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Emily e Nossa Senhora do Nilo são apostas da semana nos cinemas

Dois **filmes** ligados a **livros** viscerais estreiam nos cinemas, hoje, 5. O afegão **Atik Rahimi** baseou-se no premiado livro _Nossa Senhora do Nilo (Nós)_, da escritora ruandesa **Scholastique Mukasonga**, que reconstitui o clima de **ódio** que levou ao **genocídio** da etnia pelos _hutus_, em Ruanda, no começo dos anos 1990.

Foram as **experiências pessoais** da escritora, sobrevivente ao **massacre**, que deram a narrativa **pungente** que promete encantar **cinéfilos**. A partir da escola que dá nome ao filme, o cenário é um **colégio interno católico** situado no alto das montanhas da bacia do Congo e do Nilo, onde jovens da elite ruandense vivem **isoladas** do mundo, até que líderes hutu se apoderam do local, num prelúdio aos **conflitos** que se seguiram. O filme foi premiado no **Festival de Berlim** de 2020.

Já a australiana nascida na Inglaterra **Frances O’Connor** baseou-se não propriamente num livro – _O Morro dos Ventos Uivantes_ -, mas na vida da autora, **Emily Brontë**, mostrando como a garota criada nas charnecas inglesas escreveu a obra **mítica** que tem **desafiado** o tempo. Frances lembra que tinha 15 anos e estudava numa escola católica da **Austrália** quando leu o livro.

>”Como milhões de leitores ao longo do tempo, fiquei impactada pela complexidade da obra, que tinha tudo a ver com sentimentos que eu, como adolescente, estava vivenciando. Mas nunca pensei em adaptar o livro, nem pensava em ser diretora. Tornei-me atriz e só bem mais tarde, passada dos 40, o desejo surgiu. Levei mais de dez anos para concretizá-lo.”

Frances conta sua história de forma atravessada – o livro através da autora, Emily. Em 1978, o francês André Téchiné já havia realizado As Irmãs Brontë, contando a história de Emily, Charlotte e Anne e tentando decifrar o **mistério**: como as filhas de um modesto pároco interiorano se tornaram **grandes escritoras**? Emily, _O Morro dos Ventos Uivantes_; Charlotte, _Jane Eyre_; e Anne, _A Senhora de Wildfell Hall_. Les Soeurs Brontë reconstituía toda uma época. Naquele momento, já havia um culto ao jovem Téchiné e Roland Barthes, um dos oficiantes, aceitou ser Tackeray na história que o diretor contava por meio de **cenas fortes**.

O filme começa com a reação da irmã, Anne, ao livro publicado. Segue-se o _flash-back_. Talvez valha a pena lembrar a **carreira** de **atriz** de Frances O’Connor. Seu papel mais famoso foi a _Fanny Price_ de Jane Austen na adaptação de _Mansfield Park_ pela canadense Patricia Rozema, mas ela também foi Emma Bovary em outra adaptação – de _Madame Bovary_, a obra-prima de Gustave Flaubert.

Na ficção de Frances O’Connor, Emily faz uma dura **crítica** ao livro que o irmão tenta escrever, à sombra dessas irmãs tão **talentosas**. Ele reage com **fúria**, de um jeito que traz **consequências graves** à vida familiar e amorosa de Emily. Como Flaubert, que dizia _”Madame Bovary sou eu”,_ Emily poderia dizer que não apenas o irmão, mas Charlotte, Anne e ela própria foram **Heathcliff**, em diferentes momentos, e o que significa isso? _”O amor destrutivo, a paixão – a incompreensão, o não pertencimento”_. É possível amar e causar dano ao objeto de nossa **adoração**?

>”Li muito para fazer o filme. Escolhi o foco, mas é a minha versão. Tenho certeza de que muitos especialistas não concordarão comigo, mas meu maior desejo é que mais e mais jovens leiam o livro com o mesmo entusiasmo que eu.”

![(Foto: Cortesia)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Novo_trailer_de_Emily_3f9f209497.jpg)

E Frances conta:_ “Morava numa região montanhosa da Austrália, na região de Perth. Pegava o ônibus escolar, uma viagem de mais de uma hora. Lia o livro e a própria paisagem áspera que percorria me jogava dentro da história. Aquele vento, aquelas paixões intensas, tudo inflamava a imaginação da jovem que eu era”_.

Ela lembra que poderia ter feito o filme há dez anos, mas vacilou. _”Nós, mulheres, somos muito cobradas, às vezes é preciso tempo para nos dar a coragem de ousar se desafiar.”_ Uma cena-chave é a da máscara na **brincadeira** familiar, quando Emily evoca o **fantasma** da mãe. Toda a **tormenta** familiar – e a do livro – está ali delineada.

_* Com informações do Estadão Conteúdo_

Redação GPS

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