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Duda Almeida: Cidade Amiga dos Idosos: um Guia para o Futuro de Brasília

O IBGE divulgou, em agosto, os dados da sua última pesquisa intitulada “Projeções das Populações do Brasil e Unidades da Federação”, e vários dados nos chamaram a atenção.  Além das projeções estatísticas em relação ao encolhimento da população, dados sobre expectativa de vida também foram divulgados: vivemos mais e melhor em todo Brasil, com expectativa de vida ampliada para 76,6 anos. 

Nos próximos 17 anos continuaremos crescendo – em 2041 contaremos com 220,5 milhões de habitantes. No ano seguinte, começa uma significativa redução populacional – seis anos antes da projeção anterior do IBGE. Este decréscimo na verdade vem acontecendo desde a década de 1960, quando a taxa de natalidade começou a cair; fenômeno este que é consequência de diversos fatores – econômicos, sociais, médicos, educacionais e culturais, entre outros. Em dados mais precisos, a média de filhos por família em 1960 era de 6,5. Hoje a média nacional está em 1,57 filhos por família.

Além disso, o País vem envelhecendo. Até 2070, pessoas com mais de 70 anos irão compor mais de um terço da população (37,8%). Em 2018, esta porcentagem não chegava a 10%. Nesta mesma projeção futura, dados indicam que a expectativa de vida chegará a 83,9 anos. 

Em Brasilia, especificamente, temos o maior patamar de expectativa de vida do País: 79,9 anos. Mulheres vivem mais: 82,9 anos, ou seja, 6,5 anos a mais que os homens. Em 2035, ou seja, em breve, o contingente de pessoas no DF com mais de 65 anos deve ultrapassar o número de nascidos em Brasilia com idade entre 0 e 14 anos. 

Isso é bom e é ruim: é bom porque entendemos que temos mais saúde, sobrevivemos mais – então, olhamos para nova realidade que está muito próxima: se teremos menos pessoas no Brasil, teoricamente, poderemos melhorar a oferta em educação, moradia e saúde, por exemplo. A pressão ambiental decorrente de efeitos humanos pode ser reduzida, porque, em tese, haveria menos consumo. Podemos crescer de maneira sustentável, com mais qualidade e inclusão social. 

E a parte ruim é que não estamos nos programando para criar ambientes amigáveis aos idosos nas nossas cidades, infelizmente. O que seria um guia e uma ferramenta para um futuro melhor está se perdendo em meio a preocupações presentes e ações imediatistas.  O País precisa urgentemente se preparar para isto, é o momento para melhorarmos as políticas públicas, em especial em relação ao planejamento urbano, face uma longevidade saudável.   

A velhice hoje é considerada uma etapa muito ativa da vida do indivíduo, e esse conceito depende muito da possibilidade de o idoso manter determinado grau de independência e de qualidade de vida. 

Considerando-se a cidade como “ambiente construído”, é possível comprovar que a questão urbana como um todo interfere na construção das possibilidades da velhice. Assim como alimentação, exercícios físicos ou prevenção e saúde, o meio urbano também influencia as condições de envelhecimento. É no espaço urbano que se realizam e se criam as principais práticas humanas: a ciência, a arte, a cultura, a economia e a organização social, entre outros. Desse modo, é o principal cenário para o envelhecimento: a cidade envelhece, o homem envelhece junto, e assim se constroem histórias, registros da passagem do tempo e legados coletivos e individuais. E o que é bom para o idoso, em termos de desenho urbano, é bom para toda a sociedade – crianças, jovens e adultos. 

Segundo o Guia global: a cidade amiga do idoso, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2008) os elementos a serem estudados para se concluir se uma cidade é boa ou não para o idoso são: relação entre as edificações e os espaços abertos, oferta de transporte e moradia (ambientes físicos); participação cívica e bem-estar mental (ambientes sociais e culturais); a facilidade de comunicação e informação, rede de apoio comunitário e qualidade dos serviços de saúde (ambientes de convivência e de saúde). 

Como moradora de Brasília e como interessada na qualidade do nosso espaço urbano, é inevitável pensar: como lidar, em termos de ambientes físicos, com as demandas de uma população que envelhece rapidamente? Como dar voz aos desejos desta faixa da população, cada dia mais importante, porém, não tão valorizada de maneira adequada? 

Esta vontade de ouvir a história das pessoas, o que tece a memória das cidades, as marcas, impressões e relações entre vidas e os espaços urbanos – relações mutáveis e individuais – é a parte subjetiva do planejamento urbano; a parte objetiva é a estatística, que é o que esta pesquisa do IBGE nos indica: demografia. O desafio, como em qualquer questionamento sobre o futuro, é planejar para minimizar os impactos de um tempo próximo baseado em fatores humanos e estatísticos. 

Sem dúvida, no Plano Piloto, a relação entre as edificações e os espaços abertos são muito equilibradas: muitas árvores, gramados, espaços abertos, edifícios com pouca altura. Lembrando que, essencialmente, o plano urbanístico de Brasilia é excludente: isto ocorre dentro de uma certa realidade, de uma pequena amostra de pessoas mais favorecidas, de poder aquisitivo alto e com condições de suportar o custo de vida elevado para se morar em uma área tão privilegiada. 

A oferta de moradia não pode ser medida de maneira independente; idosos são contemplados pela política pública de assistência que reserva às pessoas idosas 3% de casas e apartamentos oferecidos nos programas habitacionais.  No caso de iniciativas financiadas integralmente com dinheiro público, as pessoas idosas têm preferência em até 5% das moradias. Em se tratando desta população, porém, não se pode simplesmente oferecer casas ou apartamentos; serviços socioassistenciais tem que ser ofertados, além da previsão de itens de segurança e acessibilidade nas unidades e nas áreas comuns, e espaços que incentivem a convivência social e a prática de exercícios ao ar livre, por exemplo. 

Quanto a mobilidade, uma pesquisa do Ministério da Saúde revelou que 43% dos idosos tem medo de cair na rua devido aos defeitos nas calçadas; 36% têm medo de atravessar as ruas. Não existem hoje ações contínuas em relação a diminuição de elementos que afetam negativamente a mobilidade da pessoa idosa – como por exemplo, em termos da abordagem mais simples – maior oferta de semáforos com sinalização sonora e a elevação das plataformas de embarque/desembarque no transporte publico.

Nossa cidade sentirá o impacto dessa mudança demográfica de uma maneira bastante ampla. Os desafios são grandes e são diretamente dependentes de um contexto coletivo e comunitário.  As implicações nas redes de infraestrutura existentes e nas possibilidades e ofertas de novas moradias são enormes, e devemos pensar com antecedência nas inferências em relação a aspectos de saúde, mobilidade, segurança e de inclusão social dos idosos – e de toda nossa população. 

Fernanda Moura

Jornalista,com experiência em sociedade e gastronomia. Já atuou como reporter e hoje é coordenadora da editoria de lifestyle.

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