A escolha do sucessor do Dalai Lama segue uma tradição budista tibetana muito antiga, baseada na crença da reencarnação dos lamas, especialmente dos tulkus, que são mestres espirituais altamente realizados. O processo para encontrar o novo Dalai Lama é complexo e envolve diversos rituais religiosos, sinais e, mais recentemente, tensões políticas. Quando o Dalai Lama morre, acredita-se que ele renasce em um novo corpo humano para continuar seu trabalho.
Nessa quarta-feira (2), o 14º Dalai Lama anunciou que existirá um sucessor após sua morte, dando continuidade a tradição secular. No próximo domingo (6), o líder religioso faz noventa anos.
A figura do Dalai Lama é central no budismo tibetano e representa, segundo o site oficial da figura religiosa, o desejo de atingir a iluminação completa. Os Dalai Lamas também teriam jurado renascer no mundo para ajudar todos os seres vivos.
O 14º Dalai Lama nasceu como Lhamo Dhondup, em 6 de julho de 1935, em uma família de agricultores na atual província de Qinghai, no extremo noroeste da China. Em fevereiro de 1940, Thondup foi oficialmente empossado como líder espiritual dos tibetanos em uma cerimônia no Palácio de Potala, em Lhasa, hoje capital da Região Autônoma do Tibete.
O processo de identificação dessa nova persona começa com uma busca liderada por monges da escola Gelug, a corrente do budismo tibetano à qual o Dalai Lama pertence. Esse grupo passa a observar uma série de sinais considerados espirituais. Entre eles estão sonhos e visões de lamas renomados, alterações incomuns no corpo do Dalai Lama falecido, e até revelações no lago sagrado Lhamo Latso, no Tibete, onde os monges tradicionalmente meditam em busca de visões que revelem a localização do nascimento da nova encarnação.
Esse processo pode levar anos, mas uma vez que uma criança com potencial é localizada — geralmente entre dois e cinco anos —, é submetida a testes. Os monges apresentam objetos que pertenceram ao Dalai Lama anterior, misturados com outros semelhantes. Se a criança reconhece os itens corretos com frequência e demonstra comportamentos considerados “iluminados”, ela pode ser reconhecida como a reencarnação legítima.
A confirmação, no entanto, não encerra a jornada. A criança é então levada a um mosteiro para receber uma educação espiritual rigorosa, a fim de assumir o papel de guia de milhões de budistas ao redor do mundo.
Sucessor
Dalai Lama, exilado na Índia desde 1959, afirmou em seu livro Voz para os Sem Voz, lançado em março de 2025, que seu sucessor nascerá fora da China e que divulgará detalhes sobre a sucessão por volta de seu 90º aniversário. Durante um discurso recente, ele mencionou a criação de uma estrutura para discutir a continuidade da instituição dos Dalai Lamas.
Em um discurso anterior de 2011, sugeriu que um budista iluminado poderia “manifestar uma emanação antes da morte”, gerando especulações sobre a possibilidade de treinar um sucessor enquanto ainda estivesse vivo.
O parlamento tibetano no exílio, com sede em Dharamshala, afirmou que um sistema está sendo desenvolvido para garantir a continuidade do governo exilado e a identificação do sucessor do 14º Dalai Lama. No entanto, a China argumenta que tem o direito de aprovar o sucessor, citando um ritual de seleção de 1793 durante a dinastia Qing.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China reafirmou que a reencarnação do Dalai Lama deve obedecer às leis e regulamentos chineses. Em seu livro, o Dalai Lama também pediu que os tibetanos não aceitassem “candidatos escolhidos para fins políticos”, incluindo aqueles designados pela China.