A Dior escolheu Roma como palco para apresentar sua coleção cruise 2026, desfilada na última terça-feira (27), nos jardins históricos da Villa Albani Torlonia. O cenário não poderia ser mais simbólico: é a primeira vez que a maison realiza um desfile na capital italiana sob a direção criativa de Maria Grazia Chiuri — que nasceu e cresceu na cidade — e, ao mesmo tempo, pode ter sido sua despedida do cargo, segundo rumores do setor.
“Essa coleção é uma síntese autobiográfica de um momento no tempo”, declarou a maison em nota oficial. Chiuri mergulhou em referências íntimas e culturais para criar uma coleção que é tanto um tributo à história da moda quanto uma carta de amor à sua Roma natal. A figura central da narrativa foi Mimì Pecci Blunt, socialite e mecenas das artes, que marcou a vida cultural de Roma, Paris e Nova York no século XX. Inspirada nos bailes exuberantes que Mimì organizava, Chiuri criou uma espécie de “Bal de l’Imagination”, onde o figurino vira disfarce e libertação.
Com 80 looks apresentados, a coleção transitou entre alta-costura e ready-to-wear, mesclando elementos históricos da moda com uma leitura contemporânea e sensível. O branco foi a cor dominante da narrativa visual, com presenças marcantes de tons como bege, rosa bebê, dourado, verde, preto e vinho. Alfaiataria refinada, vestidos longos com renda delicada, transparências, bordados, florais, babados e cristais se alternavam em construções que evocavam tanto o passado quanto o presente.
As silhuetas ora marcavam o corpo, ora se expandiam em volumes dramáticos, como mangas bufantes, assimetrias e saias amplas. Veludo, tule, pele (fake), plumas e penas traziam riqueza de texturas, enquanto capuzes, terninhos e até toques utilitários apareciam para subverter o romantismo com funcionalidade.
Houve ainda homenagens discretas às Fontana Sisters — célebres costureiras romanas — com vestidos curtos de veludo preto e vermelho, como os usados por Anita Ekberg em La Dolce Vita. Casacos militares com botões e acabamentos pretos, trench coats e vestidos com referência religiosa completaram a atmosfera atemporal.
Mais do que um desfile, a Dior propôs uma experiência sensorial onde memória, ficção e estética se entrelaçaram em um exercício de “realismo mágico”. A estilista, que sempre trouxe discursos femininos à frente de seu trabalho na Dior, parece ter usado essa coleção como um ato final — ou um recomeço —, em que seu olhar poético se funde com a alma histórica de sua cidade.
Se a coleção cruise 2026 for, de fato, o último capítulo de Chiuri na maison, ela sai assinando uma de suas narrativas mais pessoais e potentes.