O desconforto com o anúncio, na quinta-feira (22) à noite, das medidas que alteram alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), embora parte delas tenha sido revertida, continuou a reverberar no mercado de câmbio local nesta sexta-feira (23). O dólar à vista operou em alta em maior parte do pregão, chegando à máxima de R$ 5,7452. Com mínima a R$ 5,6460, fechou negociado a R$ 5,6470, queda de 0,25%. A divisa termina a semana com perdas de 0,40%, com recuo acumulado em maio a 0,52%. No ano, o dólar perde 8,63%.
O economista Vladimir Caramaschi, sócio-fundador da +Ideas Consultoria Econômica, afirma que o estrago no mercado de câmbio com a questão do IOF já está feito, embora tenha sido em parte mitigado pelo recuo parcial do governo. “Não poucos agentes podem ter visto nas medidas, se corretamente ou não o tempo vai dizer, uma disposição para controlar a conta capital. O episódio vai fortalecer o argumento de que investidores brasileiros precisam pensar seriamente em reduzir seu ‘viés doméstico'”, afirma Caramaschi.
Na quinta, após o anúncio da contenção de R$ 31,3 bilhões no Orçamento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se esquivou de tratar do aumento do IOF, prometendo anunciar as medidas às 17h. Isso levou a uma deterioração dos ativos locais, com o dólar passando a subir. A equipe do ministério da Fazenda anunciou em seguida alteração nas alíquotas do IOF para seguros, crédito para empresas, cartão de crédito e débito internacional, compras de moedas em espécie, remessas ao exterior e empréstimo externo de curto prazo.
Foi anunciada incidência de imposto sobre transferências para aplicação a fundos no exterior, mas a Fazenda voltou atrás. Também houve recuo na intenção de aumentar a alíquota para remessas por pessoas físicas destinadas a investimentos. Além dos ruídos provocados pela dinâmica adotada pela Fazenda, que preferiu separar a divulgação da contenção de gastos do aumento do IOF, houve desconforto com o fato de o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, não ter sido informado previamente.
Bolsa se recupera ao longo do dia
O Ibovespa se firmou no campo positivo à tarde, na contramão do ajuste de Nova York, onde voltaram a prevalecer temores em relação a iniciativas tarifárias de Donald Trump em relação à União Europeia. Após recuo parcial da equipe econômica em relação ao IOF, o índice conseguiu subir 0,40%, aos 137.824,29 pontos, na máxima do dia no fechamento, com giro a R$ 20,9 bilhões. Na semana, caiu 0,98%, no seu primeiro revés desde o começo de abril, tendo acumulado ganhos sem quebras no intervalo iniciado de seis semanas consecutivas.
Por conta das decisões norte-americanas, as bolsas da Europa fecharam em forte queda, pressionadas pela escalada nas tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia. O movimento veio após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendar a imposição de uma tarifa fixa de 50% sobre produtos europeus a partir de 1º de junho.
Por aqui, as ações dos grandes bancos reagiram, à exceção de Banco do Brasil (ON -2,51%, na mínima do dia no fechamento). Por outro lado, o principal papel do setor, Itaú PN (+1,21%), e Santander (Unit +0,84%) fecharam o dia nas respectivas máximas da sessão, com Bradesco também mostrando bom desempenho na ON (+0,82%) e na PN (+1,23%). O fechamento foi positivo também para Vale (ON +0,17%) e Petrobras (ON +0,15%; PN +0,22%, na máxima do dia no encerramento). Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, Braskem (+9,15%), Raízen (+7,00%) e Direcional (+4,53%). No lado oposto, Azzas (-6,07%), Magazine Luiza (-4,96%) e Vamos (-3,06%).