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Doação de órgãos: saiba como funciona esse processo

O ato de solidariedade que salva milhares de vidas pode ser feito por doador vivo ou falecido

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O Brasil é o segundo maior transplantador de órgãos do mundo. Segundo dados do Ministério Saúde, mesmo em 2021 e 2022, quando a pandemia de Covid-19 sobrecarregou o sistema de saúde público e privado, foram feitos 45,5 mil procedimentos deste tipo no País, salvando milhares de vidas. 

 

Em agosto, o tema ganhou força na imprensa após o apresentador Faustão receber um coração para tratamento da insuficiência cardíaca. Agora, com a chegada do Setembro Verde, campanha nacional que alerta para a importância da doação de órgãos e tecidos, o médico nefrologista e coordenador do Programa de Transplantes do Hospital Santa Lúcia, Elber Rocha, explica o passo a passo de como funciona esse processo.

 

“Antes de tudo, é importante que as pessoas saibam que a doação de órgãos é um ato de solidariedade que pode melhorar a qualidade de vida de um paciente e, até mesmo, muitas vezes vai salvar a vida dele”, disse o médico.

 

Segundo ele, é importante esclarecer que existem dois tipos de doadores. O primeiro tipo é o vivo, que é uma pessoa que concorda em realizar a doação de um dos seus rins, medula óssea e ou parte do fígado, que tem a capacidade de regenerar-se. Muitas vezes, a própria família faz a doação. No caso da medula óssea, é possível fazer um cadastro para se tornar candidato ao ato em um dos hemocentros do País, facilitando a identificação de possíveis doadores compatíveis. 

 

Em casos que envolvem órgãos vitais, como o coração, ou aqueles em que sua ausência prejudicaria alguma função do concessor, a exemplo da córnea, o transplante só pode ser feito por doador falecido. Nesses casos, o diagnóstico da morte encefálica ou por parada cardíaca é confirmado por uma equipe técnica, baseada em exames. A doação por pessoa falecida é totalmente segura. No caso de morte encefálica, o paciente é avaliado por vários médicos, sendo que é necessária a realização de exames obrigatórios para constatar a morte do cérebro. 

 

“Entre os exames realizados para constatação da morte encefálica estão eletroencefalograma ou doppler transcraniano, arteriografia e angiografia. Além disso, são feitos vários exames laboratoriais e sorologias para excluir doenças de infectocontagiosas para garantir a qualidade do órgão e a manutenção da saúde do receptor”, explicou Elber Rocha.

 

Após o diagnóstico, a família é informada do resultado por uma equipe capacitada e é consultada sobre o interesse em ajudar outros indivíduos. No caso do doador falecido, após a autorização da família, a captação é realizada em um centro cirúrgico e os receptores que aguardam em uma lista única são avisados dos órgãos disponibilizados, conforme classificação da Central Nacional de Transplantes.

 

“Existem alguns critérios para disponibilizar os órgãos. O primeiro deles é a gravidade, que é quando algumas condições clínicas acabam colocando aquele indivíduo em prioridade de espera. Então, por exemplo, um doente renal crônico que não está conseguindo fazer a hemodiálise por estar evoluindo para uma quadro de falência de acesso vascular devido ao risco imediato de vida, ele pode ser listado em prioridade de zero e, mesmo não tendo muito tempo na lista de espera, entrar em prioridade”, explicou.

 

Segundo eles, essas situações de prioridade são mais frequentes nos transplantes de pulmão, fígado e coração, porque são condições clínicas muitas vezes levam esses pacientes ao transplante por condições de extremas de gravidade e complexidade, em que aquele paciente não sobreviveria sem o transplante. 

 

“Naturalmente depois vem os critérios de compatibilidade, alocação e proximidade. Então, esses órgãos tendem a ser alocados e disponibilizados em regiões próximas onde eles foram captados. Tem também o critério de tempo de espera, assim, um indivíduo que tem mais tempo na lista de espera tem prioridade sobre um indivíduo que tem menos tempo”, finalizou.

 

Quando a doação é oriunda de pacientes que tiveram parada cardíaca, devido o fluxo sanguíneo reduzir de forma rápida, só é possível doar alguns órgãos que maior durabilidade, como córneas e pele. Já em caso de morte encefálica, é possível doar coração, fígado, pulmões, pâncreas, intestino, rins e vasos.