O lipedema é uma doença que provoca dor e sensibilidade ao toque, facilita a formação de hematomas e dificulta a perda de gordura. Porém, a alimentação pode ser uma forte aliada no manejo dos sintomas, visto que a condição ainda não tem cura.
O nutrólogo Felipe Xavier sugere a adoção da dieta mediterrânea para aqueles que forem diagnosticados com lipedema, pois é rica em diferentes nutrientes e possui benefícios anti-inflamatórios. Geralmente, inclui frutas, verduras, legumes, grãos integrais, leguminosas e azeite de oliva extra virgem.
“Esses alimentos são ricos em fibras, antioxidantes e polifenóis, que ajudam a controlar a inflamação e favorecem a saúde vascular e linfática”, detalha. Entre os nutrientes que merecem destaque estão os ácidos graxos ômega-3, os polifenóis, as fibras, o potássio, o magnésio e as proteínas magras. “Esses elementos auxiliam na redução da inflamação, no equilíbrio da retenção de líquidos e na preservação da massa muscular, aspectos fundamentais para o manejo da doença”, revela.
Além do padrão mediterrâneo, outras estratégias podem ser consideradas, como dietas de baixo carboidrato ou cetogênicas bem estruturadas. “Essas abordagens, quando adequadas ao perfil do paciente e supervisionadas por um profissional, podem contribuir para melhor controle glicêmico, redução de inflamação e melhora dos sintomas”, afirma.
Xavier explica que o lipedema é uma condição marcada por inflamação crônica de baixo grau e alterações estruturais no tecido adiposo, incluindo aumento de fibrose e retenção anormal de sódio na pele e na gordura subcutânea. Esse acúmulo de sódio está associado a um maior volume de gordura local, sensação de inchaço e desconforto.
“Quando a dieta é rica em açúcares simples e carboidratos refinados, ocorrem picos frequentes de glicose e insulina que estimulam o armazenamento de gordura, favorecem a retenção hídrica e intensificam processos inflamatórios”, destaca. Por outro lado, padrões alimentares anti-inflamatórios, ricos em alimentos frescos e gorduras de boa qualidade, ajudam a modular a inflamação, melhorar a circulação linfática e reduzir sintomas.
O nutrólogo alerta que o principal cuidado é evitar alimentos que provoquem aumentos rápidos da glicemia, como refrigerantes, doces, pães e massas feitos com farinha branca, pois estimulam a lipogênese e pioram o quadro inflamatório. Além disso, é fundamental limitar o consumo de ultraprocessados ricos em sal, como embutidos, enlatados e salgadinhos, já que o excesso de sódio pode agravar a retenção de líquidos, “algo que já é favorecido pela própria fisiopatologia do lipedema”, observa.
Assim, gorduras trans e excesso de saturadas, presentes em frituras e fast food, devem ser evitados por elevarem marcadores inflamatórios e prejudicarem a saúde vascular. Da mesma maneira, o consumo excessivo de álcool também não é recomendado, pois interfere no metabolismo e potencializa a inflamação.
O médico ressalta, ainda, a importância de manter uma boa hidratação: “A ingestão adequada de água auxilia no funcionamento do sistema linfático, ajuda a prevenir retenção hídrica e pode reduzir a sensação de peso nas pernas”, explica. Embora a perda de peso não remova completamente o tecido característico do lipedema, manter o peso corporal em faixas adequadas ajuda a reduzir a inflamação, diminui a sobrecarga nas articulações, melhora a mobilidade e favorece a circulação, com impacto positivo na qualidade de vida.
O lipedema
A médica endocrinologista Stephanie Németh explica que o lipedema é uma doença crônica e progressiva, caracterizada pelo acúmulo anormal e simétrico de gordura, principalmente nas pernas, quadris e, em alguns casos, nos braços, poupando pés e mãos.
Apesar de a causa exata ainda não ser totalmente conhecida, estudos mostram que o lipedema envolve uma combinação de fatores genéticos, hormonais e vasculares. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, o lipedema ainda é comumente subdiagnosticado e frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o que atrasa o tratamento.
Os sinais incluem aumento simétrico bilateral de membros inferiores, sinal do “garrote” (pés não são afetados), dor nas áreas afetadas, dor à palpação, história familiar positiva e sofrimento psicossocial.
Entre os principais tratamentos que ajudam a controlar sintomas, melhorar a mobilidade e prevenir complicações, estão:
- Medidas conservadoras: drenagem linfática manual, uso de meias de compressão, exercícios de baixo impacto (como caminhada, natação ou pilates), cuidados com a pele e controle do peso para evitar sobrecarga nas articulações;
- Cirurgia (lipoaspiração específica para lipedema): indicada em alguns casos para diminuir os sintomas e melhorar qualidade de vida. A lipoaspiração é mais efetiva nos casos iniciais de lipedema, não sendo indicada para pacientes com IMC >40;
- Mudanças no estilo de vida: alimentação equilibrada e atividade física regular ajudam na saúde geral, além de diminuir o peso e inflamação dos adipócitos.
“A maior parte das pacientes com lipedema são obesas, então, ao diminuir o peso, melhoramos a função linfática e, consequentemente, reduz o edema associado”, explica a médica. Ela conta, ainda, que a doença pode afetar 10–11% das mulheres no mundo, sendo raros os casos em homens.
“O lipedema afeta quase exclusivamente mulheres e costuma surgir ou piorar em períodos de alterações hormonais, como puberdade, gravidez ou menopausa. Casos em homens são raros e geralmente associados a alterações hormonais importantes, como baixa testosterona e aumento de estrogênio”, detalha. Por fim, ela destaca que, embora possa começar em diferentes idades, é mais comum o início na adolescência ou no início da vida adulta.