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Encapsulado: 7 momentos de moda que definiram 2022

Há poucos dias do fim do ano, a coluna relembra as empreitadas fashion que foram todo o vapor dos últimos 12 meses

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Há quem diga que o tempo cura. Sara doenças, lambe feridas… sana e resolve. Para o ‘povo da moda’, entretanto, o tempo não tem função anestésica — longe disso, ele é **estimulante**. Faz a roda girar, faz o mercado inflar, faz o que é arte crescer raízes e o que é descartável ser podado fora. **O tempo mede o que merece ficar**, ser lembrado e ser celebrado no tempo que virá.

Dezembro, com seu carácter nostálgico e conclusivo, tem qualidades únicas: proporciona uma janela temporal de limbo, pausa e paradoxo. Recordamos do que passou enquanto desejamos pelo que há de vir. **Contradição mágica que fertiliza mudança e recomeço.**

Em honra ao clima retrospectivo dessa época, a coluna resgata **os 6 momentos de moda** — entre bons, ruins e puramente inexplicáveis — **que definiram o curso de 2022** e hão de pautar os debates de 2023. E ao ano velho, dizemos adeus…

**Vai com Deus**

![Após quase oito anos à frente da marca, designer se despede da posição de diretor criativo (Foto: Filippo Fior)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_6493_3f652185b6.JPG)

Cabelos longos, barba farta, dedos recheados de anéis: uma imagem quase santa, quase religiosa. Ministro de milagres, transformou água em vinho. **“Em nome do Pai, do Filho, e da Casa Gucci”**.

Após temporadas de esquecimento, a grife europeia abriu o mar para seu Messias. **Alessandro**, italiano ‘da gema’, ascendeu ao trono da marca em 2015, revirando cadeiras, criando manchetes, chocando e transformando. Operou uma revolução que desde as épocas de Tom Ford a empresa não via, e durante aproximados 6 anos, o designer de estilo e estética inconfundíveis **fez luz**.

No dia 23 de novembro de 2022, **Michele fez queixo cair com o anúncio de sua partida. “Hoje, uma jornada incrível termina para mim”**, compartilhou em sua conta no Instagram. Mais de 15 mil comentários responderam com carinho. “Obrigada Alessandro por sua visão única. Muito amor, respeito e admiração“, postou a editora da Vogue Japão Anna Dello Russo. “Te desejando montes de bençãos em seu novo capítulo”, lançou Naomi Campbell. A lista segue.

![Gucci Spring/Summer 2023 (Foto: Gucci)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Gucci_Spring_Summer_2023_Header_4787014496.png)

Fato: **a contribuição de Alessandro à moda é imensurável**, e seu poder de influência dentro — e fora — da etiqueta foram responsáveis por uma subversão de plásticas e valores. Foram os tempos de mirra, de incenso e, principalmente, de **ouro**.

Parte do catálogo Kering, a Gucci é, atualmente, **a mais lucrativa de todas as _labels_ de luxo detidas pelo conglomerado**, respondendo por dois terços do faturamento do grupo. Em 2015, a receita da marca não chegava aos 4 bilhões de euros. Em 2021, esse número salta para 9,7 bilhões. Reis e magos não poderiam ter pedido por uma noite mais estrelada — e ainda assim, **choveu**.

Após bem-sucedidas temporadas e muito ‘din din’ na conta, o grupo, que desde 2018 disparava em frente ao rival **LVMH**, sofreu uma considerável queda. A causa dessa mudança de cenário (conjecturam muitos) despenca nas mãos da **Gucci**, e Alessandro teve de cair sobre a espada.

O que virá a seguir é de todo modo incerto. Um novo diretor criativo ainda não foi apontado, e o futuro de Michele é tão curioso mistério. O que resta, no momento, é memória, história, e ponto de interrogação: **que milagres Santo Alessandro irá operar agora?**

**Happy birthday, Mr. President**

![Kim Kardashian usa vestido de Marilyn Monroe no Met Gala (Foto: Divulgação)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Unknown_2_6d179f0143.jpeg)

Havia muito tempo que a primeira segunda-feira de maio não entregava agito como essa. Após dois anos sofrendo efeitos pós-pandêmicos, o **Met Gala** estendeu novamente seu tapete rosa com paz e promessa: recebam, em toda glória, a história imagética de uma era de ouro perdida no tempo. O tema **_Gilded Glamour_** celebrava uma rica herança que ficou no século passado, mas a polêmica em torno do look de **Kim Kardashian** tinha cheiro e jeito de ‘cancelamento atual’.

