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Dia do Cinema Brasileiro: reflexões sobre a valorização das produções nacionais

GPS|Brasília conversou com profissionais da área, que compartilharam suas visões sobre o novo momento

O cinema nacional vive um momento de valorização e protagonismo, e não é por acaso. Em 2024, o Brasil registrou o maior número de salas de cinema desde antes da pandemia, com mais de 3.500 espaços ativos. A mudança reflete não só a expansão da infraestrutura, mas também o reencontro do público com as telonas. De acordo com o Ministério da Cultura, cerca de 121 milhões de pessoas foram aos cinemas no último ano, quase o dobro do ano anterior, com público para produções brasileiras crescendo de 3% para 10% da bilheteria. 

Esses números não se sustentam apenas por blockbusters internacionais: o premiado Ainda Estou Aqui (2024), de Walter Salles, levou quase três milhões de espectadores às salas e impulsionou o interesse pelas produções nacionais. Em 2025, esse movimento se consolidou: nos primeiros meses, filmes nacionais já representaram 30% das vendas da Ingresso.com, segundo dados da própria plataforma.

É muito bom ver o cinema brasileiro brilhando novamente, um orgulho”, celebra o ator brasiliense Bernardo Felinto. “O cinema nacional é realmente muito bem feito, muito bem cuidado e com ótimos profissionais inseridos”, observa. 

Em conversa com o GPS|Brasília, ele destaca o peso dos reconhecimentos internacionais para filmes como Ainda Estou Aqui, que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e O Agente Secreto (2025), que venceu em Cannes nas categorias Melhor Ator (Wagner Moura) e Melhor Diretor (Kléber Mendonça Filho). 

Creio que esses prêmios recolocam o Brasil no radar mundial, como uma potência cinematográfica. Uma vitória para a cultura brasileira e, certamente, uma porta que se abre para o mercado internacional, para artistas e produtoras de audiovisual. Torço para que continuemos produzindo e crescendo, temos tudo para não sairmos mais do topo”, acredita.

Felinto, que já participou de produções como Letícia (2024), Minha Mãe É Uma Peça 3 (2019), O Candidato Honesto (2014), entre outras, ressalta a potência de Brasília como um local fértil para o cinema nacional. “A nossa cidade tem um material muito fértil pro cinema, além do eixo Rio-SP. Creio que se tivéssemos ainda mais políticas públicas como a Lei Rouanet, Lei Aldir Blanc e Lei Paulo Gustavo, iríamos avançar ainda mais nesse sentido”, destaca.

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Bernardo Felinto

Assim também pensa o diretor de produção cinematográfica Fernando Toledo, que trabalhou em obras como Somos Tão Jovens (2013), Minha Irmã e Eu (2023) e Ainda Estou Aqui. Para ele, Brasília vem se consolidando como um polo importante de produção no Brasil, que atrai os olhares de diversas regiões brasileiras e do mundo. “Temos estrutura, profissionais qualificados e uma diversidade de locações únicas, que atraem tanto o cinema quanto a publicidade”, afirma.

E muito disso se dá pelo crescimento dos investimentos, das políticas públicas e do próprio mercado audiovisual. “Estamos numa era de supervalorização da imagem: o mundo inteiro consome conteúdo audiovisual o tempo todo, em todas as telas – do celular ao cinema. Isso trouxe mais acesso ao público e, ao mesmo tempo, mais oportunidades pra quem produz”, observa Toledo. “Antes, o cinema era uma experiência que acontecia quase exclusivamente dentro da sala escura. Hoje, ele está ao alcance de qualquer um, a qualquer hora. Isso muda tudo. E, sem dúvida, ajuda a promover ainda mais o nosso cinema nacional”, aponta.

Ele relembra que, nas últimas décadas, o cinema brasileiro passou por altos e baixos, enfrentando mudanças nas políticas culturais, mas também presenteando o público com obras icônicas como Central do Brasil (1998), Cidade de Deus (2002), Que Horas Ela Volta? (2015, Bacurau (2019), Pureza (2019), e tantas outras.

Acho que os brasileiros, e também o público de fora, aprenderam a gostar do cinema nacional. E talvez o termo mais justo seja esse mesmo: ‘aprenderam a gostar’, porque, durante muito tempo, era comum ouvir aquela frase automática: ‘Ah, cinema brasileiro, não gosto’… Uma resistência quase cultural que, aos poucos, foi sendo quebrada”, reflete. Então, eu acho que hoje já não dá mais para creditar a um só  filme essa nova ‘retomada do cinema nacional’. O gosto pelo cinema brasileiro vem sendo construído produção após produção, com diferentes estilos, gêneros e temáticas, que vão conquistando o público aos poucos”, conclui.

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Fernando Toledo

Também é importante destacar, segundo o cineasta Péterson Paim, que a indústria audiovisual brasileira é bancada, em grande parte, por programas e editais derivados do fundo da Agência Nacional de Cinema (Ancine), que, por sua vez, é fruto de impostos da arrecadação do próprio setor, a chamada Taxa Condecine, gerada por salas de exibição e também pelas telefônicas, que tanto têm crescido com os produtos audiovisuais e gerado venda de equipamentos e de pacote de dados.

Há, ainda, incentivos estaduais e distritais, como o Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), que é muito importante para a arte na capital federal. Mesmo com orçamento reduzido em relação à média global, o FAC tem ajudado a revelar muitos realizadores de cinema”, relata Paim.

Em sua visão, para que o cinema nacional cresça e consiga atender suas demandas, é necessário a criação de polos de cinema, com parcerias entre empresas e cineastas, além dos programas governamentais de incentivo. “Os recursos para a produção de um filme são capazes de movimentar a economia e gerar emprego para além da área audiovisual, como também da alimentação, transporte, hotelaria, música, artesanato e tantos outros setores comerciais e culturais. E, no fim, é gerado um produto permanente, não é apenas um evento”, explica.

Uma pesquisa divulgada pela Folha de S. Paulo em maio de 2022 revela que cada real investido pela prefeitura de São Paulo na produção de filmes ou séries rodados na cidade gera outros R$ 20 para a economia local. Ao ampliar para o cenário nacional, o retorno aos cofres públicos é de R$ 15 em impostos para cada real aplicado a partir de leis de incentivo e fundo de apoio ao setor. “O poder do audiovisual é muito grande. Cultura, portanto, não é gasto; é investimento. Viva o cinema brasileiro!”, celebra.

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Péterson Paim

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