GPS Brasília comscore

Entrevista: Nando Reis faz 60 anos e anuncia turnê com Titãs

Multiartista, ele também relança disco de 1995, fala sobre drogas, processo criativo e diz que está mais saudável que dez anos atrás

Compartilhe:

Do escritório de sua casa em Jaú, no **interior de São Paulo**, onde passa **férias**, o cantor e compositor **Nando Reis** diz à reportagem do _Estadão_ que se dedica a retomar a intimidade com o **contrabaixo**, instrumento que ele não toca com regularidade há mais de vinte anos. O empenho é para que assuma seu antigo posto nos **Titãs**, na turnê de reencontro do grupo, que cairá na estrada em abril.

Foi desse escritório que ele ligou, há dois anos, para Sérgio Britto, para falar sobre o reencontro. _”Ele ficou surpreso com a minha disposição para que isso ocorresse. Talvez houvesse a impressão de que eu seria o menos empolgado. E não!”,_ diz Nando, explicando que uma ou duas gerações, incluindo três de seus cinco filhos, não vivenciaram os Titãs em sua formação **original**.

![(Foto: Cortesia)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/naovoumeadaptar_divulgacao_2_bcd1c3ab80.webp)

Para além do reencontro temporário com o grupo, Nando está na estrada com as turnês _Nando Hits_ e _Pitty e Nando_, ao lado da roqueira baiana. Para não deixar passar em branco a comemoração dos **sessenta anos** de idade, que ele completa nesta quinta-feira, 12, coloca nas plataformas e em vinil duplo uma versão remasterizada de seu primeiro álbum solo, _12 de Janeiro_, lançado em 1995, quando Nando ainda era dos Titãs.

![(Foto: Cortesia)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/PTTYNANDO_DIVULGACAO_scaled_3914ea187c.jpg)

A nova versão do álbum ainda traz como **faixas bônus** uma versão **remix** de _ECT_ e gravações de _Real Grandeza e Gerânio_. Recentemente, Nando lançou uma nova versão da música _A Fila_, dele e de Marcelo Fromer (1961-2001), em dueto com a cantora e compositora Jade Baraldo, ex-participante do _The Voice Brasil_.

**Como você olha para o álbum 12 de Janeiro, depois de quase trinta anos?**

Não costumo ouvir meus discos depois de lançados. Mas, evidentemente, eu voltei a ouvir esse por conta da **remasterização**. E, nisso, tem sempre algo de arriscado. Todo disco tem suas **ambivalências**, ou melhor, sentimentos ambivalentes. Considero o _12 de Janeiro_ uma espécie de **prólogo**. Isso fica simbolizado em algo que o distingue de todos os outros da minha **discografia**: ele foi feito e gravado com **violão de nylon**. É como se esse disco resumisse tudo o que eu era até então, de um acumulado desde a **infância**, na busca e compreensão de uma linguagem própria. Há, ao meu ver, nesse disco, uma qualidade muito boa nas canções. Entre os aspectos talvez mais insatisfatórios está a minha voz. Nela há uma estridência quase **infantil** no timbre. Mas gosto dele. Esse disco é distinto dos demais no que há de melhor e no que não é tão bom assim.

**Como funcionava, à época, a ideia de que uma determinada música não era para os Titãs ou para o seu disco solo?**

Antes de mim mesmo, o próprio Titãs dizia _”essa não é para nós”._ Eles me davam o **cartão vermelho** com toda a clareza. Isso eu aprendi a muito custo. Mas, no contexto em que esse disco foi feito, era evidente essa dissociação. Ele está entre o _Titanomaquia_, considerado um dos mais pesados do grupo, e o _Domingo_. Ou seja, o 12 de Janeiro é o **oposto** do _Titanomaquia_. Pela sua **sonoridade**, pode ser chamado de **MPB**. Talvez uma ou duas músicas pudessem servir para o _Titanomaquia_. Mas não serviram. Tanto que esse disco está assinado como Titãs, o grupo, mas não tem nenhuma música minha nele. A única minha era _Meu Aniversário_, mas ela não entrou.

![(Foto: Cortesia/Carol Siqueira)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Nando_Reis_Nov2021_Foto_Carol_Siqueira_049_1_4c78b56fba.jpg)

**A canção que abre o disco, _Bom Dia_, repete o verso _”eu vou andando”_ e fala _”uma vida melhor”_. Era mesmo um movimento e uma vontade de, naquele momento, pegar novos caminhos que dariam na sua saída dos Titãs?**

A posteriori, sempre fazemos essas **relações**. Antes, são suspeitas. Mas, claro, uma busca atrás de algo que não sabia exatamente o que era. Naquele momento eu queria mais **autoria**, um trabalho distinto do que eu poderia alcançar com os Titãs. Não só essa música, que compus, impactado pela minha aproximação com o **Carlinhos Brown**, mas igualmente o nome do disco, _12 de Janeiro_, que é o dia do meu aniversário, têm, sim, um simbolismo de um novo **nascimento**.

**Na época que você lançou esse álbum, _Na Estrada_ e _Diariamente_ já eram sucessos com a Marisa Monte, _Onde Você Mora_ com o Cidade Negra também e Cássia Eller tinha gravado a canção ECT. E, a partir daí, você começou a ser reconhecido como grande compositor, atividade que você já exercia nos Titãs. Como isso bateu para você?**

Eu estava acostumado com essa **posição oculta** quando se faz parte de uma banda, sobretudo como os Titãs, muito numerosa. Nesse momento, eu estava me arvorando dessa condição de **compositor**, ganhando confiança. Para mim, funcionou como um condutor de identidade suficientemente **encorajador**.

**Você acaba de regravar _A Fila_ com Jade Baraldo. E tem feito muito esse movimento de gravar com vários artistas como Pitty, Péricles, Anavitória, Duda Beat, Jão. Você gosta desses encontros musicais, não?**

Eu gosto. E eles são o avesso de minha **natureza**. Sou **retraído**. Quando você canta com outro artista há uma camada diferente de aproximação. Tenho curiosidade pelo modo de produção de cada pessoa. Péricles é algo como uma **entidade**. Tenho mais facilidade com as mulheres. Com homens, sempre há um grau de fricção. Talvez tenha esgotado tudo da relação com homens nos Titãs. Tenha fascínio por vozes **femininas** e talvez por isso o dueto com o Jão foi algo surpreendente, de toda beleza.
**
Você chega aos sessenta anos com vigor criativo e físico. Acha que ter dado um “freio de arrumação” no álcool e nas drogas, como você disse anteriormente, contribuiu para isso?**

Há seis anos não bebo e não uso nada. Sim, usei muito, em **excesso**. Em alguns momentos, isso tinha uma função associada ao processo de **composição**. Com o tempo, essas coisas trouxeram seus efeitos **colaterais**, sobretudo na minha **saúde mental**. Agora, me julgo mais **saudável** e mentalmente mais **apto** do que estava aos cinquenta anos. Não é uma impressão, é uma constatação. Claro, tem horas em que sinto vontade de me **drogar, beber**. Os últimos quatro anos foram um **pesadelo** (diz em referência ao governo Bolsonaro). Fico feliz de ter conseguido olhar para tudo com muita **lucidez**. Acabou o álcool. E os demônios (risos).