Loiríssima e 7kg mais magra, a Kardashian-mor apareceu encarnada em sua versão de **Marilyn Monroe**. Sentido fazia: apesar de estar longe do cinema, Kim, assim como Marilyn, é a mulher reduzida a objeto de desejo cujo talento e potencial transcendem o título de _sex symbol_. Ambas são notórias por suas curvas, ambas causam frisson sem nem tentar. Apesar da janela histórica não bater de todo com a temática eleita por Anna Wintour, o potencial desse crossover de ícones soava tão monumental que é difícil imaginar a anfitriã se aborrecendo.

O vestido escolhido havia sido usado pela _bombshell_ original em 1962, para cantar o mais icônico de todos os **‘parabéns a você’** (sensual e sussurrado, mirado ao Presidente Kennedy). A peça, posse do museu **Ripley’s**, passou por uma jornada longa até chegar ao carpete rosado, e mesmo o esforço sendo muito, a grande maioria da audiência questionou o gesto.

![Vestido foi feito sob medida para Marilyn em 1962](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Unknown_3_e87c8c21f7.jpeg)

Num súbito, a internet caiu de boca: da intensa estratégia de perda de peso (em entrevistas subsequentes, a _reality star_ deu insights chocantes a respeito do regime regrado que teve de enfrentar para caber dentro do vestido) ao aviltamento da memória de Marilyn, passando pelo dano possivelmente causado à costura da peça, o _fashion moment_ rendeu assunto como pano para manga. Foram semanas de debate em torno da escolha, dentro dos quais muita gente a criticou, pouca aprovou, e todo o globo comentou. Como em todo bom escândalo, **Kim foi Kim, e Marilyn foi Marilyn. **

**Primeira vez**

![Chanel é primeira casa de luxo a realizar desfile na África (Foto: Chanel)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/chanels_t_a34f3e248b.png)

Era uma quinta-feira, 8 de dezembro, e fazia calor em **Dakar, Senegal. Paris**, a mais de cinco mil quilómetros de distância, recebia as frentes frias de um inverno que é rigoroso, mas não é anómalo. A disparidade entre os termómetros é gritante, **mas não é tudo que separa as nações africana e europeia** — e o que as une, um passado de colonialismo e escravismo, não inspira redenção. Por um breve momento, entretanto, um **encontro cultural de caráter reparador** foi encomendado: no espaço onde se lia o remetente, **Coco Chanel**.

Pela primeira vez na história da alta moda, uma casa de luxo elegeu um país da África sub-sahaariana para não apenas receber um desfile, mas ser o objeto de estudo de uma coleção completa: o tradicional **_Métiers D’art_**, show-conceito que celebra os ateliês operando sob a etiqueta Chanel, mergulhou na herança e no design da **cultura senegalesa**.

![Backstage do desfile apresentado em Dakar (Foto: Acielle)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/chanel_metiers_dart_backstage_acielle_styledumonde_028_2_cb9abf3904.png)

**A seriedade da missão não cedia margens para erro**, visto que a linha que divide o tributo da caricatura é, na moda, irreparavelmente fina. Seguindo a mão leve e o olhar moderado de **Virginie Viard**, a _label_ teve tato e elegância, lançando à passarela uma linha rica, inspirada e fresca, que perde todos os clichês e se encontra numa fusão mais-que-bem-vinda de Chanel e tropicalismo.

Opulência, brilho, cor e estampa foram bem mesclados com os signos de simplicidade da marca que é reverenciada por seu DNA ‘menos é mais’.
**Vimos uma Chanel mais descontraída**, mais sedutora, que se arrisca em ousadas combinações de styling, mistura texturas e carrega de modo sutil, mas poderoso, símbolos de valor da cultura local. Longe de atender à fantasia criada pelo imaginário popular sobre a África, Viard pintou silhuetas típicas do passado usando o pincel do presente, despertando interesse e desejo enquanto narra a história de um país que não recebe a atenção merecida. À Vogue americana, a diretora criativa comentou que esse **“foi um lindo exercício em humanidade”**. E do lado de cá, Virginie, **lindo foi assistir**.

