Diretora de clássico da Broadway fala de desafios para adaptar espetáculo 

Musical A Chorus Line é apresentado em São Paulo

Diretora e coreógrafa de A Chorus Line, Bárbara Guerra explica que o grande desafio foi a adaptação do espetáculo da Broadway para os dias atuais. Como trazer para a atualidade o Bronx (distrito de Nova York) dos anos 1970 e a vida dos artistas que viviam aquele momento do teatro musical? “Decidimos não nacionalizá-lo. O espaço é neutro. O espetáculo já é contemporâneo, pois a vida se repete, ela é cíclica“, explica.

O elenco, formado por 24 pessoas, varia entre atores mais novos, em torno de 20 anos, e experientes, com mais de 40. Para Bárbara, é surpreendente ver alguns colegas que ela acompanhou ao longo da carreira ocuparem, enfim, a linha de frente em um musical. De acordo com a diretora, a grande mensagem de A Chorus Line é sobre “superação”. “Não é fácil acordar todos os dias e enfrentar a vida. Por isso, acreditar em sonhos parece piegas, mas não, é muito forte. É paixão e poder de ir atrás do que se quer“, afirma.

Raul Gazolla, de 70 anos, que dá vida ao coreógrafo Zach, revive a emoção de estar envolvido novamente com a história de A Chorus Line. Ele esteve na primeira montagem brasileira, em 1983, que teve texto de Millôr Fernandes (1923-2012). Quem trouxe o musical ao Brasil pela primeira vez foi Walter Clark (1936-1997), executivo que deu régua e compasso para formatar a grande de programação da TV Globo nos anos 1960.

Ao lado de Gazolla, lá em 1983, estiveram nomes como Claudia Raia, Guilherme Leme, Totia Meireles, J.C. Viola, Eduardo Martini, Kátia Bronstein, Regina Restelli, Teca Pereira, Alonso Barros, entre outros. O diretor e coreógrafo norte-americano Roy Smith comandou a montagem na época.

Foi difícil, ele queria que uma atriz dissesse ‘obrigada’ com a mesma prosódia com a qual os gringos falavam ‘thank you’. Era impossível, não encaixava“, lembra Gazolla. “Começamos nossa carreira profissional a partir de Chorus Line. Claudia ficou famosíssima, eu conquistei certa fama”, diz.

Aos 70 anos, Gazolla brinca ao ser questionado sobre qual tipo de preparação teve de fazer para voltar ao musical, mais de 40 anos depois da primeira montagem. “Fiz uma infiltração no quadril. Muito uso, né? Faço muito esporte“, explica o ator, que não deve dançar em cena, apesar da insistência da diretora. “Eu queria muito no elenco alguém que tivesse feito a primeira montagem. O Raul é a âncora dessa nova produção“, elogia Bárbara Guerra.

Gazolla também ressalta o propósito do espetáculo. “É muito interessante mostrar que cada personagem tem seus problemas pessoais e profissionais, assim como todos os atores e bailarinos do elenco. Se você colocar isso na vida normal, o mesmo vale para um executivo, por exemplo. Problemas todos temos, precisamos só achar as soluções“, diz.

O ator, no entanto, concorda que a maneira de lidar com o sucesso na carreira mudou ao longo dos 40 anos que separam a primeira e a atual versão brasileira do espetáculo. “No passado, não queríamos fama. Queríamos trabalhar. Hoje, e não acho que seja o caso desse elenco, as pessoas querem apenas ser famosas. E o que é isso? Para que você quer a fama? O que você tem para oferecer para a sociedade?“, questiona.

Original

A estreia de A Chorus Line ocorreu em um teatro off-Broadway no dia 15 de abril de 1975. Sem dinheiro, os produtores fizeram um empréstimo de US$ 1,6 milhão para bancar o espetáculo. O sucesso, no entanto, veio rápido: em julho do mesmo ano, a montagem passou a ocupar o Schubert Theater, na Broadway. Entre 1975 e 1990, foram realizadas 6.137 récitas do espetáculo. Em 1976, A Chorus Line foi um dos poucos musicais a receber o Prêmio Pulitzer de teatro. Em 2006, a peça ganhou um revival na Broadwway.

Filme

Em 1985, o ator e diretor Richard Attenborough levou ao cinema A Chorus Line, em uma produção estrelada por Michael Douglas e Terrence Mann e com a música de Marvin Hamlisch e Edward Kleban. A princípio, o diretor do musical, Michael Bennett, participaria como produtor, mas deixou o projeto quando não teve atendida uma reivindicação: ele queria que o filme não fosse a recriação cinematográfica do musical mas, sim, uma história sobre artistas fazendo a audição para participar de um filme. A recepção ao longa foi fria, e comparações foram feitas com a bem-sucedida adaptação de outro musical, Hair, assinada por Milos Forman, em 1979.

Produção brasileira

A Chorus Line foi encenada no Brasil em 1983, traduzida por Millôr Fernandes e produzida por Walter Clark. No elenco, estavam jovens artistas que mais tarde desenvolveriam grandes carreiras, como Raul Gazolla, Claudia Raia, Marcia Albuquerque, Regina Restelli, Thales Pan Chacon, Eduardo Martini, Teca Pereira e Guilherme Leme. O espetáculo teve temporadas em São Paulo e no Rio.

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