela declarou que ganhava R$ 200 mil quando apresentava o Jornal do SBT. Ela contou que, até hoje, não tinha conseguido comprar uma casa própria, uma declaração que assustou muita gente. Como é você avalia essa declaração dela?
“Quando eu falei aqui que para não se ter um imóvel, você precisa de planejamento, saber o que está fazendo e ser organizado, é exatamente por isso. Você não é fruto do que ganha e sim do que poupa por mês. Se você falar com alguém que ganha R$ 5 mil por mês, ele vai dizer que o dia que ele ganhar R$10 mil por mês, ele vai conseguir poupar dinheiro, mas que hoje é impossível. Se você conversar com alguém que ganha R$ 50 mil por mês e que não guarda nada, ele vai dizer que o dia em que ele ganhar R$100 mil, ele vai conseguir poupar. Então, o ato de poupar, o ato de se organizar, de juntar dinheiro, ele não tem a ver com quanto você ganha. Ele tem a ver com a sua psicologia por trás do dinheiro. Então, é muito comum você ter pessoas que gastam tudo o que ganham e não tem o patrimônio que deveria ter pelo que ganha. Então, se alguém que ganha R$ 200 mil por mês já passou do que a gente chama de ‘a fase de sobrevivência’, que é de até R$ 5 mil por mês de ganho, então, até R$ 5 mil por mês você não está buscando luxos, está buscando dignidade de sobrevivência. Depois de R$ 5 mil, qualquer ser humano teria capacidade de guardar dinheiro por mês, teria capacidade de prover um acúmulo patrimonial para alcançar seus objetivos. A organização com certeza é um bloqueio psicológico que pode ter origem infância, é alguma coisa da criação e não é necessariamente um conhecimento de dinheiro ou de investimento.”

 

Como uma pessoa que tem o perfil da Sheherazade pode dar o start que ‘precisa se planejar para ter uma aposentadoria digna e não ficar dependendo eternamente de trabalhos ou freelas?
“Existem algumas regrinhas que a gente usa e uma delas é muito importante você entender. Nós vamos sempre começar por psicologia. É entender sonho, medo e dor. São três substantivos muito importantes para qualquer planejamento. Entender quais são os seus sonhos, quais são seus medos e quais são suas dores. O que que você enfrenta hoje? O que que te dói hoje? Quais medos você tem de passar? Quais sonhos que você quer alcançar? Quando você responde essas três perguntas que normalmente não envolvem dinheiro, que o dinheiro é a ferramenta, vai ficar mais fácil de você entender o seguinte: Para alcançar esse sonho, quanto de dinheiro você precisa? E você pode entrar na outra regrinha do 22, os dois patinhos na lagoa, que é o número que você vai multiplicar os seus gastos anuais para saber o tanto de dinheiro que você precisa. ”

 

Explica melhor essa regrinha, como ela funciona? 
“Essa regrinha foi só uma simplificação da matemática. Se você quer uma aposentadoria de R$ R$100 mil por ano, você multiplica os R$ 100 mil por 22. Você precisa ter R$ 2.2 milhões de patrimônio para que esse dinheiro possa te render os R$ 100 mil R$ por ano. Então, é sempre bom lembrar que o dinheiro perde o valor com o tempo. O que você comprava com R$ 100 há 20 anos é muito diferente do que você compra com R$ 100 hoje. Na regra dos 2 patinhos na lagoa, já está incluída o efeito da inflação. A partir do momento que você decidiu o montante financeiro que você precisa, você vem para o último passo, que seria a sequência de aprender a ganhar, aprender a sobrar, aprender a proteger e aprender a render. Quando você passa nessa sequência, você consegue atingir o seu objetivo. No entanto, as pessoas normalmente invertem essa sequência.”

 

Você atende justamente perfis familiares de pessoas que têm um patrimônio que gostariam de investir e melhor, de ter um retorno melhor para o futuro da família. Ao todo, são 500 clientes no Brasil. Como você chegou a esse número?
“No último ano, a gente tentou entrar um pouco no marketing via tráfego e tudo mais, mas nós estamos apanhando para isso. Já são quase 11 anos de empresa numa jornada que veio de grão em grão. Somos 50 pessoas na empresa. Cada grupo toma conta de um setor diferente. O foco é trazer esse tipo de serviço que tem esse olhar macro para o patrimônio familiar. É muito comum para famílias bilionárias montarem uma empresa como a nossa só para eles, composta por advogados, contadores, financistas, psicólogos, que é exatamente a equipe que a gente tem. A proposta do nosso negócio é exatamente trazer essa realidade deles para famílias bem menores.”

 

Eu sou um homem solteiro, sem filhos e não tenho pretensão de construir grandes patrimônios, mesmo, porque não faria sentido na visão de herança familiar. Qual seria uma solução para esse perfil? 
“A gente também considera esse perfil como um perfil familiar. É uma família de uma pessoa só. Quando a gente fala família, não é necessariamente a família tradicional. Quando você fala em herança e não herança, a única coisa que muda é o valor ao final desse processo. Porque existem duas formas de se formar a aposentadoria. Uma que você faz uma renda perpétua. Então essa regra dos dois patinhos, ela é uma renda perpétua. Então você juntar R$ 2.2 milhões para uma renda de R$100 mil anuais. Enquanto você estiver vivo, se você viver 100 anos, 200 anos, você vai ter R$ 100 mil corrigidos inflação. Quando você vier a faltar, esses R$ 2.2 milhões vão para alguém. Eles não acabam. Mas existe uma outra forma em que você faz um cálculo estimando a data de sua morte. Pra isso, naturalmente, você precisaria de um valor um pouco menor. Se você vai aposentar com 60 anos e acha que vai falecer aos 90, é uma conta. Se você vai aposentar com 60 e acha que vai falecer aos 100, é outra conta.”

 Acredito que muita gente fica se perguntando se vale ou não ter a previdência privada, principalmente, para quem não tem emprego estável. É uma solução a previdência privada ou não? 
“A previdência privada já foi muito ruim, principalmente, até 2018. Houve mudanças na legislação em 2016 e 2018 que melhoraram bastante as condições da previdência privada. Mas é preciso ter cuidado. Previdência privada é um produto que foi instaurada pelos bancos. Tinha uma margem muito grande de comissão. Então, ele foi muito vendido e gerou um sentimento de que previdência privada é seguro, mas a diferença é que ela é um envelope regulado pela Susep, ao invés de ser regulado pela CVM, muda só o órgão regulador. E ela tem algumas funções de seguro por ser regulado pela Superintendência de Seguros e Previdência. Então, o grande problema de investir na previdência privada é se você você investir em produtos que são totalmente variáveis, que são instáveis ou arriscados. Mas, em geral, a previdência privada é um excelente instrumento de sucessão.”