**Na rede ao lado**

![A ‘Tiktokzação’ da moda e a importância do ‘valor choque’ (Foto: Malu Borges via Instagram)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/screen_shot_2022_06_02_at_19_33_41_9a3b5f4313.png)

Em 2020, o público mainstream foi apresentado a uma plataforma de caráter novo. **Videos curtos, trends divertidas, um modo mais dinâmico e menos sóbrio de consumir conteúdo**. Chega 2022, e a distração, cujo _upload_ não tinha pretensão além de sanar o tédio da pandemia, se consolidou como uma nova variável na fórmula desse crescente e lucrativo mundo da internet. **Tiktok**, estamos falando de você.

Em outubro deste ano, a rede chegou à marca de **1 bilhão de usuários ativos**, catapultando a plataforma para a prestigiada posição de aplicativo mais baixado em 2022. Seu incentivo à comunidade de criadores e rico potencial de descoberta — artifícios dos quais o competidor Instagram se desligou há muito tempo — foram pensados para excelir no mundo viral, e são responsáveis por disciplinar uma nova geração de influenciares que já domina o mercado de moda nacional.

**Lelê Burnier** e **Malu Borges** são exemplos que pulam da língua. Cariocas de vinte-e-pucos-anos, as _influencers_ se destacaram no _#FashionTikTok_ através da tag **Arrume-se Comigo**, e de video em vídeo e look e look, chegaram sem suar à raia dos milhões de seguidores. O algoritmo deu apoio, lógico, mas o motivo de tamanho sucesso se acha no estilo das _creators_: **criativo, incomum e altamente reconhecível**. Com uma verve experimental, abordam o vestir de modo livre, incorporando peças consideradas ‘questionáveis’ e propondo misturas nada familiares ao olhar. Não se curvam às críticas dos que não abraçam o estilo pessoal, pousando constantemente uma inalterável dúvida: seria a ‘tara’ por looks tão controversos apenas uma maneira de conquistar **_views_**? E mais: estaria a moda se apoiando de bengala no **efeito-viral** para atrair olhares num mundo de telas?

O bom senso pede mais **gentileza**. Afinal, pessoas não se vestiam de modo espontâneo e care free antes das redes sociais? Uma despretensiosa visita à memória coletiva responde. Seria essa revolução tecnológica apenas um empurrãozinho na direção de uma era de estilo menos **padronizada**? Necessária, inclusive, considerando o quão regrada e unilateral tèm sido as visões sobre estilo nos últimos vinte anos (relembre programas como _Esquadrão da Moda_, cujo resultado final constantemente aniquilava o senso de originalidade dos participantes). O que é novidade, contudo, é essa ‘corrida maluca’ na disputa pelo look mais comentado, mais ultrajante, escandaloso.

**Vestir sempre foi um ato político**. Simbólico e dissociável. Graças à nova era digital, **a internet já não se veste mais do mesmo jeito**.

**Vezes miu**

![Miu Miu set se torna a silhueta-sensação de 2022](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/IMG_6592_660ecb209c.JPG)

**2022 foi o ano da Miu Miu**. Sem dúvidas, sem aspas, sem poréns. A grife-irmã da italiana Prada era costumeiramente vista como a ‘caçula boba’, uma versão menor, mais jovem e mais inexperiente da primogênita. Isso, até o fatídico Spring 2022, apresentado em outubro do ano passado.

Num súbito, o controverso **‘Miu Miu set’** foi apresentado ao mundo, que mastigou e engoliu a ideia do conjunto de micro-saia + sweater cropped como um bom aperitivo. Em pouquíssimo tempo, o look se tornou um recorte midiático: estampou capas de revistas, gerou likes para influencers, inspirou cópias e imitações, causou de fato. De Nicole Kidman a Livia Nunes, de Hailey Bieber a Maísa, é difícil conceber como o curso de tendências do ano teria seguido sem a influência dessa simples silhueta.

No Instagram, a página @miumiuset foi criada para publicar registros exclusivos da produção. A Lyst, plataforma de pesquisa fashion, afirmou que cerca de 900 pesquisas diárias eram feitas em busca do set. Na mídia impressa ou digital, não dava outra: **era mil vezes miu miu**.

Talvez o apelo tenha sido a pele: após toda a desconstrução trazida pelo look-pandemia, confortável e aconchegante, o timão da moda foi rápido em fazer um giro de 180º assim que as regras de isolamento foram flexibilizadas. De sneakers e _lounge-wear_, múltiplas grifes passaram a lançar à passarela looks com mais bossa, mais molejo, mais **pele**. O sexy se tornou a macro-tendência a observar, e de um modo ou de outro, a sensualidade era o que se servia à mesa. O apetite por trends que correspondessem a esses critérios era grande, e a massa fez um prato cheio.

Como todo modismo que estoura a bolha, todavia, o conjuntinho rapidamente se tornou cansativo aos olhos. Foi parodiado, virou meme, virou fantasia de carnaval. Chegou, após poucos meses, ao fim de uma rápida e curta rota — parafraseando Vinicius, contudo, **foi eterno enquanto durou**.

**Pintada de ouro**

![Bella Hadid é ganha look pintado em spray durante desfile da Coperni (Foto: Getty Images)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/maxresdefault_1_dc847d266e.jpg)

**Bella Hadid pintada de branco na tela do seu celular**. Uma, duas, dez, quinze vezes. Graças à **Coperni**, marca que há pouquíssimo tempo passava longe do radar fashionista, a imagem do ano foi repetidamente gravada em nossos discos rígidos: o **mental e o digital**.

Apresentado durante a semana de moda de Paris, em setembro, o _spring/summer_ da grife trouxe muito que já se deu por visto: recortes, assimetria, linhas limpas e uma interpretação bem atual de minimalista. Ao todo, 37 looks que não balançam o coração. Até que ela apareceu.

Seminua, segurando os seios, usando uma fina calcinha nude, a eleita **Modelo do Ano de 2022 pela Vogue** mais parecia uma estátua polida em mármore. Imóvel como a Vênus de Milo, permaneceu enquanto jatos de tinta disparavam o que em segundos se tornaria um vestido branco de alça única.

A tecnologia que transforma pintura em tecido não é nova, mas há muito tempo não era usada na passarela. Um líquido com algodão ou fibras sintéticas em sua composição, que quando entra em contato com a pele evapora e se torna um sólido. É de criação da empresa espanhola Fabrican que, junto à Coperni, levou em torno de seis meses para aperfeiçoar a técnica. Com gingado e uma intensa quebra de quadril, Bella desfilou a obra sem notar, talvez, que **a grande arte ali era ela**.

Após o desfile, colocou-se na mesa o real valor e originalidade do momento. Internet a dentro, discutia-se se de fato havia **inovação**, resgatando à atenção o icônico desfile com robôs de tinta _by_ **Alexander McQueen**, em 1999, e se a performance não seria meramente uma tentativa preguiçosa de **‘caçar um viral’** — considerando o quanto a receita da label é dependente de momentos como esse. Calculado 48h após o show, o valor de impacto de mídia se encontrava em **USD 26,3 milhões**. No Google, pesquisas envolvendo a marca inflaram em **quatro vezes** entre os dias 29 de setembro e 2 de outubro — três dias após a apresentação —, e todos os termos relacionados envolviam Hadid e o memorável vestido de tinta. Ironicamente, a peça que mais agregou valor à grife é, também, a única que não será comercializada.

Estratégias com esse nível de resultado e impacto são uma aula em marketing, e dizem muito sobre a interseção entre moda e cultura pop que pauta o consumo da década atual. **Mais vale uma coleção bem desenhada ou uma bem publicada?** Costura ou curtida? Corte ou algoritmo? Tendo em mente o quanto o mundo pós-pandémico é conectado e superlativo, talvez essa **fome de espetáculo** seja apenas uma manifestação saudosa que celebra o brilho das apresentações presenciais, perdido durante o isolamento de 2020. Talvez, seja o novo samba que a banda toque, e as grifes tenham de se adequar à música. Com todo essa balanço, troca de ritmo e som alto, algo é impossível negar: **ninguém bailaria tão bem como Bella**.

**Em péssimo tom**

![Balenciaga lança campanha com carácter bizarro e é alvo de revolta](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/2022_balenciaga_thekit_61fa3ab3e6.png)

Fim de ano é um tempo mágico. De bons samaritanos com corações cheios de amor, de mesa farta e árvore mais ainda. De fraternidade, de caridade e, em 2022, de **cancelamento**.

Em sua mais recente campanha de Natal, a **Balenciaga** — que sempre usou o ‘ponto fora da curva’ em negrito — tentou algo diferente. Nada de vermelhos e verdes, enfeites metalizados e neve branquinha. **O urso de pelúcia, contudo, estava lá**.

Numa série de imagens perturbadoras, a grife montou cenários que posicionavam **crianças em volta de artigos de uso adulto**, como apetrechos para bebidas alcoólicas e, ainda mais inquietante, acessórios do universo **_bondage_**. As fotos foram clicadas por Gabriele Galimberti, fotógrafo italiano cujo centro da obra são registros de pessoas entre objetos, retratando a história que nossas posses contam a nosso respeito.

Em outro momento, modelos vestiam looks da mala em salas de escritório, aonde pequenas ‘pistas’ da decoração apontavam o enredo para uma temática sumamente indigesta. Na papelada cenográfica, reprodução de **documentos sobre um caso de pornografia infantil**. Não era difícil imaginar o que procederia.

**O repúdio e revolta tomaram proporções colossais**. Modelos, celebridades, estilistas e outras personas da indústria foram pressionadas a se pronunciar. _Influencers_ publicaram videos virais destruindo suas peças da etiqueta. As redes da grife entraram em modo silencioso. Para uma empresa cuja notoriedade está em seu viés satírico e analítico, de criações que induzem ao debate e à contemplação da dinâmica social, **a rejeição à retórica foi total. Ninguém entendeu, ninguém quis entender**. Uma _label_ cujo sucesso está diretamente ligado à controvérsia de seus produtos nunca teve um _feedback_ tão aniquilador.

Numa tentativa de redirecionar a culpa, a companhia divulgou que estaria **processando a produtora responsável pelas campanhas em USD 25 milhões**. A estratégia foi alterada poucos dias depois, e o que a substituiu foi um pedido de desculpas acompanhado de uma série de medidas sociais adotadas pela Balenciaga para não apenas garantir que erros como esse não se repitam, mas também para proteger a integridade física de crianças e adolescentes em parcerias com organizações destinadas a esses projetos.

Mas como um_ faux pas_ dessa dimensão vem a acontecer dentro de uma entidade tão grande? Membros de alto calão do _staff_ Balenciaga foram minuciosamente questionados, e alegam que, apesar da falta de tato e atenção, as insinuações desconcertantes das fotografias não passam de lapsos de produção, e **nunca foram produzidas de modo intencional**. Com tantas ‘coincidências’ que apontam para a mesma conclusão embaçadas por desculpas que inspiram mais perguntas que respostas, saber o que de fato levou à criação e distribuição dessas imagens se torna uma missão sem resultados. **Há culpa, mas não há um culpado. Há reparação, mas não há explicação**.

![Quase passou batido: no canto do clique, o documento impresso reproduz a decisão da Suprema Corte americana num caso sobre consumo e distribuição de pornografia infantil](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/1dfc8cc277bdb821bddb875b7e6fe9bc_685bb32fc4.png)

Nas mãos do georgiano **Demna Gvasalia**, a Balenciaga de Cristóbal ganhou acidez e ironia, se tornando um espelho crítico da sociedade pós-moderna – e lucrando muito com isso. Agora, tomar do próprio veneno é entender que brincar com fogo queima, o que pode vir a significar **uma mudança na maneira como as casas de luxo interpolam o pensamento crítico em suas linhas**.

Se o exemplo de fato ensina, é capaz que grifes se alarmem com o caso, e, com isso, se afastem de temas que, diferentes do abordado pela Balenciaga, podem e devem ser explorados pela ótica da moda. Em perspectiva positiva, contudo, já é hora de grandes polos culturais — não apenas grifes, mas também pessoas públicas, influenciadores, agências de publicidade e produtores de conteúdo de pequeno a grande porte — aprenderem a conduzir suas criações imagéticas com mais **responsabilidade, cuidado e atenção**. Quem sabe, novo ano trará as cenas dos próximos capítulos.

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